Velhos fantasmas: a derrocada corinthiana na Libertadores 2015

Pedro Abelin

Em 2011, o Corinthians foi campeão Brasileiro. Em 2012, na temporada mais gloriosa da história do clube, campeão da Libertadores e bi campeão Mundial. Sim, o período recente não é coerente com a alcunha de sofredor que os corinthianos reivindicam com tanto orgulho. Por isso, devido ao recente histórico vencedor, o “novo torcedor corinthiano” se acostumou a levantar taças e acreditou que determinados fantasmas já estariam exorcizados. Não foi o que se viu na noite de ontem.

A eliminação para o Guaraní do Paraguai pode ser explicada por diversos fatores, como a soberba, a afobação e o descontrole emocional. Contudo, os problemas do Corinthians são muito mais antigos e ficaram explícitos ontem: a equipe corinthiana tem extrema dificuldade de atacar – principalmente equipes retrancadas – e reverter placares desfavoráveis. E foi justamente com o discurso de fazer o time do Corinthians jogar de forma ofensiva que o técnico Tite foi contratado, afinal, o treinador havia realizado um ano de aperfeiçoamentos técnico, fazendo com que seu retorno ganhasse ares de sebastianismo e fosse comemorado antes mesmo de o time entrar em campo.

No início da temporada, a equipe corinthiana impressionou com um futebol intenso, com triangulações e infiltrações que relembravam o time campeão de 2012. O time merecidamente recebeu elogios, embora alguns setores da imprensa tenham mostrado uma empolgação desmedida. Para se ter ideia, o comentarista da Globo, Casagrande, ídolo do próprio time alvinegro, comparou o Corinthians com a Holanda de Cruijff e com a seleção brasileira de 1982.

O ano sabático parecia estar gerando resultados, pois Tite implantou um novo esquema 4 – 1 – 4 – 1, com ampla movimentação e infiltração dos meio campistas, e constantemente acionando a passagem dos laterais. As boas atuações de Elias e Fagner, e principalmente, a ofensividade que o time impunha, representavam o sucesso de um reformulado esquema que permitiu ao esquadrão alvinegro fazer a melhor campanha do Campeonato Paulista e se classificar com facilidade no grupo considerado mais difícil da Copa Libertadores.Nem tudo eram flores, no entanto.

Voltando ao jogo de ontem, a equipe corinthiana mostrou justamente o contrário: extrema dificuldade de infiltração na área paraguaia, sendo obrigado a se apoiar excessivamente nas fracassadas investidas dos laterais. Essa situação se deve ao fato de o Corinthians ter se tornado um time facilmente decifrável, problema que o próprio Tite viveu em 2011 e 2013 pelo próprio Corinthians. Ou seja, os adversários entenderam que pressionar a saída de bola dos laterais corinthianos e se atentar a infiltração de Elias minavam a criação da equipe do Corinthians.

Nesse contexto, o Guaraní cumpriu sua missão perfeitamente ao se portar de maneira serena e não dar espaços para o nervoso time corinthiano jogar. Aliado a isso, uma péssima noite de Guerrero e um time emocionalmente desequilibrado praticamente tornavam impossíveis a classificação corinthiana. Convém ainda lembrar que o Corinthians entrou pressionado porque fez uma partida horrorosa no Paraguai, onde se recusou a jogar e aceitou passivamente o jogo do Guaraní. A soberba ficou evidente quando foi definido o confronto entre os dois times, resultando em comemorações por parte da mídia esportiva e torcedores corinthianos, que já vislumbravam as quartas de finais e ignoravam completamente o time paraguaio.

O Club Guaraní, desconhecido no Brasil, venceu o Corinthians de forma incontestável, levando a loucura seus mais de 300 torcedores que marcaram presença na Arena Corinthians. A história em que gigantes são derrubados por times de menor expressão é recorrentena Copa Libertadores da América, concedendo um ar de imprevisibilidade que torna esta a competição mais apaixonante e mítica do planeta. Até o final dessa edição, outros times considerados favoritos irão cair, e a competição, mesmo que tenha um nível técnico questionado por muitos, seguirá sendo a mais pretendida pela América Latina.

A Libertadores já proporcionou momentos traumáticos para a fiel torcida. Entretanto, as duplas eliminações para Palmeiras e River Plate, e a vergonhosa eliminação para o Tolima aparentavam ter sido ofuscadas pelo histórico título de 2012. O Corinthians, que em determinado momento acreditou que havia expurgado os fantasmas da competição, hoje parece ter retornado aos tempos daquela obsessiva e conflituosa relação com a Taça Libertadores.

Tags:

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logotipo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Google

Você está comentando utilizando sua conta Google. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

%d blogueiros gostam disto: