Subindo A Linha

Uma experiência de campo

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Vinicius Prado Januzzi

Aviso ao/à leitor/a Esse é um texto que pode parecer atrasado. Não é. O Corinthians, nesse meio tempo, já venceu mais uma. O que digo abaixo não contradiz nada o que ocorreu depois com o time e com o resto do mundo.

Torcedores corinthianos durante a partida (Foto: Célio Messias/ LANCE!Press)

Prólogo
Domingo é dia de jogo. Acima de tudo, de jogo no estádio. Quando se mora longe da casa de seu time e ele vem para perto de você, então, é questão de obrigação estar lá, apoiando, torcendo, xingando e gritando. E assim foi no domingo duas semanas atrás (05/08).

O cenário
Goiás x Corinthians, no Estádio Serra Dourada, em Goiânia, em jogo válido pela 11ª rodada do Brasileirão. Pouco mais de 9 mil pagantes, em sua maioria corinthianos, com ingressos valendo na média 50 reais a inteira.

O roteiro
Quando o Corinthians joga longe do Itaquerão, não se espera muito. A expectativa é de uma partida morna, “tática” como diriam alguns comentaristas, sem muito brilho e com chances mínimas de gol, para ambos os lados. Apesar do 0x0 e das perspectivas de antes do jogo, não foi o que vi em campo. Ambas as equipes, sim, privilegiaram suas defesas e arriscaram pouco à frente, mas da parte alvinegra, sendo alvinegro, fiquei satisfeito. O Corinthians, diante do ferrolho goianiense, postou-se bem e conseguiu algumas boas trocas de passes e triangulações. Jadson, o camisa 10, conduziu a equipe e, não fosse o cansaço ao final do segundo tempo, poderia ter contribuído com algum golzinho ou assistência. O Goiás suou a camisa e fez o que pode para segurar o adversário, jogando-se vez ou outra aos contra-ataques, sempre com muita cautela. O empate sem gols foi proporcional ao que os jogadores demonstraram em campo. Os bastidores – da arquibancada Aqui entra em cena o principal ponto que trago à discussão: a torcida.

Cena 1: Ao longo da partida, fiquei em pé todo o tempo. Sentei apenas duas vezes, quando as pernas já não me sustentavam e dava a elas um pouco de descanso merecido. Em nenhum momento, torcedores ao meu lado resolveram se levantar. Mesmo quando o Corinthians chegava próximo ao gol, o máximo que se via era um pequeno deslocamento das nádegas em relação às arquibancadas de cimento do Serra Dourada.

Cena 2: Cantos e coros, então, foram mais raros que uma música boa do Capital Inicial. Quase não se ouviu, ao longo de todo o jogo, nenhuma “puxada” mais relevante. As exceções ficaram por conta da Gaviões da Fiel e da Coringão Chopp, que não pararam um segundo sequer. O máximo de esforço empreendido pelos que estavam ao meu lado vinha de algumas vaias momentâneas em cobranças de falta do Goiás ou um tremular de mãos quando Jadson ia para a bola parada. No mais, olhares confusos para mim e meu amigo, Matheus Perez, que gritávamos como bezerros desmamados.

Cena 3: Eis que, na metade do primeiro tempo, surge o (in)esperado. Três policiais militares, dois homens e uma mulher, se aproximam de nós. Com a voz impostada, pedem para que nos sentemos. Por quê?, perguntamos. Alguém reclamou? Estamos atrapalhando alguém? Somente pedimos para que os senhores se sentem, disse o mais velho deles. Novamente questionamos: mas por que precisamos sentar? São determinações, senhores, por mim vocês poderiam ficar, mas peço para que se sentem. Ok, senhor, vamos nos sentar. Por dois minutos, é claro, até quando já tinham dado as costas e caminhado alguns bons metros de nós.

Cena 4: Disse a vocês que a torcida não se manifestou durante boa parte do partida. A bem da verdade foi isso mesmo. Estávamos, no entanto, sentados de frente para as cabines de TV e de Rádio. Bastava pôr os pés nos próprios calcanhares ou subir em pequena mureta ali próxima que se podiam ver todos os comentaristas e locutores responsáveis por transmitir aquela partida. Entre eles, Juliano Belletti, ex-lateral da seleção brasileira, do Barcelona, do Chelsea e do São Paulo. Por essa última filiação, o atual comentarista do SporTV logo foi chamado de bambi, viadinho, bichinha e namorado do Richarlyson. Se ao longo dos 90 minutos, grilos foram ouvidos, quando Belleti foi descoberto, Eureca!, podia-se torcer. “Belletti, viado, Belletti, viado”. O futebol, enfim, é das maiores alegrias, mas também das maiores injustiças.

Epílogo
A saída de jogo no Serra Dourada sempre promete. Brigas entre as torcidas são frequentes e a pancadaria sobra até para o último dos moicanos. Tudo caminhava bem mesmo 15 minutos após o fim da partida, quando, não mais que de repente, bombas e cavalos são acionados. Não brigavam goianienses e corinthianos, mas corinthianos, a Polícia Militar e a Tropa de Choque. Não me interessam as notícias nem as notas oficiais sobre o ocorrido. Em questão de segundos, senhores e senhoras fardados partiram para cima dos torcedores e torcedoras, cercando-os. Nos seus olhos, de ambos, não se sabia muito o que fazer dali em diante: por que bato, por que apanho, quando isso acaba, que horas posso voltar para casa? Ao lado, ouvia-se: acabem com esses vagabundos, manda mesmo pra cadeia, é isso mesmo, aprontou, tem que apanhar. Triste ou não, não sabia para quem aquilo estava sendo falado.

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