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2019, o ano em que cancelei meu sócio-torcedor

Bicampeão da Copa do Brasil, bicampeão mineiro. 2019 começou da melhor forma possível para o Cruzeiro. Plantel mantido, reposição de Arrascaeta com Pedro Rocha, Fred voltando de lesão e sendo artilheiro estadual. Parecia mais um ano em que teria orgulho do azul celeste. Ledo engano.

Ao longo de minha vida, o Cruzeiro me acompanhou. Em minha ignorância, estava no Mineirão naquele Cruzeiro 3 x 0 Grêmio que praticamente selou nosso tricampeonato brasileiro, em 2013. A quem não se recorda, a Raposa havia sido punida com perda de mando de campo para aquela peleja. Foi então que os então senadores Aécio Neves e Zezé Perrella interferiram politicamente no parlamento e conseguiram a anulação da sentença na CBF, em discussão regada a sabe-se lá o quê.

Neste dia, nem mesmo minha viagem Brasília-BH, nem os aplausos aos senadores na entrada de campo me fizeram enxergar que ali havia algo errado. No ano seguinte, Neves candidatou-se a presidente com maciço apoio institucional cruzeirense a sua campanha.

Em 2014, final da Copa do Brasil. Novamente, viajei 800 km e paguei a bagatela de R$280 o ingresso para ver uma das maiores vergonhas da história celeste. A derrota em campo para nosso maior rival não se compara à tristeza que senti quando vi o Mineirão vazio em um dos maiores jogos da nossa história. Mais de R$7 milhões de renda para menos de 40 mil torcedores. O setor central, de frente às câmeras de TV, vazio. Mas ainda resisti e continuei sócio.

Nem mesmo quando zeraram todos os meus Cruzeiros, programa de fidelidade do clube que dá pontos para que você troque em benefícios, me fizeram cancelar o sócio. Ainda que eu tenha juntado por 6 anos, morando a 800 km de distância da cidade sede do clube.

Em 2019, entretanto não consegui me abster. Durante todo o ano, Wagner Pires de Sá, Itair Machado, Sergio Nonato e seu grupo de extermínio aniquilaram meu amor pelo Cruzeiro. O primeiro incidente veio em diversas oportunidades. Durante várias campanhas a favor dos direitos das mulheres e inclusivos a LGBTQI+, o Cruzeiro se absteve enquanto grande parte dos clubes brasileiros se posicionaram.

Mais precisamente, no dia 28 de junho, dia do orgulho LGBTQI+ e no dia 17 de maio, dia internacional contra a homofobia , Vasco, Grêmio, Internacional, Botafogo-RJ, Botafogo-PB ABC, Remo, Bahia, Paysandu, Figueirense, Santa Cruz, Fortaleza, Sport, Fluminense, Corinthians, Náutico, Bangu, América-MG, Santos, Bahia, São Paulo e o próprio Mineirão se posicionaram, com artes e compartilhamentos nas redes sociais valorizando a inclusão de todos no esporte. O Cruzeiro ignorou as datas.

No dia 30 de agosto, todos os clubes da série A organizaram uma campanha de combate à homofobia dentro e fora dos estádios. A iniciativa conta com uma imagem com o mesmo texto, adaptada`às cores do clube. Nele consta: “Pior que prejudicar seu clube é cometer um crime. Grito homofóbico não é piada. Muito menos cântico de torcida. Grito homofóbico é crime, dentro e fora dos estádios. Diga não à homofobia! Uma campanha dos clubes brasileiros”.

Apenas um clube compartilhou imagem diferente, obviamente o Cruzeiro Esporte Clube. Em sua arte, expressava-se: “Torcedor, homofobia é crime. Qualquer grito prejudica o clube. Diga não à homofobia! Uma campanha dos clubes brasileiros”. Enquanto na arte dos outros 19 clubes, homofobia seria “pior que prejudicar seu clube”, para o Cruzeiro, o foco se baseou no prejuízo à instituição.

Minutos depois, o Cruzeiro emitiu um tuíte corrigindo a arte e compartilhando a mesma que a distribuída pelos demais clubes. De fato, ou o clube pouco luta contra a homofobia, se não a corrobora, ou a diretoria é extremamente amadora. Ou os dois.

Os incidentes seguintes demonstram o fim do Cruzeiro. Em reportagem feita pela Rede Globo, denúncias mostram como o clube vendia passes de jogadores de forma corrupta, assinava e revendia passes de crianças, supervalorizava salários e tantas outras questões já tão abordadas em outros canais e, por isso, não me alongarei neste tema.

Estes são os motivos pelos quais, quando o Cruzeiro foi eliminado pelo Internacional na Copa do Brasil, eu não chorei. É por isso que não vejo mais jogos do clube com assiduidade. Não declaro meu amor, não ajo com orgulho nem tampouco viajo para ver as partidas do amor da minha vida até 2019. Ainda sou cruzeirense, mas, após 6 anos, não sou sócio, nem apaixonado. Espero, um dia, voltar a ser.

José Eduardo Cruz Vieira

Minas em luto: a terrível piada de Thiago Neves

Não se trata de Cruzeiro, Atlético ou América. Não se trata de futebol, tampouco de esportistas. O atentado à vida e à história do estado de Minas Gerais e as carnificinas de Mariana e Brumadinho demonstram que “o futebol tá ficando chato”. Ainda bem.

Uma semana após o desastre de Brumadinho que vitimou fatalmente 142 pessoas – ainda há 194 desaparecidos, segundo o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais -, a proximidade com o caso parece não incitar a reflexão na cabeça de jogadores de futebol.

Thiago Neves, 33 anos. Sempre tratado como grande jogador e celebridade por onde passou, é um caso típico da falta de humanização do atleta. Quando erra, é apenas um garoto. Quando acerta, este é tratado como um super-homem, alheio às questões políticas e sociais que a carreira exclui de sua vivência.

A infelicidade de sua piada não é só fora de tempo e insensível, como também autoprovocativa. Um tiro no pé. Não foi uma piada contra o Atlético-MG, foi contra todo o estado de Minas Gerais, inclusive o Cruzeiro.

De acordo com pesquisa feita pelo Globoesporte.com em 2016, 46% da população de Brumadinho é cruzeirense (dados via Facebook) e 36% atleticana. Em Mariana, cenário de outro desastre semelhante, os mesmos 46% dos marianenses são torcedores celestes e 26% atleticanos.

O número de vítimas e mortos por tais tragédias, por cálculos estatísticos simples, mostram que a chance de cruzeirenses terem sofrido mais que atleticanos com tais tragédias é enorme.

Prova disso é meu próprio irmão. Geofísico, próximo diversos profissionais da área de mineração, perdeu dois conhecidos no desastre de janeiro deste ano: ambos cruzeirenses. Questiono se eles, falecidos, e seus familiares conseguiram rir da pida de Thiago.

Portanto, até mesmo para os mais insensíveis, que não veem vítimas além de atleticanos, cruzeirenses ou americanos, o caso se trata de vida de mineiros, brasileiros e seres humanos. Será que vale a pena rir do sofrimento alheio? Para o capiau, vale a pena rir do Atlético Mineiro quando as vítimas são majoritariamente cruzeirenses?

Não se trata de futebol, se trata de humanidade. Aos atleticanos, americanos, cruzeirenses, flamenguistas e torcedores de todas as outras vítimas, mineiras ou não, independentemente de quaisquer atributos, os nossos sentimentos. Respira, Minas Gerais!

José Eduardo

Aos heróis refugiados de 1914

Século XIX. A Itália, dividida, ainda buscava sua unificação. O norte, em processo de revolução econômico-industrial contrastava com o sul, agrícola e feudal.  Os camponeses do norte italiano, perdendo espaço para a sociedade fabril, foi atraída por propagandas de esperança no continente americano.

A maior parte dos imigrantes italianos se alocaram nas regiões sul e sudeste do país, fundamentalmente no estado de São Paulo, nos bairros do Brás e Mooca. Nessa época, os operários em momentos de lazer conheceriam aquele que seria o esporte nacional, o futebol.

Foram anos de criações de clubes por todo o país. Juventus, na Mooca, Palestras mineiro e paranaense. Em 1914, nascia, fundado pelos jovens Luigi Cervo, Luigi Marzo, Vincenzo Ragognetti e Ezequiel Simone,  o Palestra Italia.

1942. Segunda Guera Mundial colocava frente a frente os países fascistas, totalitários, preconceituosos frente à resistência. Era época de Eixo x Aliados. Itália,  Alemanha e Japão contra o mundo.

O exército brasileiro, honrado pelos Pracinhas, participou da guerra contra a ascensão do ódio e do massacre. O Palestra deveria esconder suas raízes italianas que poderia se confundir com apoio a Mussolini e mudou de nome para Sociedade Esportiva Palmeiras.

2018. 104 anos após a fundação do Clube, 150 anos após toda a batalha dos italianos pela sobrevivência e um lugar de terra no Brasil, se veem representados por um fascista novamente.

Descendente de italianos, Jair Bolsonaro é eleito presidente do país com uma agenda preconceituosa. “OS REFUGIADOS SÃO A ESCÓRIA DO MUNDO”, brada o futuro presidente, ainda enquanto deputado. “AS MINORIAS DEVEM SE CURVAR À MAIORIA”. Ignorando o fato de que seus antepassados eram minorias refugiadas no Brasil dos séculos XIX e XX.

Decacampeão brasileiro, o maior campeão nacional, os comandantes do Palmeiras se sujeitaram ao ódio e convidaram o presidente que, com suas falas, massacram os heróis de 1914. Por eles, este domingo, dia 02 de dezembro de 2018 jamais será esquecido. A luta palestrina começa hoje, agora. Vamos devolver o clube ao italiano, refugiado, minoria. AVANTE PALESTRA!

José Eduardo

Por que torcer para o Brasil?

Revisitando este texto, escrito por mim em 2015, época dos jogos Pan-Americanos,  onde escrevi: “Imagino se Bolsonaro ou Eduardo Cunha estivessem disputando uma competição. Com certeza, estaria torcendo para eles. Estariam representando esta nação. E, na verdade, são completamente imbecis. Mas brasileiros”.

Hoje, o cenário nacional é outro. Golpe constitucional em 2016, ascensão maciça do fascismo, Bolsonaro presidente. Escrevia em 2015 que, por ser um atleta nacional, representando o Brasil, torceria para todos os brasileiros. Hoje, minha visão está muito diferente.

Digo isso, não para motivar o leitor a fazer como eu. Este texto é uma crítica-desabafo de alguém que perdeu o encanto pela camisa amarela, usurpada pelo Brasil Fascista. Alguém que é fanático por esportes mas mal consegue torcer por seu clube.

Por esses dias, me peguei buscando Instagram e redes sociais de jogador por jogador do meu time (Cruzeiro) para ver se conseguia torcer por eles. No vôlei, meus ídolos esportivos William e Wallace, do vôlei, que nos renderam tantos títulos, incluindo dois mundiais, hoje estão no fundo do meu desprezo.

É difícil enxergar e acreditar que aquela pessoa por quem você doou suor, lágrimas, nervos e emoção quer, no fundo, sua derrocada, seu choro e seu sofrimento. Acima de atletas, eles são pessoas, cabíveis de manipulação, ódio e amor.

Quando olho a bandeira do Brasil no pódio ou em uma competição, automaticamente me vem à mente a imagem de um povo batalhador, pobre, que diante de tantas adversidades, dota de talento e gana para se fazer notório. Desde o nordestino do agreste ao metropolitano paulistano que lutou, pegou lotações e transportes, conseguiu por meio de bolsas-atletas a sua glória.

Entretanto, hoje, quando vejo a bandeira do Brasil, me pergunto se este a quem estou sendo devoto, torcendo com tanto afinco, me quer bem. Ademais, o sucesso esportivo, tal como o tri em 1970, alavancaria o governo vigente.

Por isso, mais do que nunca, devemos ser humanos. Não responder o ódio com mais ódio. É amar o esporte e moldar o esportista para que ele também seja humano e veja nosso lado. Devemos buscar mais Joannas Maranhão, mais Rafaelas Silva, mais Jackies Silva e menos Felipes Melo e Ana Paulas.

Não sei como torcerei nos próximos eventos esportivos. Mas, de fato, por alguns atletas não conseguirei ser o mesmo fanático de antes. Sem Ministério do Esporte, o excelentíssimo presidente está tornando meu trabalho mais fácil: não haverá atletas para torcer contra ou favor. Uma tristeza irreparável.

José Eduardo

Esporte e Fascismo

Historicamente, esporte e política foram um o braço direito do outro. Alemanha Nazista, União Soviética, Brasil Militar, Cuba Socialista e Estados Unidos Capitalista todos investiram financeira e ideologicamente no sucesso esportivo para propagar seus ideais. Hoje, no Brasil, o que se vê é o próprio atleta indo a favor de uma ideologia, por mais que o político que o represente tente acabar com seu ganha-pão.

Atualmente, com a escalada conservadora neo-fascista pelo mundo, por Turquia, Hungria, Filipinas, Estados Unidos e, finalmente, Brasil, as tensões sociais, atreladas ao fanatismo raso, vem mudando os comportamentos da sociedade e aflorando discussões e medidas governamentais.

No Brasil, um fenômeno esportivo se configura diametralmente oposto ao que se observa nos Estados Unidos. Enquanto por lá os esportistas são os mais ferrenhos opositores ao racismo, xenofobia e outros preconceitos propagados pelo presidente Donald Trump, que incita a sociedade a manifestar contra os próprios esportistas, aqui os esportistas são os maiores defensores de Bolsonaro, o Trump brasileiro.

As discordâncias entre atletas e Trump, nos Estados Unidos, ficou mais acirrada quando o jogador de futebol americano Colin Kaepernick iniciou protestos pacíficos de se ajoelhar ao entoar-se o hino nacional estado-unidense em discordância com os abusos policiais contra negros no país.

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Colin Kaepernick em seu protesto contra o racismo de Donald Trump e sua polícia.               (Fonte: Washington Square)

Logo após sua atitude, diversos atletas, inclusive brancos, tomaram partido a seu favor e contra a política de segurança (racial) no país. Atletas da NBA, principal liga de basquete do mundo, se recusaram a encontrar o presidente Trump, prática comum no esporte, por discordarem de sua política e seu discurso.

Chegando ao Brasil, o que se observa frequentemente são manifestações, principalmente, de jogadores de futebol e vôlei a favor dos ultrajes ditos pelo presidente Bolsonaro. O fascista tupiniquim, inclusive, propôs unir os Ministérios da Cultura, Educação e Esporte, transformando tudo em uma pasta só, com mesma gerência, investimento e atenção.

Trocando em miúdos, os esportistas brasileiros, em sua maioria negros, advindos de origem pobre, alguns recebedores de bolsas-atletas, investimento para fomentar o esporte nacional, estão lutando para sua própria sucumbência.

Exemplos não faltam: do futebol temos Felipe Melo (Palmeiras, Lucas Moura (Tottenham), Jadson e Roger (Corinthians), Dagoberto (Londrina), Diego Souza (São Paulo), Gomes (Watford), Rossi (Internacional) e os pentacampeões Cafu, Kaká, Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho. Este, inclusive, perdeu o posto de embaixador do Barcelona por apoiar o fascismo.

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Diego Souza comemora prestando continência e simulando uma arma com a mão, em alusão a Jair Bolsonaro. (Fonte: Rede Globo)

No vôlei, os exemplos são mais acintosos. Pela veemência das discussões, que por vezes se tornam discussões e trocas de acusações e xingamentos, os atletas Ana Paula, Wallace, William, Gustavo Endres, Maurício Souza se destacam no apoio ao conservadorismo.
Nos outros esportes, há Felipe Massa (automobilismo), José Aldo e Wanderlei Silva (MMA)

A resistência ainda é tímida e quase individual. A nadadora Joanna Maranhão e o ex-futebolista Juninho, ambos pernambucanos, são os líderes solitários da luta. Nessa lista, inclui-se o argentino Juan Pablo Sorín, visto nas passeatas “Ele Não”. São eles quem ainda se manifestam pela democracia e pelo futuro do esporte, contra o Fascismo. Um dos únicos em atividade que lutam pelo antifascismo é Igor Julião, jogador do Fluminense.

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Igor Julião exibe sua camisa em homenagem à vereadora carioca assassinada Marielle Franco.

Talvez por ambos estarem aposentados e não dependerem diretamente da politicagem governamental, estão eles sozinhos, enquanto tantos outros gostariam de ter voz mas perderiam os benefícios poucos que recebem.

As discussões são complexas, longas e tristes quando notamos que atletas negros e pobres buscam sua própria falência, muitas vezes sem se verem como negros ou pobres. É uma diferença brutal quando comparamos com os Estados Unidos. Ali é claro: o negro é negro e sabe que é negro, luta pelos seus semelhantes e combate os discursos de ódio dirigidos a eles. Aqui, a cultura de luta racial e social é muito jovem. Enquanto isso, os derrotados exaltam os vitoriosos como se fossem parte da vitória.

Por José Eduardo

A luta continua

Foram anos difíceis, os últimos, para nós. LGBTfobia e machismo naturalizados, racismo de volta às capas de jornal e muita hipocrisia. O que antes era “coisa de marginal de organizada”, hoje a violência está em toda a sociedade doente e somos nós que devemos lutar contra isso.

Dentro de um dos meios mais conservadores, se não o mais, os amantes de esportes se vêem diante de uma verdadeira guerra pelo respeito. “Após episódios de incitação a violência por diferentes torcidas, com os dizeres de que “o Bolsonaro vai matar viado”, fica claro que o ódio está também no dito “torcedor comum”.

 

Alguns esportistas vêm tomando posições sobre os ocorridos. Muitos, infelizmente, enaltecendo “o capitão”. No meio desse nebuloso meio, há esperanças como Joanna Maranhão. A nadadora é ferrenha defensora dos direitos humanos e não tem medo de se posicionar, a contragosto do conservadorismo, em suas redes sociais e entrevistas.

O último caso envolve Felipe Massa, campeão por 20 segundos da Fórmula 1 em 2008. Na ocasião, em corrida no Brasil, Massa havia vencido a corrida e dependia que Lewis Hamilton chegasse antes da sexta posição. Nas últimas curvas, entretanto, o inglês ultrapassou Timo Glock, assumindo a quinta posição e faturando o título da temporada.

Na noite desta segunda-feira, Felipe Massa posta em seu Twitter uma celebração à vitória de Jair Bolsonaro com os dizeres “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, e nossa querida @Jujuca1987 prontamente retruca “Timo glock acima de tudo lewis Hamilton acima de todos (copiei)”.

Sigamos como ela: na luta!

(Imagem destacada: Tribuna 77)

Por José Eduardo

Fim dos jejuns

Os campeonatos estaduais de 2018 chegaram ao fim. Com ele, diversos clubes gritaram “É campeão” após anos na fila. Em raras exceções, o título se manteve na mão do hegemônico local. É o fio de esperança que os campeonatos regionais precisavam para se manterem firmes para o próximo ano.

CENTRO-OESTE

Começamos pelos dois maiores jejuns. Na capital federal, o tradicional Sobradinho, que figurou na primeira divisão do Campeonato Brasileiro em 1986, se sagrou campeão após 32 anos. Foi o terceiro título alvinegro e o maior campeão é o Gama, com 11.

O Leão da Serra, fundado por operários, revelou Dimba ao futebol e tinha como presidente o ex-volante Túlio, destaque do Botafogo da década passada. Túlio saiu do clube após o Sobradinho perder a vaga para a Copa Verde deste ano, mas mantém contato com a equipe. Com o título, o Leão garantiu vaga para a Copa do Brasil, Copa Verde e Série D de 2019.

No Mato Grosso do Sul, o título voltou às mãos do maior campeão. O Operário levou o troféu após 21 anos e soma 11 canecos, frente a 9 do Comercial. No período do jejum, outras 10 equipes se sagraram campeãs enquanto o futebol do estado se apequenava nas competições nacionais. Vale lembrar a goleada sofrida pelo Naviraiense, em 2010, para o Santos de Neymar, Ganso e companhia na Copa do Brasil por 10 a 0.

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Nos outros dois estados da região, deu a lógica. Goiás e Cuiabá mantiveram a recente hegemonia estadual e se solidificam como potência regional. Em Goiás, o esmeraldino levantou o quarto caneco seguido, sexto em sete edições, e ampliou a distância para o rival Vila Nova em número de títulos: 28 a 15. O Vila segue sem título desde 2005 e viu seu maior rival vencer oito títulos no período.

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Em Mato Grosso, o Cuiabá continua fazendo história rumo ao topo do futebol do estado. Fundado em 2001, o clube se mantém na Série C do Campeonato Brasileiro desde 2012 e conquistou o bicampeonato neste domingo.

Ao todo, o Dourado soma oito títulos estaduais, sendo seis nas últimas 8 edições do torneio. A frente o Cuiabá estão somente Mixto, com 24 títulos, e Operário de Várzea Grande, com 12, mas que também estão em longo jejum, 10 e 16 anos, respectivamente.

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NORTE

Após dois vice-campeonatos seguidos para o rival Atlético, o Rio Branco voltou a se sagrar campeão acriano. O maior campeão do estado soma 47 títulos frente a apenas 14 do segundo maior vencedor, o Juventus. O Estrelão disputará a Série D ainda neste ano e, caso não volte à Série C, possui vaga garantida para a quarta divisão nacional de 2019.

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No Pará, outra equipe voltou a ser campeã após dois títulos do rival. O Remo venceu o Paysandu evitando o tricampeonato bicolor e seguindo na cola do Papão em número de títulos: 47 a 45.

O título do Bicolor foi acompanhado de diversas figurinhas carimbadas do futebol nacional e mostra a força do Remo para a Série C. O time do atacante Marcão e do técnico Givanildo Oliveira (tricampeão estadual – 2016 com o América-MG e 2017 com o Ceará) venceu o quarto clássico diante do Paysandu na temporada e enche o torcedor de esperança para voltar à segunda divisão nacional.

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No Amazonas, nada de jejum. O bicampeão é o novato Manaus FC. Fundado por dissidentes do Nacional, o Gavião de apenas três anos de idade e dois títulos estaduais derrubou o gigante Fast por 4 a 0 na Arena da Amazônia e garantiu vaga para a Série D, Copa do Brasil e Copa Verde 2019.

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NORDESTE

No Maranhão, mais jejum quebrado. Desta vez, a espera durou pouco mas foi sofrida. O Moto Club voltou a ganhar o título estadual após apenas um ano na fila, mas 2017 marcou um ano trágico ao Papão.

Após título estadual e um quarto lugar na Série D, em 2016, o que garantiu acesso à Série C no ano seguinte, o Moto viu tudo dar errado em 2017. No estadual, vice-campeonato para o maior rival, Sampaio Corrêa. Na série C, rebaixamento e, de quebra, ainda viu a Bolívia conquistar acesso à segunda divisão nacional.

Em 2018, o título veio em cima do Imperatriz após vitória por 3 a 0 em São Luiz e derrota por 2 a 1, no interior do estado. Com a conquista, o Moto Club garantiu vaga na Série D 2019, caso não conquiste o acesso neste ano, e disputará a Copa do Brasil do ano que vem.

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Nada de jejum e bicampeonato no Ceará. O Vovô bateu o badalado Leão de Rogério Ceni e vem com tudo para a Série A. Apesar da derrota, o Fortaleza também apresentou futebol de dar esperanças ao torcedor rumo à elite do futebol nacional. O título veio com duas vitórias por 2 a 1 do alvinegro frente ao tricolor.

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O único campeão estadual que já havia conquistado o título antes deste fim de semana foi o ABC. O alvinegro potiguar conquistou o tricampeonato, somando 54 títulos estaduais e bateu o recorde mundial de títulos de uma mesma competição, ultrapassando o Rangers, 53 vezes campeão escocês.

O título do ABC veio após o clube vencer os dois turnos do torneio e automaticamente levantar o caneco sem a necessidade de finais.

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Outra hegemonia se manteve em 2018. Foi na Paraíba, onde o Botafogo se sagrou bicampeão ao bater o Campinense e chegou a 29 títulos estaduais. A Raposa segue com 20 campeonatos, na segunda colocação.

No segundo semestre, o Botafogo disputa a Série C do Campeonato Brasileiro com elenco recheado de medalhões, Gladstone (ex-Cruzeiro, Palmeiras e Juventus-ITA), Marcos Aurélio (ex-Corinhtians, Santos, Sport, Coritiba, Bahia, Internacional, Ceará, e por aí vai), Rafael Jataí (ex-América-MG, Atlético-MG, Guarani e Bahia, entre outros), Felipe Cordeiro (ex-Atlético-MG) e o goleiro Saulo (ex-Santos e Figueirense).

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Outros dois grandes jejuns finalmente chegaram ao fim no Nordeste. Após 14 anos, o Náutico se sagrou campeão pernambucano. O rebaixamento para a Série C em 2017 parecia desestruturar a equipe que, devendo salários, e ainda não contava com os Aflitos.

Mas o Timbu contou com péssimas campanhas de seus rivais, ao longo do ano e enfrentou o Central, estreante em decisões estaduais, para levar o 22º título. A conquista dá forças à equipe que busca voltar à segunda divisão nacional, juntamente com o Santa Cruz, que ficou ainda nas quartas-de-final do estadual.

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Em Alagoas, a espera foi um pouco menor. 10 anos separavam o último título do CSA, maior campeão estadual. Mas, após o título da Série C 2017, o azulão montou equipe forte, bateu o CRB por 2 a 0, depois de perder a primeira partida por 1 a 0, e se juntará ao Galo na segunda divisão nacional. Grandes clássicos à vista. Ao todo, são 38 títulos azuis, contra 30 vermelhos.

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Na Bahia, o jejum foi ainda menor, 3 anos. Após dois vice-campeonatos para o Vitória, o Bahia chegava à decisão após clássico vergonhoso na fase de grupos. Na ocasião, uma briga generalizada acabou por falta de jogadores em campo por parte do Leão e parece que o evento motivou o Tricolor de Aço.

O 47º título do Esquadrão veio após duas vitórias incontestes e muita festa e violência por parte das torcidas. O Bahia segue na liderança em conquistas, 47 tricolores contra 29 rubro-negros.

As equipes se voltam para a disputa do campeonato brasileiro e precisarão do apoio das arquibancadas para voltarem a figurar na parte de cima da tabela. Para tanto, é necessário acabar com a violência, para evitar perdas de mando.

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SUDESTE

10 anos também foi o tempo de espera do campeão Capixaba. O Serra voltou da segunda divisão estadual direto para o título que não vinha desde 2008. No período, seis equipes venceram o torneio enquanto o Serra lutava para se manter na primeira divisão.

Este foi o sexto caneco da equipe, quarta maior campeã estadual, atrás de Rio Branco (37), Desportiva (18) e Vitória (9). Com o título, a Cobra Coral garantiu vaga para a Copa Verde, Copa do Brasil e Série D de 2019.

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Em Minas Gerais, o Cruzeiro voltou a ser campeão após dura sequência de 3 anos sem título. Na década, este foi apenas o terceiro título celeste contra 5 do Atlético e 1 do América.

A sequência de fracassos da Raposa no estadual conflitavam com o sucesso nacional da equipe, bicampeã brasileira e campeã da Copa do Brasil na década. Entretanto, sucessivas derrotas em clássicos faziam com que o torcedor ficasse com um pé atrás com a equipe.

O título confirma o favoritismo cruzeirense e dá motivação para que a equipe se recupere na Libertadores no grupo da morte. A derrota por 3 a 1 no primeiro jogo, após o Galo abrir 3 a 0, parecia decretar mais um ano sofrido aos cruzeirenses. Mas a vitória por 2 a 0 na partida de volta garantiu  o 37º título mineiro celeste, somado a 1 supercampeonato mineiro, frente a 44 do maior campeão, Atlético.

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No Rio de Janeiro, o Botafogo venceu o carioca naquela que foi a mais emocionante decisão estadual de 2018. Após um péssimo e vazio campeonato carioca, repleto de estádios vazios, clássicos que nada valiam e campeões de turno fora da decisão, a final conseguiu compensar com sobras o desanimo carioca.

Na primeira partida, o Botafogo saiu na frente, tomou a virada, empatou a partida e levou mais um gol para perder por 3 a 2 para o Vasco da Gama. Uma partida fantástica, com gols bonitos e reviravoltas.

No segundo jogo, o Botafogo precisava vencer por um gol para levar a partida para os pênaltis. E o tento saiu aos 49 do segundo tempo. Nos pênaltis, Gatito pegou duas cobranças, contra uma por Martín Silva, e encerrou o jejum de 5 anos sem títulos cariocas. No período, o Botafogo perdeu duas decisões, justamente para o cruzmaltino. Este foi o 21º título do Botafogo, contra 24 do Vasco da Gama, 31 do Fluminense e 34 do Flamengo.

Para o restante do ano, porém, o sinal de alerta segue ligado para os finalistas do Carioca. O Botafogo foi eliminado na Copa do Brasil para a Aparecidense, de Goiás, enquanto o Vasco segue sem vencer no Grupo da Morte na Libertadores e ambas as equipes mostraram deficiências que podem comprometer o desempenho no Campeonato Brasileiro.

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Em São Paulo, a disputa mais polêmica, mas nada de jejum. O Corinthians se sagrou bicampeão paulista, ampliando sua vantagem (29 a 22 de Palmeiras e Santos). Os jogos da decisão foram muito brigados, com duas expulsões no primeiro jogo e pênalti marcado e revertido no segundo.

O placar foi o mesmo nos dois jogos, 1 a 0 para a equipe visitante e, como no carioca, decisão nos pênaltis. O título veio nas mãos de Cássio, que defendeu as cobranças das estrelas Dudu e Lucas Lima, o que garantiu a vitória corinthiana na casa do rival.

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SUL

No Paraná, pelo terceiro ano, Atletiba. Diferentemente do ano passado, porém, o Atlético venceu o campeonato e conquistou o 24º título, frente a 38 do maior rival. Na partida de ida, 1 a 0 para o Coxa. Na volta, muita pressão do Furacão e dois a zero no placar.

O Atlético, treinado por Fernando Diniz, mostra um futebol de passes e técnica e já mostrou que pode sonhar alto nas competições nacionais. Pela Copa do Brasil, venceu o jogo de ida do São Paulo por 2 a 1, e conseguiu manter uma boa base para este ano. O Coxa disputa a Série B e tenta voltar à primeira divisão.

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Em Santa Catarina, mais um jejum chega ao fim em mais uma fórmula esdrúxula. O Figueirense levou o 18º título estadual, se mantendo no topo, contra 16 do Avaí, 12 do Joinville, 10 do Criciúma e 6 da Chapecoense.

Durante o campeonato, Figueirense e Chapecoense se revezavam no topo da tabela até que a Chape se distanciou e abriu larga vantagem na tabela. Entretanto, após 18 rodadas, o regulamento previa final em jogo único na casa do melhor do primeiro turno. Resultado: vitória do Figueira na Arena Condá e título alvinegro. Foram 2 anos de títulos da Chape que não viu o sonho do tri inédito se realizar.

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No Rio Grande do Sul, festa tricolor. O torcedor gremista está em lua-de-mel com a equipe. Após o penta da Copa do Brasil 2016, tri da Libertadores 2017 e inédito rebaixamento do rival sem a conquista da série B, o Grêmio se sagrou campeão gaúcho após 8 anos.

O campeonato gremista teve sabor especial pelo fato de o Grêmio figurar na zona de rebaixamento por metade do torneio, enquanto jogava com equipe reserva, e sofrer para se classificar à próxima fase. Na última rodada, vitória sobre o rival no Beira-Rio e garantia de clássico logo nas quartas-de-final.

No mata-mata, 3 a 0 para o Grêmio na Arena, e derrota por 2 a 0 na casa do adversário que classificou o Tricolor. Dali para frente só deu Grêmio. 3 a 0 no Avenida, 4 a 0 e 3 a 0 no Brasil de Pelotas. Campanha digna de campeão.

Este foi o 37º título do Grêmio contra 45 do Internacional. O tricolor volta suas atenções para a Libertadores em busca do tetracampeonato sob comando de Renato Gaúcho, que prometeu ficar no clube.

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José Eduardo