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A culpa é nossa

Por Lucas de Moraes

Em uma das coletivas de imprensa dessa semana, Dunga e Daniel Alves enumeraram alguns causadores do mau futebol apresentado pela seleção brasileira: pressão exagerada por parte da torcida, que está descontente com a atual situação de seu país (segundo o jogador e o técnico), resquícios do famigerado “7 a 1” e falta de identificação da torcida com alguns jogadores que construíram sua carreira fora do Brasil. Os dois só esqueceram os principais culpados pelos fracassos da seleção ocorridos nesses últimos anos: o técnico, a CBF e os jogadores.

Lembremos que, quando a seleção de 1982, conhecida como melhor Seleção Brasileira de todos os tempos, enfeitiçou todos com seu futebol encantador e com seu futebol arte, a ditadura militar ainda estava vigente no país e nem por isso sofreu com enorme pressão. Além do mais, não tinha como ficar insatisfeito com aquele time que estava jogando incrivelmente bem. Portanto, Daniel Alves, é melhor pensar em melhorar o futebol apresentado do que ficar citando os obstáculos existentes. Só pra lembrar, Daniel Alves é o único jogador do atual elenco que estava na ÚNICA derrota para a Venezuela na história da Seleção. Ah, e Dunga era o treinador.

“Essa conta não é nossa, mas estamos aqui e temos de pagá-la e tentar encontrar uma forma de solucionar isso.” Dunga na coletiva do dia 12 de Outubro.

Dunga, a culpa é de vocês também. Mesmo você não tendo participado da Copa do Mundo de 2014, passou por aqui antes e não ajudou muito. Alguns jogadores do seu atual elenco participaram daquele triste episódio, como, por exemplo, o Daniel Alves. Mas tudo bem, querem arrumar outros culpados, certo? A culpa é da imprensa que apenas visa resultados e esquece que é preciso sempre melhorar. A culpa é da CBF que acha que trazer um treinador que já obteve sucesso antigamente, seja como treinador ou jogador, vai dar certo. A culpa é dos brasileiros, que valorizaram os “bons” números da primeira experiência de Dunga como técnico. A culpa é dos times brasileiros, que não têm planejamento algum durante uma temporada e demitem e contratam treinadores quando estão afim. Todos temos culpa no fiasco da Amarelinha. Lembrem da culpa de todos mesmo, só não esqueçam de apontar o dedo para os principais culpados: vocês.

A Seleção joga hoje

Por Vinicius Prado Januzzi

 

Hoje começam as eliminatórias da Copa do Mundo de 2018. Daqui até o Mundial da Rússia serão 18 rodadas para decidir quem serão os times que preencherão as 4 vagas diretas destinadas às seleções sul-americanas, além da vaga adicional possível ao quinto colocado por meio da repescagem.

O formato já é conhecido de todos nós. 10 equipes se enfrentam em dois turnos, com o saldo final de 18 rodadas e classificação determinada por pontos corridos. Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela, filiados à Conmebol, são os concorrentes.

Não são, no entanto, só essas as informações que nos interessam. Acima de tudo, a nós, que acompanhamos o futebol dia a dia e mesmo nós que não o vemos quase nunca, interessa uma Seleção Brasileira hegemônica e que seja farol tático e técnico para as demais. Tudo que nesse momento, infelizmente, não pode nos ser oferecido.

Com Dunga, imagino ser difícil, senão impossível, não nos classificarmos para a Copa do Mundo. O jogo do treinador brasileiro é focado e extremamente competitivo. Em curto prazo. Desde que estreou novamente na equipe, o time não perdeu e, em geral, portou-se bem. Dunga pensa partida a partida como se fossem as derradeiras para o time. Arrisca-se pouco e monta taticamente o Brasil de forma conservadora, fortalecendo a defesa e valorizando o contra-ataque como principal recurso ofensivo.

Essa estratégia não é necessariamente ruim. Existem times e times, modos e modos de jogar. Por mais que sejamos quase todos esperançosos de ver equipes brilhantes, que deem mais valor ao talento que à botina, mais liberdade ao drible que ao ferrolho defensivo, é preciso reconhecer que, no mais das vezes, times bem postados e não necessariamente brilhantes conseguem alguns resultados.

Dito isso, acredito fielmente na capacidade de Dunga em comandar o time para a classificação. Entretanto, a um custo enorme, o custo da fuga para frente. Que o Brasil pode ganhar todos os jogos há poucas dúvidas. Que podemos nos sobrepor à boa parte dos adversários há mais questionamentos, ainda que esse seja mais ou menos o desenrolar das coisas. Isso tudo com um jogo de extrema marcação, reforçada pela velocidade de meias e atacantes e pela habilidade descomunal de Neymar.

Não fica daí nenhuma lição para o futebol brasileiro. Em geral, argumenta-se, Dunga entre eles, que no Brasil a expectativa por vitórias é maior do que a de bons jogos e inovações futebolísticas. Esquecemos todos que não são, entretanto, escolhas mutuamente excludentes e que é possível ao Brasil, com os jogadores que tem, fazer muito bem todas essas coisas. Sem exceção.

Convocar Kaká, Ricardo Oliveira e Elias certamente não contribui muito nesse sentido para que possamos evoluir em termos técnicos e para que possamos construir domínio em relação ao futebol mundial. Ambos são ótimos jogadores, mas nesse momento pouco acrescentam. Pelas suas idades, dificilmente estarão na Copa; podem ser substituídos tranquilamente por outros jogadores de igual ou maior potencial, de igual ou maior experiência em termos de participação em campeonatos fortes e em clubes de grande porte. Que o Brasil precisa mesclar novos talentos com outros mais consolidados, é inegável, o que não significa fazer da idade sinônimo único de maturidade e, sobretudo, fazer da experiência o artífice principal para a construção de uma equipe.

Desde a Copa de 2006 até à última, o discurso mais ou menos corrente é esse, no fim das contas. Precisamos de jogadores tarimbados (maior jargão do futebol impossível) para enfrentar as grandes seleções do mundo; a geração é boa, mas nem se compara às de outrora. Concordo em gênero, mas não em número e grau. O argumento da qualidade individual e das cicatrizes da vida é válido até determinado ponto. No nosso caso, porém, serve brilhantemente para ocultar seleções arrogantes, treinadas arcaicamente e sem perspectivas que não as mais simplórias e perdedoras em longo prazo no futebol.

Na Copa da Alemanha, não foi a bagunça que eram os treinamentos que mais nos prejudicou. Em 2010, não foi o ferrolho contra-midiático tampouco a lesão de Elano que nos custou a derrota contra a Holanda. Em 2014, não foi um só jogo ruim que fizemos nem poucos lances que definiram a catástrofe no Mineirão no inesquecível 8 de Julho de 2014, dia internacional da chacota. Em todas essas oportunidades, o que faltou mesmo ao Brasil foi propor o jogo, armar-se técnica e taticamente de modo ofensivo e organizado, com aproveitamento consciente tanto das incontestáveis capacidades de marcação de nossos jogadores quando da habilidade fora do comum da maioria dos selecionados.

A meu ver, sabendo o quanto tal argumento pode soar herege, os jogadores brasileiros não são piores que os da Alemanha e que os da Espanha, últimos campeões mundiais. Não somos piores que a Argentina, a Holanda e a França. Não somos, entretanto, melhores que México, Chile, Inglaterra e Portugal, guardadas as devidas peculiaridades de cada seleção e as diferenças de qualidade entre elas. Individualmente, peça por peça, estamos bem servidos, obrigado.

Falta mesmo ao Brasil um time que ouse organizadamente, imponha-se com estratégia e habilidade. Não acho que jogar para frente tenha efeitos positivos imediatos, como que por relação unívoca de causalidade. Agora, pensando na organização brasileira em relação ao futebol, no legado de anos e décadas e no processo de formação de jogadores, jogar como joga atualmente a seleção é um pecado esportivo e político dos mais cruéis. Infelizmente.

Sugiro aqui, como parte do que afirmo, que assistam à final da Copa do Mundo de 1958, entre Brasil e Suécia (https://www.youtube.com/watch?v=kjWe7ATSjPU). O Brasil contava com Pelé, Gilmar Santos, Garrincha, Zagallo, Djalma Santos, Vavá e outros colossos de nosso futebol. Ainda assim, engana-se que só vencemos aquela Copa por esses talentos extraordinários. O modo pelo qual a equipe jogou naquele 29 de junho em Estocolmo, agressivo coletivamente, com participação direta de todos os jogadores na marcação e no ataque, foi o mais decisivo. Fosse o Brasil só um misto descompassado de grandes talentos talvez tivesse tido pior sorte. Assim fomos em 2006, em menor medida em 2014 e em bem menor medida em 2010.

O Brasil está, enfim, entre os mais bem servidos do mundo em relação aos jogadores que podem vestir a camisa de seleção principal. Não somos a Súecia de Ibrahimovic, o País de Gales de Bale ou o Peru de Guerrero. Temos talentos aos montes, tristemente direcionados ao jogo feio e não propositivo, ao vigor defensivo de Felipão e Cia e não à volúpia de Guardiola e Sampaoli. Somos uma equipe uniformemente habilidosa, com a exceção de Neymar e uniformemente treinada para a vitória acima de tudo, contra todos e contra ninguém e, principalmente, contra si mesma.

Sentidos do torcer

Por Vinicius Prado Januzzi

Cenário 1: Semana passada (16/09), o Flamengo veio até Brasília enfrentar o Coritiba. 2×0 para os Coxas com pouca ou nenhuma ameaça por parte dos rubro-negros. O cenário anterior à partida era dos melhores. Casa cheia, com quase 70 mil ingressos vendidos antecipadamente, renda garantida, seis vitórias consecutivas. Era um jogo para golear, no mínimo, fora o baile. Eis que, então, diante de uma atuação ruim de boa parte dos jogadores, grande parte da torcida escolheu vaiar. Vaiar.

Cenário 2: Volte pouco mais de um ano atrás. Dia 12 de julho de 2014, partida de estreia do Brasil na Copa do Mundo. Contra a Croácia, vitória apertada, feia, fruto da atuação impecável do árbitro e de golpes de sorte para o nosso lado e de azar para a equipe adversária fraca. Para incentivar a VerdeEAmarelo, o que os torcedores cantavam? Eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor. Repetidas e repetidas vezes, até o cérebro se programar em modo automático e o canto soar involuntário. Para complementar o nuclear grito de guerra, olas para empurrar os atletas brasileiros. Claro, vitória garantida, graças à torcida Canarinho. Orgulho dessa pá(t)ria.


Com exceção das organizadas e de meia dúzia de gatos pingados que se con(torcem) atualmente pelo time, no Brasil não se incentiva, aplaude-se. Jogos de futebol são como shows, nos quais as plateias sorriem e agradecem os momentos de impacto de seus artistas, fazendo cara feia para as falhas técnicas, para atrasos e para apresentações comuns. O torcedor é, na verdade, um fã. A partida precisa ser fotografa, filmada e registrada. Os jogadores estão ali para autógrafos, para as palmas, para gritos sem nexo e para as vaias.

O bom das vaias é que elas não exigem muito. Você não acompanha o seu time, não sabe muito o que acontece politicamente nos clubes, vê uma ou outra notícia. Sabe bulhufas de nada. Aí o time joga mal, por muitos os motivos possíveis, e então se vaia. Usa-se essa articulação entre cordas vocais e algumas sinapses cerebrais e, voilà, tem-se um bela (e divertida) apresentação sonora.

Não quero aqui defender que o estádio deva ser território exclusivo das torcidas organizadas. Que deva ser palco restrito somente para quem torce. Queiramos ou não, gostemos ou não, no entanto, sem elas, os jogos seriam marchas fúnebres. Diferentemente de outros países, como em alguns europeus e em quase toda a América do Sul, a torcida brasileira é silenciosa e reativa. Reage ao que o time em campo oferece naquele momento, esquecendo-se de todo o resto. Em anos recentes, com a política de inclusão desenfreada de elites econômicas nos estádios e a política conjugada de exclusão de camadas mais populares e mais acostumadas a se esgoelar por suas equipes, o cenário se complicou ainda mais. Eu soou brasileeeiro, com muito orguuulho, com muiiito amor. Mais vergonha alheia, só mesmo uma selfie com o Eduardo Cunha no Mané Garrincha ou na Câmara dos Deputados.

Eis que, então, para melhorar as condições normais de temperatura e pressão, ouvem-se burburinhos aqui e acolá em prol de torcidas únicas nos estádios. O argumento é patético. Brigas entre torcidas raramente acontecem nas arquibancadas e são marcadas previamente; proibir que ambas as agremiações organizadas possam torcer é iniciativa de quem conhece muito pouco o futebol. Ou, pelo contrário, de quem conhece muito e, por isso, quer higienizá-lo e torná-lo acessível e comercializável. Seeeenta!

Na contramão disso, enquanto o futebol ainda sofre com essa elitização sanguinária e enquanto a reação está sendo articulada, peço um pequeno favor. À partida, levem apenas o coração, a camisa de seus clubes e o grito. Esqueçam o wi-fi, os ângulos bons para o insta, a cobertura que impede a chuva de cair na cara. Esqueçam os instantes de silêncio, as palmas, as vaias. Levem somente a alma e a vontade de fazer daquelas duas horas as derradeiras de sua vida. As fotos, todo mundo vê depois, já sem voz, mas com o sorriso no rosto e a alegria de quem se arrepia pelo time.

Testa mais, Dunga!

Por Pedro Abelin

“A pergunta que nos fazemos é se usamos uma equipe para ganhar ou para observar e experimentar”. Esta frase, dita por Dunga em entrevista coletiva nos Estados Unidos, sintetiza o discurso do Técnico General da Seleção Brasileira. Aparentemengte, na visão de Dunga, vencer e experimentar são valores mutuamente excludentes. E essa mentalidade pode custar muito para o futebol brasileiro.

Existe uma ideia bastante difundida pela própria mídia esportiva de que a atual geração de jogadores brasileiros é ruim. Esse discurso, além de não ser coerente com a realidade do futebol mundial, se tornou escudo para os recentes péssimos trabalhos realizados com a Seleção Brasileira principal. Tudo bem, todos concordamos que a nossa geração não é tão recheada de craques como outras que passaram. Mas basta olhar o protagonismo de jogadores brasileiros na janela de transferências do futebol europeu para perceber que a nossa geração não está aquém da maior parte dos centros do futebol mundial.  Depois das últimas desastrosas campanhas da Seleção Brasileira, esse é o momento de fazer o maior número de testes possíveis, utilizando principalmente jogadores novos. É a hora de fazer testes e se preocupar menos com o resultado. Convenhamos, será que uma vitória sobre a Costa Rica se faz tão imprescindível para o futuro do futebol brasileiro?

“Temos uma obrigação enorme que é ganhar. Por mais que todo mundo fale que temos que observar, jogar, montar uma equipe… Isso é muito de comentário. Quando se coloca em prática, as pessoas querem resultado e cobram por resultado”

Sou daqueles que acredita que o mais importante para a Seleção Brasileira é ter um time forte em 2018, na próxima Copa do Mundo. Sendo assim, jogos amistosos – e competições como a Copa América – devem ser utilizados como laboratório. Me perdoem, mas Kaká e Elias, jogadores que já ultrapassaram a barreira dos 30 anos, não deveriam fazer parte da seleção porque não terão condições de jogar a próxima Copa. Confesso que poderei ser acusado de ter uma postura um tanto quanto irresponsável. “Kaká veio para dar experiência e tranquilizar a garotada”, dirão alguns. Embora eu entenda o discurso, não acho que experiência é o que esteja faltando para essa garotada – que joga nos principais clubes do futebol mundial. Como já abordado exaustivamente nesse blog, os problemas do futebol brasileiro são bem mais profundos.

Dunga, caso venha a ler esse post, considere o que estou dizendo. Teste Lucas Lima, Lucas Silva, Casemiro, Felipe Anderson e Philipe Coutinho. Teste o time sem centro-avante, sem volante, mude as posições dos jogadores! Se preocupe menos em vencer e pense mais a longo prazo. Tente fazer o time jogar bonito primeiro. Quem sabe em 2018 não possamos ter uma equipe forte e que apresente um futebol vistoso? Eu sei que você disse que o brasileiro quer a vitória e cobra por ela e que isso o pressiona a jogar pelo resultado. Não se preocupe, depois do 7 a 1 nem estamos mais exigindo que o Brasil já tenha um time tão forte quanto o da Alemanha. Pelo menos não ainda. Aproveite esse período em que a torcida brasileira está anestesiada – para não dizer desiludida – e faça todas os ensaios possíveis com a Seleção Brasileira. Na atual conjuntura, precisamos de soluções mais ousadas e menos pragmáticas. Testa mais, Dunga!

Obs: O texto veio em tom de desabafo. Não acredito que Dunga irá mudar sua filosofia.

Depois da tempestade vem a… outra tempestade!

Raphael Felice

7×1! Há um ano a Seleção Brasileira sofria a sua maior derrota da sua história e em solo nacional. O baque, a tristeza e a sensação de incredulidade ao ver o passeio alemão ao término da partida, fez o mundo se virar para o Brasil com olhar de chacota. Inclusive nós brasileiros, até porque, a melhor forma de lidar com a desgraça é rir dela.

Mas rir é uma coisa e ignorar é outra completamente diferente. A gente não esquece, mas os cartolas que constituem a Confederação Brasileira de Futebol devem ter esquecido. O 7×1, antes motivo de piada já não tem mais graça para os brasileiros. Não pelas más lembranças do fatídico dia 8 de julho de 2014, mas sim por não estar acontecendo nenhuma mudança na estrutura do futebol brasileiro.

O desânimo, começou quando Dunga foi escolhido, novamente como técnico da Amarelinha. A esperança de que fossem cumpridas as promessas de renovação, de reestruturação no ANTIGO país do futebol foram imediatamente destruídas.

Desde 1994, como treinador ou auxiliar, nós vemos os mesmos nomes: Parreira, Zagallo, Felipão e Dunga (além de Mano Menezes). Os profissionais que aceitam qualquer tipo de recomendação e ordem da CBF, que não batem e compactuam com a sujeira feita pela confederação. Sempre foi muito estranho que os melhores técnicos em atividade no futebol brasileiro nunca eram chamados para treinar a Seleção e quando eram chamados, não tinham o tempo necessário para exercer seu trabalho, como aconteceu com Luxemburgo e Mano Menezes mais recentemente.

Muricy Ramalho e Tite eram tidos como certeza para assumir o cargo, mas foram preteridos pelos ultrapassados Luiz Felipe Scolari e Dunga. Isso, sem contar a negativa da contratação de Pep Guardiola, que chegou a se oferecer e dizer que queria fazer o Brasil campeão do mundo.

E ao lembrar de toda essa tragédia e sucessão de erros, as únicas mudanças do futebol brasileiro foram: Entrar em campo com tapete vermelho, as equipes entrarem juntas no gramado, tocar o hino nacional antes do início de todas as partidas e orientar aos árbitros a distribuírem cartões por quaisquer interpelações feitas pelos jogadores, por mais educadas e amistosas que elas sejam. Nem mesmo a prisão de José Maria Marín diminuiu o ímpeto dos déspotas da bola, que tentam de todo o jeito, brecar algumas das tentativas do Bom Senso FC de melhorar o futebol.

7×1 realmente deve ter sido pouco. Quem sabe quando passarmos por um vexame maior, quando outra seleção alcançar o Brasil no nosso tão bradado pentacampeonato, seja o que falta para a profissionalização do futebol brasileiro, para que enfim, voltemos a ser o País do Futebol.

Não somos os melhores

Pedro Abelin

7 a 1. Em plena semi-final de Copa do Mundo. Dentro de casa. A maior derrota da história do futebol brasileiro faz um ano hoje. Embora vexatória e extremamente dolorosa, a derrota poderia ter servido de lição para o futebol brasileiro, mas não foi isso que ocorreu. Após uma temporada da goleada histórica, o futebol brasileiro vive seu período de maior questionamento, pautado por perspectivas extremamente pessimistas. Será que ainda somos o país do futebol? A amarelinha ainda faz os adversários tremerem? O jogador brasileiro é diferenciado? A resposta para todas essas perguntas é não.

Embora surpreendente pelo resultado elástico, a derrota em si para a Alemanha foi coerente com o futebol apresentado ao longo da competição por cada seleção. O Brasil possuía um péssimo time, extremamente mal treinado por um técnico completamente obsoleto. Foram raros os momentos daquela Copa em que a Seleção Brasileira conseguiu apresentar um futebol minimamente decente. E vou além, acredito que a única partida convincente realizada pela seleção de Felipão foi na final da Copa das Confederações, em 2013, quando o Brasil passou por cima de uma desinteressada Espanha. Uma seleção brasileira que se apoiava excessivamente em fazer faltas, que possuía um meio de campo nulo, que não trocava passes e parecia um latifúndio improdutivo. Além disso, a equipe abusava do recurso das jogadas aéreas e tinha como principal “arma” a ligação direta da zaga ao ataque, normalmente David Luiz lançando Neymar. Sim, essa era a Seleção Brasileira pentacampeã jogando em casa uma Copa do Mundo.

Além da horrorosa equipe montada por Felipão, outros fatores explicam o desastre. A soberba e o autoritarismo do discurso da “mistica amarelinha” talvez sejam os principais responsáveis. Antes da Copa do Mundo, dirigentes da CBF e membros da comissão técnica brasileira frequentemente declaravam que o Brasil triunfaria na Copa por ser simplesmente o Brasil, o país do futebol. Parreira e jogadores também afirmaram existir uma hierarquia no futebol, em que o Brasil estava no topo e que precisava ser respeitado. O mesmo Parreira declarou que o Brasil estava com a mão na Taça. Marin, Felipão, Rodrigo Paiva (Assessor de Imprensa da CBF), e toda a comissão técnica representavam o autoritarismo e o discurso ufanista que permeava aquela seleção. Não existia espaço para questionamentos antes e durante aquela Copa. Os jornalistas e torcedores que apresentavam críticas – justas – àquele time eram desrespeitosamente repudiados pelo técnico Scolari. O mesmo declarou que entrou com uma formação inesperada contra a Alemanha apenas para contrariar os jornalistas.

Diego Costa, brasileiro que preferiu defender a seleção espanhola foi tratado como traidor da pátria. Esses são apenas alguns dos casos, mas foram inúmeras as declarações de Felipão, Marin e outros amigos da CBF que fomentaram um clima tenso: “Ou você apoia o projeto do hexa, sem questionar muito, ou você não é brasileiro e torce contra”. E grande parte da torcida comprou esse discurso. Futebol era guerra e tudo valia para conseguir o título. Quem não lembra do lamentável episódio em que a torcida brasileira vaiou o hino chileno no Mineirão? O resultado disso foi uma grande desqualificação do debate do futebol brasileiro. E esse discurso autoritário de classificar como inimigos da pátria quem não apoia determinado projeto está muito presente no cenário de determinadas mobilizações políticas da sociedade civil…

Após a eliminação, como era esperado, nenhuma mea culpa por parte da comissão técnica, muito pelo contrário. Felipão e seus asseclas falaram em “apagão”, fomentaram o discurso do “acaso” e até hoje dizem que se o Brasil tivesse aproveitado suas chances de gol, o jogo poderia ter sido outro. O mais grave nesse tipo de pensamento é perceber que eles realmente acreditam nisso. Depois do fiasco, quando a CBF deveria olhar pra frente para pensar em novas soluções para nosso futebol, ela olhou para trás. Anunciaram um aliado político como novo velho técnico da seleção, e nada foi feito para mudar essa situação, como vocês bem sabem. Como dizem os comentaristas, pior do que o 7 a 1, foi saber que nada foi feito depois do 7 a 1. O que fazer agora? Ninguém tem a solução para o futebol nacional, mas sabemos que alguns passos precisam ser dados. E o primeiro deles é reconhecer que não somos melhores que as outras seleções.

Não acredito, contudo, que os clubes, as federações e a CBF estejam se movimentando pela melhoria do futebol nacional. Não adianta trocarmos as peças, precisamos de uma reforma profunda e estrutural de todo o futebol brasileiro. Precisamos de mudanças nas categorias de bases, no poder das federações e na própria concepção de futebol. Precisamos de mudanças nos direitos de transmissão, nos preços dos ingressos e na relação dos clubes com seus torcedores. E não nos esqueçamos da realidade ainda mais precária do futebol feminino nacional, que é deixado completamente de fora das discussões epistemológicas do futebol brasileiro.

No entanto, a CBF finalmente decidiu discutir os rumos do futebol brasileiro e realizou a 1ª reunião do “Conselho de desenvolvimento estratégico do futebol brasileiro”, no Rio de Janeiro. Ótima notícia, não? Até você ver os convidados dessa reunião. Presentes na reunião: Zagallo, Parreira, Dunga, Sebastião Lazaroni, Falcão, Candinho, Carlos Alberto Silva e Ernesto Paulo. Felipão e Luxemburgo também foram convidados, mas não compareceram. E ainda pode piorar, pois na saída da reunião, Dunga chamou de “modismo” a ajuda de técnicos estrangeiros no futebol brasileiro, e afirmou que a solução deve ser interna. E assim caminha o país do futebol…