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A Seleção joga hoje

Por Vinicius Prado Januzzi

 

Hoje começam as eliminatórias da Copa do Mundo de 2018. Daqui até o Mundial da Rússia serão 18 rodadas para decidir quem serão os times que preencherão as 4 vagas diretas destinadas às seleções sul-americanas, além da vaga adicional possível ao quinto colocado por meio da repescagem.

O formato já é conhecido de todos nós. 10 equipes se enfrentam em dois turnos, com o saldo final de 18 rodadas e classificação determinada por pontos corridos. Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela, filiados à Conmebol, são os concorrentes.

Não são, no entanto, só essas as informações que nos interessam. Acima de tudo, a nós, que acompanhamos o futebol dia a dia e mesmo nós que não o vemos quase nunca, interessa uma Seleção Brasileira hegemônica e que seja farol tático e técnico para as demais. Tudo que nesse momento, infelizmente, não pode nos ser oferecido.

Com Dunga, imagino ser difícil, senão impossível, não nos classificarmos para a Copa do Mundo. O jogo do treinador brasileiro é focado e extremamente competitivo. Em curto prazo. Desde que estreou novamente na equipe, o time não perdeu e, em geral, portou-se bem. Dunga pensa partida a partida como se fossem as derradeiras para o time. Arrisca-se pouco e monta taticamente o Brasil de forma conservadora, fortalecendo a defesa e valorizando o contra-ataque como principal recurso ofensivo.

Essa estratégia não é necessariamente ruim. Existem times e times, modos e modos de jogar. Por mais que sejamos quase todos esperançosos de ver equipes brilhantes, que deem mais valor ao talento que à botina, mais liberdade ao drible que ao ferrolho defensivo, é preciso reconhecer que, no mais das vezes, times bem postados e não necessariamente brilhantes conseguem alguns resultados.

Dito isso, acredito fielmente na capacidade de Dunga em comandar o time para a classificação. Entretanto, a um custo enorme, o custo da fuga para frente. Que o Brasil pode ganhar todos os jogos há poucas dúvidas. Que podemos nos sobrepor à boa parte dos adversários há mais questionamentos, ainda que esse seja mais ou menos o desenrolar das coisas. Isso tudo com um jogo de extrema marcação, reforçada pela velocidade de meias e atacantes e pela habilidade descomunal de Neymar.

Não fica daí nenhuma lição para o futebol brasileiro. Em geral, argumenta-se, Dunga entre eles, que no Brasil a expectativa por vitórias é maior do que a de bons jogos e inovações futebolísticas. Esquecemos todos que não são, entretanto, escolhas mutuamente excludentes e que é possível ao Brasil, com os jogadores que tem, fazer muito bem todas essas coisas. Sem exceção.

Convocar Kaká, Ricardo Oliveira e Elias certamente não contribui muito nesse sentido para que possamos evoluir em termos técnicos e para que possamos construir domínio em relação ao futebol mundial. Ambos são ótimos jogadores, mas nesse momento pouco acrescentam. Pelas suas idades, dificilmente estarão na Copa; podem ser substituídos tranquilamente por outros jogadores de igual ou maior potencial, de igual ou maior experiência em termos de participação em campeonatos fortes e em clubes de grande porte. Que o Brasil precisa mesclar novos talentos com outros mais consolidados, é inegável, o que não significa fazer da idade sinônimo único de maturidade e, sobretudo, fazer da experiência o artífice principal para a construção de uma equipe.

Desde a Copa de 2006 até à última, o discurso mais ou menos corrente é esse, no fim das contas. Precisamos de jogadores tarimbados (maior jargão do futebol impossível) para enfrentar as grandes seleções do mundo; a geração é boa, mas nem se compara às de outrora. Concordo em gênero, mas não em número e grau. O argumento da qualidade individual e das cicatrizes da vida é válido até determinado ponto. No nosso caso, porém, serve brilhantemente para ocultar seleções arrogantes, treinadas arcaicamente e sem perspectivas que não as mais simplórias e perdedoras em longo prazo no futebol.

Na Copa da Alemanha, não foi a bagunça que eram os treinamentos que mais nos prejudicou. Em 2010, não foi o ferrolho contra-midiático tampouco a lesão de Elano que nos custou a derrota contra a Holanda. Em 2014, não foi um só jogo ruim que fizemos nem poucos lances que definiram a catástrofe no Mineirão no inesquecível 8 de Julho de 2014, dia internacional da chacota. Em todas essas oportunidades, o que faltou mesmo ao Brasil foi propor o jogo, armar-se técnica e taticamente de modo ofensivo e organizado, com aproveitamento consciente tanto das incontestáveis capacidades de marcação de nossos jogadores quando da habilidade fora do comum da maioria dos selecionados.

A meu ver, sabendo o quanto tal argumento pode soar herege, os jogadores brasileiros não são piores que os da Alemanha e que os da Espanha, últimos campeões mundiais. Não somos piores que a Argentina, a Holanda e a França. Não somos, entretanto, melhores que México, Chile, Inglaterra e Portugal, guardadas as devidas peculiaridades de cada seleção e as diferenças de qualidade entre elas. Individualmente, peça por peça, estamos bem servidos, obrigado.

Falta mesmo ao Brasil um time que ouse organizadamente, imponha-se com estratégia e habilidade. Não acho que jogar para frente tenha efeitos positivos imediatos, como que por relação unívoca de causalidade. Agora, pensando na organização brasileira em relação ao futebol, no legado de anos e décadas e no processo de formação de jogadores, jogar como joga atualmente a seleção é um pecado esportivo e político dos mais cruéis. Infelizmente.

Sugiro aqui, como parte do que afirmo, que assistam à final da Copa do Mundo de 1958, entre Brasil e Suécia (https://www.youtube.com/watch?v=kjWe7ATSjPU). O Brasil contava com Pelé, Gilmar Santos, Garrincha, Zagallo, Djalma Santos, Vavá e outros colossos de nosso futebol. Ainda assim, engana-se que só vencemos aquela Copa por esses talentos extraordinários. O modo pelo qual a equipe jogou naquele 29 de junho em Estocolmo, agressivo coletivamente, com participação direta de todos os jogadores na marcação e no ataque, foi o mais decisivo. Fosse o Brasil só um misto descompassado de grandes talentos talvez tivesse tido pior sorte. Assim fomos em 2006, em menor medida em 2014 e em bem menor medida em 2010.

O Brasil está, enfim, entre os mais bem servidos do mundo em relação aos jogadores que podem vestir a camisa de seleção principal. Não somos a Súecia de Ibrahimovic, o País de Gales de Bale ou o Peru de Guerrero. Temos talentos aos montes, tristemente direcionados ao jogo feio e não propositivo, ao vigor defensivo de Felipão e Cia e não à volúpia de Guardiola e Sampaoli. Somos uma equipe uniformemente habilidosa, com a exceção de Neymar e uniformemente treinada para a vitória acima de tudo, contra todos e contra ninguém e, principalmente, contra si mesma.

Em defesa de Juan Carlos Osório

Por Vinicius Prado Januzzi

 

Dia 06 de junho de 2015: estreia de Juan Carlos Osório como treinador do São Paulo. Contra o Grêmio, no Morumbi, 2 a 0 para os donos da casa, com gols de Luis Fabiano e Rogério Ceni.

Dia 23 de agosto de 2015: no Maracanã, derrota para o Flamengo, por 2 a 1. Pelo lado rubro-negro, Guerrero e Ederson. Pelo tricolor paulista, gol do zagueiro Luiz Eduardo, que subiu mais que taxa Selic e mandou a bola para o fundo da rede adversária.

Entre esses dois jogos, pouco mais de 11 semanas; para ser mais preciso, 78 dias. O técnico colombiano, que chegou com pompa à Barra Funda, hoje está entre a cruz e a espada. Osório fica ou não fica? É bom ou não? É apegado aos seus valores e pouco flexível ao futebol brasileiro?

Nesse meio tempo, o técnico teve tanto desmanchados tanto o time quanto a moral que tinha junto aos dirigentes. Culpa de quem? Deles próprios.

Quando o treinador foi contratado, após boa e segura passagem pelo Atlético Nacional-COL, a diretoria investiu em trabalho de longo prazo e apostou na ofensividade e criatividade de Osório. As cabeças pensantes do São Paulo prometeram que não iriam vender peças-chave do elenco e que o apoiariam ao longo das competições as quais viria disputar. Nem um, nem outro.

Que a situação financeira do clube não é das melhores, compreende-se. Que, a curto prazo, vender jogadores é necessário para equilibrar finanças mal planejadas e mal geridas, compreende-se. Que, diante de resultados negativos, o (bom) técnico balance…é incompreensível.

Juan Carlos Osório é profundo conhecedor de futebol, como há tempos não se via no Brasil (sua entrevista no Programa Bola da Vez, do canal ESPN, é não menos que brilhante). Sabe como armar, incentivar e aprimorar times. Já mostrou isso. Inúmeras vezes.

Pode ser que não consiga repetir isso no São Paulo. Não será culpa sua.

A mim parece que, felizmente, há uma coisa que Osório desconhece entre as muitas coisas que sabe. O técnico colombiano não partilha da lógica do é-melhor-não-perder-do-que-ganhar, tão bem conhecida pelos torcedores e dirigentes brasileiros. Nesse momento crítico do São Paulo, o técnico bem poderia fechar seu time, apostar em bolas aéreas, em ferrolhos defensivos e em jogadas baseadas no contato bruto e simples.

Em defesa de Juan Carlos Osório e contra o modelo hegemônico de administração dos clubes de futebol no Brasil, que não o faça.

 

Para ler mais:

http://espn.uol.com.br/videos/programas/boladavez

http://esportefinal.cartacapital.com.br/juan-carlos-osorio-sao-paulo/

Apita o árbitro e começa o jogo

Por Vinicius Prado Januzzi

Não é de hoje que a arbitragem no Brasil é questionada.

Em todos os campeonatos, em todas as fórmulas possíveis, em todos os anos desde que nos conhecemos como torcedores e torcedoras, jogos foram roubados, expulsões foram duvidosas, impedimentos foram ou não foram dados, faltas foram ou não forma marcadas, campeonatos foram comprados. Isso ocorreu? Sim.

Escândalos como a Máfia do Apito (2005) parecem ser a regra implícita de nosso futebol. A todos nós, basta só ir mais fundo em investigações e muitas falcatruas serão descobertas. Não importa que nada tenha sido posto a limpo ou mesmo provado. “Tem algo aí”.

Por ser corinthiano, talvez minha opinião já seja posta em dúvida de antemão. O Corinthians, seja verdadeiro ou não o que se diz, é conhecido como um dos times historicamente mais beneficiados no país. Não fossem os juízes, estaria torcendo em arquibancadas de alvenaria em algum estádio interiorano, no máximo em um campeonato regional de terceira divisão.

O problema da arbitragem no país, no entanto, está longe de ser uma questão de grandes conspirações e favorecimentos a determinado clube. Que o Corinthians tenha sido beneficiado em muitos jogos ao longo de sua história, dificilmente posso dizer que não, ainda que não possa trazer nada que comprove esse grande esquema. O mesmo em relação aos outros clubes brasileiros e sulamericanos.

Por esse e muitos outros motivos, não adianta comparar lances e mais lances, fazer colagens em cima de colagens com exemplos de jogos recentes ou do início da história, comparar aquele ou esse impedimento quando não se leva em conta como funciona a arbitragem no Brasil. Por funcionamento, falo de formação, de salários e de progresso na carreira. Ambos estão conectados e no modo como se conjugam no país nos permite entendem um pouco mais do quadro caótico do que é ser juiz/a brasileiro/a de futebol.

Você já parou para se questionar como é que se forma um árbitro no Brasil? Quanto recebe, em média, uma apitadora? Quanto tempo é necessário para que juízes apitem jogos de alto nível ou mesmo sejam escalados para apitar Copas do Mundo ou outras competições internacionais? No geral, essas não são perguntas que fazemos, embora suas respostas, a meu ver, impactem diretamente no pênalti não marcado para o São Paulo contra o Corinthians no Campeonato Brasileiro desse ano (09/08/2015) e no gol validado do Chapecoense contra o Atlético Mineiro (16/08/2015)

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No Brasil, a profissão de árbitro de futebol é regulamentada desde 2013, após a promulgação da lei 12.867/2013. No dia a dia, nada muda. O juiz que você vê na TV todo domingo continua como um prestador de serviços à Confederação Brasileira de Futebol. Ao apitar o Brasileirão ou a Libertadores, por exemplo, o juiz é cedido pela Federação Estadual/Distrital à qual está vinculado. Quem o contrata, portanto, é a Federação. Daí deduzimos que ela paga aos árbitros os direitos trabalhistas previstos na legislação e que estipula rendimentos fixos, complementados por honorários por jogos apitados. Errado.

Juízes recebem tão só e unicamente por jogo que apitam. Quanto mais avança na carreira, mais avança na média de ganhos por partida. Uma vez no topo dessa jornada e se chegar até esse Olimpo, vai arcar com as despesas relativas à formação, à nutrição, ao preparo físico e muitas vezes de locomoção e hospedagem. Um árbitro FIFA que apita um jogo de série A ganha 3.500 reais por partida. Parece muito, mas não é.

Se levarmos em conta os rendimentos relacionados ao futebol, o valor logo fica desproporcionalmente pequeno. Os árbitros FIFA são, ainda, uma minoria irrisória no país. Comparar seus ganhos aos do grande parte dos outros juízes é o mesmo que comparar o salário do atacante sãopaulino Pato com o que ganha Waguininho, do Oeste de Itápolis. Árbitros recebem pouco em relação ao futebol como um todo e a própria distribuição de rendimentos na categoria é desigual, muito desigual. Se comparado o Brasil a outras ligas nacionais, a coisa fica ainda mais complicada (http://espn.uol.com.br/noticia/535901_brasileiro-tem-o-pior-salario-entre-juizes-das-grandes-ligas-do-mundo-compare).

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Considerados todos esses problemas, entre muitos outros que poderiam ser apontados – a questão do rodízio dos árbitros e a quase exclusiva presença de homens entre os juízes profissionais, por exemplo -, não fica difícil afirmar que a má qualidade da arbitragem no Brasil está longe de ser uma questão de competência individual ou de uma orquestração muito safada construída em reunião secreta realizada no CT Joaquim Grava, com a presença do senhor José Maria Marin, do ilustre Ronal Rhovald e do anfitrião Roberto de Andrade.

Mais do que suspostos juízes desonestos e dirigentes corruptos, com certeza presentes no universo futebolístico, o que temos em campo são juízes mal preparados, mal pagos e mal formados. Os erros que cometem com seu time, portanto, não têm o carinbo alvinegro, tricolor ou rubronegro. Têm o carimbo da CBF, a mesma das camisetas de domingo último.

Para saber mais:

http://espn.uol.com.br/post/535822_cbf-nao-tem-arbitros-para-o-brasileirao

http://esporte.ig.com.br/futebol/2014-10-10/com-minoria-privilegiada-arbitros-dizem-que-salario-baixo-prejudica-desempenho.html

http://espn.uol.com.br/noticia/535901_brasileiro-tem-o-pior-salario-entre-juizes-das-grandes-ligas-do-mundo-compare

http://blogdoperrone.blogosfera.uol.com.br/2010/10/quanto-ganha-um-arbitro-no-brasileirao/

O “não-problema” do racismo no futebol

Por Vinicius Prado Januzzi

Cristóvão Borges, atual técnico do Flamengo, em entrevista recente à ESPN afirmou que há componentes racistas nas críticas que fazem ao seu trabalho.

Os torcedores vão dizer que não é nada disso, que o treinador não é de qualidade, não mexe bem no time, não escala bem a equipe, que é retranqueiro. Podem dizer que criticam a “pessoa” dele, por suas competências, por seus defeitos como profissional do futebol. Ninguém é bobo a ponto de não ver que as críticas a Cristóvão vão além. São atravessadas pelo racismo que tanto insistimos em afirmar que não existe no Brasil.

O principal motivo pelos quais o que diz o técnico deve ser encarado como algo socialmente relevante é simples. Se alguém se diz vítima de racismo e sofre isso no dia a dia e sofreu isso durante toda a carreira, só devemos ouvir, refletir e daí pensar em como agir. Não sou eu nem você quem devemos dizer que tipo de preconceito é ou não é mais intenso ou válido. Cristóvão encarou os leões e desafiou o nosso silêncio.

Trata-se, a bem da verdade, de um silêncio por demais barulhento.

Há um ano, Borges era o único treinador negro na Série A do Brasileirão. Hoje é acompanhado solitariamente por Roger, do tricolor gaúcho. 2 entre 20. Estatisticamente irrelevante, socialmente chocante.

Faça agora um breve esforço mental e tente se lembrar de profissionais negros no comando dos times brasileiros. Saindo da área técnica, quantos são os dirigentes negros no Brasil? Quantos são, afinal de contas, os profissionais negros em posições consideradas de maior prestígio no futebol?

São poucos, infinitamente poucos. Os negros no futebol são os jogadores, os massagistas e os roupeiros. Dificilmente os presidentes, diretores, fisioterapeutas e fisiologistas. Ocupam cargos relevantes sim, mas de menor impacto. De encontro ao que se vê nos comentários redes sociais e portais jornalísticos afora, a questão que devemos nos fazer é a seguinte: por que há tão poucos negros comandando o futebol brasileiro? E, sobretudo, por que isso é aceitável e quase nunca encarado como um problema?

Pois é um problema seríssimo, vivido também em outros países e em outros esportes, como mostrou reportagem da BBC em 2014. Não custa lembrar o episódio já quase esquecido em que Aranha, na época goleiro do Santos, foi insultado e cruelmente xingado durante uma partida da Copa do Brasil. O Grêmio, adversário do clube paulista na partida, foi excluído da competição, chegou-se a comentar aqui e ali algo mais e não passou disso. No mais, as coisas continuam como estão, sem que haja qualquer esforço coletivo para alterar profundamente esse cenário de longa data. Vira e mexe os jogadores entram com faixas em campo, pedindo “Não ao Racismo”, os locutores elogiam, que campanha bonita, que bonito de ver. E termina aí.

Poderia dizer que saímos todos derrotados. Não seria inverdade. No entanto, o buraco é mais embaixo, porque a situação não é simétrica. Sou branco e quando vejo essa situação, me sinto moralmente abalado. Meus privilégios continuam como estão. Não sou afetado cotidianamente por esse racismo tão escancarado que vivemos.

Os negros sim. São derrotados sem piedade por essa estrutura desigual e assassina. Diante de tudo isso, Cristóvão Borges, só me resta agradecer por fortalecer essa luta diária e cruciante tão necessária ao futebol que queremos.

O eterno retorno

Por Vinicius Prado Januzzi

 

Torcedoras e torcedores, uni-vos e façamos juntos algumas contas.

Retroceda cinco anos na história dos seus clubes e responda: quantos foram os técnicos que passaram por seu centro de treinamento?

Suponhamos que o resultado não seja lá muito relevante, ainda que se trate se algo improvável. Vá um pouco mais longe. Volte 10 anos no tempo, lá pelos idos dos anos 2000. Refaça a conta. Estou certo de que vai precisar de uma boa memória e todas as letras do alfabeto para listar aqueles que comandaram as equipes brasileiras nos últimos anos.

Agora, junte a esse cálculo o número de títulos que foram conquistados por seu clube. Some os vice-campeonatos, as boas posições e os jogos bem jogados e bem vencidos. Agregue aí as dívidas acumuladas ao longo do tempo. Em alguns casos, veja quantas vezes o seu time caiu ou não para outras divisões do futebol nacional.

Imagino que sua soma deve ter sido decepcionante. Muitas comissões técnicas, muitas dívidas e poucos títulos. Há casos e casos, é claro, mas o estado geral da nação é inequívoco: trocar de técnico ou muda nada ou muda pouca coisa.

Em reportagem recente publicada no UOL, há números que me desmentem. Ao menos por enquanto. Digo isso porque, ano após ano, vemos nos nossos gramados a história se repetir: primeiro como tragédia, depois como farsa, como diria um amigo barbudo das antigas.

Os técnicos saem, os times dão aquela melhorada, a torcida fica contente, mas lá no fim do trajeto o saldo é mais negativo que o do Vasco na Série A desse ano. Treinadores diferentes garantem algumas vitórias e empates a mais, mas raramente conseguem promover mudanças de peso nas equipes e nos clubes como um todo. No mais das vezes, são meros acessórios de uma estrutura podre e miserável. Vão e vêm os acessórios, permanece o caos.

Como opinou Mauro Cezar Pereira, são os técnicos antibióticos , que agem em cima de problemas muito específicos, até mesmo dando alguma solução para eles. Mas os problemas continuam, as entrevistas coletivas soam sempre como desculpas esfarrapadas e os próximos capítulos todos já sabem.

Chama um técnico pra por ordem no time, subir a molecada, chacoalhar esses caras sem raça. Esse cara aí é um pilantra, retranqueiro, tá na mesma há muito tempo. E se vai mais um acessório, pronto para migrar para outro grande clube do futebol brasileiro, antes que o demitam porque…

Por que mesmo?

Gente diferenciada

Por Vinicius Prado Januzzi

Dois tipos de rankings me causam ojeriza no recente futebol brasileiro. Ambos conferem veracidade à máxima já incontestável de que todo dia, gostemos ou não, é dia de um 7×1 diferente.

Perambulando noite afora por sites de notícias esportivas, os leitores já devem ter visto listas com os clubes que mais arrecadam em seus estádios e também aqueles que possuem mais sócios torcedores. Semana após semana, os pódios são atualizados, com os vencedores da vez, os Dicks Vigaristas do dia, os perdedores de sempre. Como diria a camiseta: Seven-One was little.

Nada contra tais informações. Nem a favor. Mostradas como são, não acrescentam absolutamente nada ao futebol. Aos dados estatísticos, pouco é comentado ou acrescentado. Os números são quase que jogados aos leões, usados para alimentar rivalidades antigas e atualizadas bisonhamente nas expressões: “minha arena arrecada mais que a sua”; “meu clube tem mais sócios que o seu”; “olha lá, que estádio/clube de merreca o seu, que nem arrecada”.

Que quer dizer um estádio que acumula milhões? Que afirmar de torcidas que pagam mais e lotam os confortáveis bancos de suas arenas à espera do cachorro quente no intervalo? Que fazer diante de clubes que aumentam aos milhares seu número de sócios ao longo de uma só semana, sem oferecer benefícios concretos ou coisas que realmente valham a pena? Quando falo que os rankings nada acrescentam é em relação a essas questões que me debruço. Afinal de contas, se os estádios estão cheios e ricos, quem é essa torcida que os ocupam? Se os sócios vêm aos montes, vêm pelo quê? Para pagar menos nos ingressos, para ter descontos em produtos oficiais ou para poder participar mais ativamente dos rumos do clube?

De nada interessam, portanto, números inflacionados. O retrato que eles pintam é infeliz. Estamos frequentando mais os estádios? Estamos. O outro lado da moeda é que pagamos mais, bem mais, eliminando das arquibancadas torcedores e torcedoras que não podem pagar por esses valores e mesmo não podem integrar planos de associação aos clubes. Por muitos motivos, o futebol das torcidas brasileiras está se transformando no das torcidas inglesas: lotado, gourmetizado, sentado e caro. Um público respeitável, de gente diferenciada.

Utilidade Pública

Vinicius Prado Januzzi

Muleque, vem cá, para de ficar gastando tempo na internet e vem me ajudar com esse troço. Você já deve ter ouvido isso incontáveis vezes e descontando aquelas em que fazia coisas indizíveis nesse horário, aposto que ficava vendo vídeos no Youtube com lances geniais do futebol. Músicas de fundo animadas, repetições em slow-motion, efeitos duvidosos. Lances mágicos.

Esse post nada mais é do que um serviço de utilidade pública. Reuni aqui um pouco desse material, tomando como critério o título de melhor jogador do mundo pela FIFA. No futebol masculino, o prêmio é concedido desde 1991. No feminino, desde 2001. Fica uma observação. Infelizmente, é muito difícil encontrar bons vídeos que ressaltem as virtudes das jogadoras vencedoras. Certamente, assunto para um texto futuro.

De antemão, peço desculpas aos procrastinadores que diante desse material ficarão horas e horas à frente de monitores. Segue o jogo.

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Futebol Masculino

1991

Lothar Matthaüs (Alemanha)

1992

Marco Van Basten (Holanda)

1993

Roberto Baggio (Itália)

1994

Romário (Brasil)

1995

George Weah (Libéria)

1996-1997-2002

Ronaldo (Brasil)

1998-2000-2003

Zinédine Zidane (França)

1999

Rivaldo (Brasil)

2001

Luís Figo (Portugal)

2004-2005

Ronaldinho Gaúcho (Brasil)

2006

Fábio Cannavaro (Itália)

2007

Kaká (Brasil)

2008-2013-2014

Cristiano Ronaldo (Portugal)

2009-2010-2011-2012

Lionel Messi (Argentina)

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Futebol Feminino

2001-2002

Mia Hamm (Estados Unidos)

2003-2004-2005

Birgit Prinz (Alemanha)

2006-2007-2008-2009-2010

Marta (Brasil)

2011

Homare Sawa (Japão)

2012

Abby Wambach (Estados Unidos)

2013

Nadine Angerer (Alemanha)

2014

Nadine Kessler (Alemanha)