No esporte mais conservador, eu sou Maria, com certeza!

José Eduardo

Nesta data tão importante, em que o casamento gay foi aprovado em todos os Estados Unidos da América, não podia deixar de lado toda a homofobia intrínseca a esse futebol retrógrado, conservador e pouco evoluído.

Enquanto em um país dito conservador, como são os EUA, a luta contra a homofobia ganha força, no futebol, ainda vivemos com uma cultura ridícula, para não dizer alguns palavrões.

A começar por nenhum jogador de futebol ser assumidamente homossexual. Richarlyson, ex-jogador do São Paulo e Atlético-MG, é constantemente insultado por uma orientação sexual que ele mesmo nega. Por ter “jeito” de “bicha”, Ricky – tricampeão brasileiro, campeão da Libertadores e do Mundial e com passagens pela Seleção Brasileira – é enquadrado em uma condição abaixo da sua qualidade.

A TV adora. O programa Pânico já fez diversos quadros com o jogador para fazê-lo beijar mulheres. Ter de provar sua heterossexualidade. Outros programas também abordam o tema de forma até sensacionalista.

E a torcida também rejeita o jogador. Quando Richarlyson saiu do São Paulo para ir para o Galo, a rejeição foi imensa, justamente por essa aparente orientação sexual, mesmo que não procedente.

Enquanto isso, nas arquibancadas, o que interessa é ser mais homem, heteronormativo. O São Paulino, soberano nos anos 2000 no estado, virou Bambi. Por falta de argumentos dentro de campo, o tricolor foi “atacado” com “insultos homossexuais”. Como se ser gay fosse rebaixamento. Mas a torcida do São Paulo comprou o pseudoinsulto e não aceita ser chamada de Bambi. Não quer ser tachada de gay.

O mesmo acontece em Minas. O Cruzeiro dominava o estado, enquanto o Atlético-MG vivia seu maior período de seca de títulos. A saída: chamar os cruzeirenses de Maria. Uma dupla “ofensa”: ser mulher e homossexual. Afeminado. E, obviamente, a torcida conservadora celeste comprou a briga. E revidou chamando os atleticanos de Frangas. Não bastasse a supremacia em títulos, o cruzeirense queria se mostrar superior, mostrando sua masculinidade.

Esta é a realidade do futebol brasileiro. Retrógrado. Onde ninguém assiste a futebol feminino, onde o gay não é aceito, onde o objetivo é ser másculo.

E, infelizmente, as provocações se tornaram comuns em torno da homossexualidade. Fui instruído desde pequeno a gritar em alto e bom som “CACHORRADA FILHA DA PUTA, CHUPA ROLA E DÁ O CU”, como se isso fosse o maior insulto do mundo. Como se, em boníssimo português, chupar uma rola fosse demérito a alguém. E se lambuzar de vagina fosse um troféu.

Hoje, com 22 anos, reflito sobre a minha posição no futebol. E a condição de Maria me parece confortável. Sou Maria. Maria mãe de família, trabalhadora e guerreira. Maria, transexual, estudante e que apanha no metrô. Maria, homossexual que não pode se assumir por medo de perder o emprego. Sou Maria, quero ser Maria, e apoio todas as Marias.

*Este texto foi produzido em alusão à página do Facebook Bambi Tricolor, que assumiu o lado positivo de ser conhecido como Bambi. De batalhar contra o preconceito no futebol.

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