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Nova eterna promessa

Por Lucas de Moraes

Certo dia, fui procurar notícias em um portal. Fui dar uma olhada na parte de esportes. Até aí, tudo normal. Falavam sobre os confrontos no campeonato nacional, disputas nos campeonatos europeus, um pouco de UFC, entre outros assuntos. Até aí, tudo normal. Até que vejo uma notícia falando de um drible de um goleiro alemão. A manchete? ““Novo Neuer” dá caneta humilhante”. Paro e penso que já vi várias notícias falando de algum novo Cristiano Ronaldo, ou algum novo Messi, ou quem sabe um novo Ronaldinho Gaúcho.

 

A pressão colocada nessas promessas pela mídia e pelo próprio meio futebolístico (clubes, jogadores, torcedores, entre outros) é exagerada. Características boas desses jovens jogadores são exacerbadas para compará-los com grandes nomes da história do futebol mundial. Um exemplo de jovem jogador muito pressionado por seu futebol mostrado que me veio à cabeça agora foi o norueguês Martin Odegaard de 16 anos. Foi contratado pelo Real no começo deste ano e teve pouquíssimo espaço no elenco principal. Sua formação na categoria de base era indispensável, mas, pelo jeito, o menino não jogará mais por times juniores. Mesmo que seu futebol (algo que não acredito) permita participar de equipes da categoria principal, a maturidade decorrente desse processo é fundamental.

 

Quando virmos jogadores juniores e juvenis jogando, esqueçamos os grandes jogadores que vimos jogar. Para o bem do futebol, não os comparemos com jogadores já consagrados, pois não queremos ver mais histórias como a do Jean Chera, Lulinha, Freddy Adu, Defederico, Drenthe, Kerlon, Ben Arfa, Aquilani, Lenny, Keirrison, Tiago Luís, Morais, Renan Oliveira, Ciro e muitos outros que não corresponderam à expectativa criada.

Florentino Perez, pare de jogar FIFA

André Watanabe

Os torcedores do Real Madrid dão a Florentino Perez, Presidente do clube, muitos méritos na formação de times históricos dos merengues: a política agressiva de contratações traz um nome “galático” a cada início de temporada.

A cada anúncio de contratação, novos recordes são quebrados com valores estratosféricos. E quem mais vibra com isso é o jogador de videogame. Sim. É isso mesmo. Esclareço: nos jogos de futebol – o mais popular deles, o FIFA – quanto mais “estrelas” no time, melhor seu desempenho. Afinal, no jogo, há apenas dois cérebros pensando: o jogador e a inteligência artificial. Os futebolistas são mero aparato técnico. Para montar um time campeão no FIFA, basta contratar os melhores jogadores, independente de sua história, ligações com o clube, experiência ou distribuição tática. Era comum, em jogos mais antigos, contratar o Roberto Carlos – dono de chutes potentes e grande velocidade – para jogar de atacante.

Porém, o futebol – o de verdade – é um jogo coletivo e complexo. Há 22 cérebros diferentes lendo o jogo e tomando decisões em campo simultaneamente, além dos outros fatores primordiais ao futebol: ligação emocional com o clube, decisões dos técnicos e auxiliares, pressão da torcida e condição física dos jogadores, entre muitos outros. E nesse complexo emaranhado de forças, temos que entender que para 11 cérebros estarem alinhados e pensando coletiva e simultaneamente é necessário tempo e prática.

Ou seja, não adianta colocar 11 craques em campo e achar que o jogo está ganho. No “futebol moderno”, que nega espaços, a eficiência coletiva se sobrepõe (majoritariamente) ao talento individual. Por isso, o sucesso de um time começa muito antes do primeiro troféu ser levantado.

E isso é algo que Florentino não entende: para ele, um ano sem títulos é um ano perdido. Logo, alguém deve “cair”. De 2000 a 2006, foram 6 técnicos, sendo que apenas o lendário Vicente Del Bosque durou mais de uma temporada. Até Luxemburgo teve vez no comando da equipe.

Nesse segundo mandato, o presidente parecia ter aprendido a lição, quando manteve José Mourinho por três temporadas, apesar e ter conquistado apenas uma LaLiga e uma Copa do Rei. Em seguida, veio Carlo Ancelotti, italiano multicampeão com o incrível AC Milan dos anos 2000.

Em sua primeira temporada, Ancelotti conquistou a grande obsessão do Real Madrid nos últimos 10 anos: o décimo título da Champions League (“La Décima”), em 2013/2014. O time tinha a mesma base que o de Mourinho, porém com uma orientação tática mais ofensiva e fluida.

Após a conquista, veio a Copa do Mundo do Brasil. James Rodrígues jogou tudo e mais um pouco pela Colômbia e, claro, atraiu os olhares de Florentino Perez. O dirigente então comprou o jogador por 80 Milhões de Euros. Mas o que saiu mais caro foi a saída de Di Maria, necessária para dar lugar no time ao colombiano. Vendido ao Manchester United por 75 Milhões de Euros, Di Maria tinha sido o jogador mais importante do Real na conquista da Champions, pois foi ele que Ancelotti elegeu para ser o catalisador do time: sua velocidade e controle de bola ditavam o ritmo dos contra-ataques e sua recuperação explosiva, dedicação e ímpeto recompunham a defesa com muita eficiência. Na minha opinião, foi o verdadeiro Bola de Ouro de 2014.

A Ancelotti, restou adaptar seu time à perda do seu jogador-chave e à chegada de James. No início, deu certo: avassalador, o Real Madrid chegou perto de quebrar o recorde mundial de vitórias consecutivas. O time estava jogando tudo. Porém, tudo mudou quando as lesões começaram a aparecer e mostraram a fragilidade de um elenco limitado por suas estrelas: com a baixa de Sergio Ramos, coordenador da defesa, e Modric, fundamental na recomposição defensiva e na distribuição de jogo, não havia jogadores suficientemente colaborativos no ataque que pudessem ajudar na marcação. Resultado: Cristiano Ronaldo tornou-se cada vez mais egoísta para manter suas estatísticas, Bale passou a ter mais incumbências defensivas e caiu bruscamente de rendimento, Toni Kross ficou sobrecarregado no meio-campo e o time começou a perder. Ao final da temporada, nenhum título. Com Di Maria, acredito que o Real Madrid conseguiria manter-se ainda muito mais competitivo e, possivelmente, teria sido campeão espanhol.

Sem nenhuma cerimônia, Carlo Ancelotti – que há um ano provara sua competência – virou bode expiatório e foi demitido. Para seu lugar, Rafa Benítez, treinador com retrospecto pra lá de duvidoso na última década. Uma decisão chocante para o mundo do futebol e comemorada pelos adversários. Agora, cabe ao novo técnico desenvolver dentro do clube – e rápido – um novo padrão tático, metodologia de treinamento, intimidade com o elenco, etc.

Florentino – um dirigente europeu com cérebro de brasileiro – parece não entender o mais importante em um time de futebol: o fator humano. Um jogador precisa de tempo para se adaptar ao clube, aos companheiros, aos métodos e táticas do técnico e até mesmo à torcida e à cidade onde vai viver. Políticas imediatistas e ausência de planejamento de longo prazo são sentenças de morte para qualquer clube. Um time vencedor se constrói ao longo de anos, não meses.

O exemplo está ao lado: o Barcelona alcança hoje um sucesso construído em mais de 40 anos! Então, para o bem do Real Madrid – o maior clube do Século XX –, é melhor seu Presidente desligar o FIFA e começar a viver o mundo real.

HISTÓRICO DE FLORENTINO E COMPARATIVOS

Florentino sabe como causar impacto. Bilionário do ramo de construção, iniciou a era dos galáticos no Real Madrid em 2000, com a contratação polêmica de Luis Figo – na época, astro do Barcelona. Contratou o melhor jogador à época, pagando a absurda cláusula de rescisão de 60 Milhões de Euros e contra a vontade dos rivais catalães. Caiu nas graças da torcida. Nos anos seguintes, chegaram Zidane, Ronaldo e Beckham para formar um time incrível. No papel.

Em seu primeiro mandato, 7 títulos em 22 disputados. Nada mal? Vamos analisar friamente: considerando apenas os “grandes títulos” (Champions, LaLiga e Copa do Rei), são 3 em 18 possíveis. Menos de 17% de sucesso. Muito pouco para um time com esse nível de investimento.

Já no segundo mandato – vigente desde 2009 – trouxe Kaká, Cristiano Ronaldo, Gareth Bale e James Rodrígues, entre outros. Tentando rivalizar com o agora demolidor Barcelona, em 6 temporadas Florentino trouxe a Madrid 7 títulos em 23 possíveis, sendo apenas 4 em 18 grandes. 22% de sucesso. Como comparação, o histórico Barcelona de Pep Guardiola ( 4 temporadas entre 2008-2012) ganhou 14 títulos em 19 possíveis, sendo 7 em 10 “grandes títulos”. Um aproveitamento absurdo de 70%.

Ainda comparando, o Atlético de Madrid na Era Simeone (desde 2009), conquistou 4 grandes títulos: 1 LaLiga, 2 Europa League e 1 Copa do Rei. A mesma quantidade que o Real, mas com apenas 30% do investimento merengue.

Será que todo o dinheiro gasto e as constantes mudanças de técnico valeram a pena? Eu acho que não.