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Por um futebol com mais estádios lotados

A elitização dos estádios brasileiros é inegável. Os grandes estádios, principalmente após a Copa do Mundo de 2014, se modernizaram e o preço dos ingressos subiu consideravelmente. Junto a isso, os times brasileiros passaram a apostar de vez nos sócios-torcedores.

Mas ser sócio não significa que os preços dos ingressos passam a ser exatamente acessíveis. Muitas categorias são de pagar uma mensalidade e ainda precisar comprar um ingresso, ainda que com desconto. No final, o dinheiro acaba pesando, sim.

Precisamos de medidas que tragam as camadas populares para os estádios de novo, mas o futuro parece não se caminhar para isso. Não é raro vermos torcedores comemorando mais uma renda alta do que um estádio lotado e debochando de times que fazem promoções de ingresso para ter mais público. E daí se fazem promoções? Não é demérito nenhum colocar à venda ingressos a preços mais baratos.

Não me leve a mal: o futebol, apesar de toda a sua história e tudo o que o cerca, é um negócio e os clubes precisam de dinheiro para se sustentar. Mas é melhor ter uma renda X com 50.000 torcedores no estádio do que arrecadar a mesma quantia com 15.000, certo?

O Cruzeiro está fazendo, desde o início da temporada, promoções para os jogos do Campeonato Mineiro. Na estreia do clube na temporada, mais de 42 mil torcedores foram prestigiar a partida contra o Tupi. Diante do América, foram mais de 50 mil no Mineirão. O sócio que comprasse ingresso poderia levar convidados de graça para assistir às partidas. É uma medida que privilegia apenas quem é sócio, mas já é um começo.

O São Paulo, na luta contra o rebaixamento em 2017, também lotou o Morumbi em várias partidas com ingressos a preços populares. O Atlético Mineiro também já fez ações interessantes no sentido. O Grêmio tirou as cadeiras que ficariam atrás dos gols na Arena para caber mais gente e manter a cultura da Geral. Exemplos não faltam.

Em meio a essa elitização dos estádios e com o fim das gerais, o preço do pay-per-view diminuiu e a tendência é o rico ir aos estádios e o pobre assistir aos jogos sentado no sofá de casa ou na cadeira de um bar. O documentário “Geraldinos”, de 2015, ilustra bem essa nova realidade.

Mas essa realidade é o que devemos combater. Acredito que não faltem mecanismos ou possibilidades para os clubes oferecerem ingressos mais baratos. O que acontece é que o lucro acaba falando mais alto, mas há de se encontrar um equilíbrio.

O futebol no Brasil se desenvolveu como um espaço democrático que unia todas as classes, cores e credos. Não eram baratos todos os ingressos, mas eles ainda estavam lá. Quem apoiou os clubes desde o início foi a classe trabalhadora. E o estádio de futebol deve ser ocupado pelos torcedores – de todos os tipos – pois sem eles, um time não é nada.

 

João Miguel

Sentidos do torcer

Por Vinicius Prado Januzzi

Cenário 1: Semana passada (16/09), o Flamengo veio até Brasília enfrentar o Coritiba. 2×0 para os Coxas com pouca ou nenhuma ameaça por parte dos rubro-negros. O cenário anterior à partida era dos melhores. Casa cheia, com quase 70 mil ingressos vendidos antecipadamente, renda garantida, seis vitórias consecutivas. Era um jogo para golear, no mínimo, fora o baile. Eis que, então, diante de uma atuação ruim de boa parte dos jogadores, grande parte da torcida escolheu vaiar. Vaiar.

Cenário 2: Volte pouco mais de um ano atrás. Dia 12 de julho de 2014, partida de estreia do Brasil na Copa do Mundo. Contra a Croácia, vitória apertada, feia, fruto da atuação impecável do árbitro e de golpes de sorte para o nosso lado e de azar para a equipe adversária fraca. Para incentivar a VerdeEAmarelo, o que os torcedores cantavam? Eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor. Repetidas e repetidas vezes, até o cérebro se programar em modo automático e o canto soar involuntário. Para complementar o nuclear grito de guerra, olas para empurrar os atletas brasileiros. Claro, vitória garantida, graças à torcida Canarinho. Orgulho dessa pá(t)ria.


Com exceção das organizadas e de meia dúzia de gatos pingados que se con(torcem) atualmente pelo time, no Brasil não se incentiva, aplaude-se. Jogos de futebol são como shows, nos quais as plateias sorriem e agradecem os momentos de impacto de seus artistas, fazendo cara feia para as falhas técnicas, para atrasos e para apresentações comuns. O torcedor é, na verdade, um fã. A partida precisa ser fotografa, filmada e registrada. Os jogadores estão ali para autógrafos, para as palmas, para gritos sem nexo e para as vaias.

O bom das vaias é que elas não exigem muito. Você não acompanha o seu time, não sabe muito o que acontece politicamente nos clubes, vê uma ou outra notícia. Sabe bulhufas de nada. Aí o time joga mal, por muitos os motivos possíveis, e então se vaia. Usa-se essa articulação entre cordas vocais e algumas sinapses cerebrais e, voilà, tem-se um bela (e divertida) apresentação sonora.

Não quero aqui defender que o estádio deva ser território exclusivo das torcidas organizadas. Que deva ser palco restrito somente para quem torce. Queiramos ou não, gostemos ou não, no entanto, sem elas, os jogos seriam marchas fúnebres. Diferentemente de outros países, como em alguns europeus e em quase toda a América do Sul, a torcida brasileira é silenciosa e reativa. Reage ao que o time em campo oferece naquele momento, esquecendo-se de todo o resto. Em anos recentes, com a política de inclusão desenfreada de elites econômicas nos estádios e a política conjugada de exclusão de camadas mais populares e mais acostumadas a se esgoelar por suas equipes, o cenário se complicou ainda mais. Eu soou brasileeeiro, com muito orguuulho, com muiiito amor. Mais vergonha alheia, só mesmo uma selfie com o Eduardo Cunha no Mané Garrincha ou na Câmara dos Deputados.

Eis que, então, para melhorar as condições normais de temperatura e pressão, ouvem-se burburinhos aqui e acolá em prol de torcidas únicas nos estádios. O argumento é patético. Brigas entre torcidas raramente acontecem nas arquibancadas e são marcadas previamente; proibir que ambas as agremiações organizadas possam torcer é iniciativa de quem conhece muito pouco o futebol. Ou, pelo contrário, de quem conhece muito e, por isso, quer higienizá-lo e torná-lo acessível e comercializável. Seeeenta!

Na contramão disso, enquanto o futebol ainda sofre com essa elitização sanguinária e enquanto a reação está sendo articulada, peço um pequeno favor. À partida, levem apenas o coração, a camisa de seus clubes e o grito. Esqueçam o wi-fi, os ângulos bons para o insta, a cobertura que impede a chuva de cair na cara. Esqueçam os instantes de silêncio, as palmas, as vaias. Levem somente a alma e a vontade de fazer daquelas duas horas as derradeiras de sua vida. As fotos, todo mundo vê depois, já sem voz, mas com o sorriso no rosto e a alegria de quem se arrepia pelo time.

Por que ir a jogos da série A em Brasília

Por Rafael Mota

Historicamente os times da capital não costumam frequentar a primeira divisão do futebol brasileiro . O Brasiliense (clube de apenas 15 anos de idade) , por mais que já tenha algumas glórias em seu histórico (como um vice campeonato da Copa do Brasil , um título da série B e vários campeonatos regionais) , só participou da primeira divisão uma vez , em 2005 . Já o Gama se aventurou na elite do futebol brasileiro por quatro anos (de 1999 à 02) , sendo inclusive o único time da história do futebol mundial a jogar um campeonato sob a força de uma decisão judicial (Copa João Havelange , que serviu como Campeonato Brasileiro no ano de 2000) , graças a um rebaixamento ilegal . Os dois times , únicos da cidade a já participarem da série A , somam um total de cinco participações na primeira divisão , ou seja , somente em cinco anos a população de Brasília pode presenciar o que há de melhor no futebol brasileiro de forma regular . O número é baixo mesmo se comparado com centros de menor expressão no Brasil como Belém , Santa Catarina e Goiás.

Recentemente com a conclusão da reforma do estádio Mané Garrincha (principal palco do futebol em Brasília) a capital passou a receber um grande volume de jogos do campeonato brasileiro , 18 desde a conclusão da reforma . Os jogos foram trazidos para a cidade por diversos motivos , porém o que essas partidas tem em comum são um contexto atrativo que possibilita aos clubes uma maior arrecadação ao trazer o jogo para a cidade .
Como por exemplo o primeiro jogo de campeonato brasileiro no estádio pós reforma (segundo jogo no geral) , o empate sem gols entre Santos e Flamengo . O jogo marcava a despedida de Neymar da equipe santista e ocorreu as vésperas do início da Copa das Confederações , servindo de teste para o evento . A curiosidade em conhecer um estádio de Copa do Mundo era grande , isso aliado a despedida de Neymar e ao time do Flamengo , que possui uma volumosa torcida na cidade e com capital para bancar os salgados preços dos ingressos , fez do jogo um evento que chamou atenção de toda a cidade levando um total 63.501 pagantes e gerando quase 7
milhões de renda , um sucesso .

O time do Flamengo percebendo o sucesso do jogo decidiu arriscar e começou a trazer mais alguns jogos para a cidade , jogos sempre interessantes diga – se de passagem , como o empate em 2×2 contra o Curitiba de Alex e então líder do campeonato , o clássico dos milhões (Flamengo x Vasco) ,vencido pelo placar mínimo pelos rubro negros e o jogo contra o futuro campeão da américa , Atlético Mineiro , também vencido pelos rubro negros . Todos os jogos deram bom público e boa arrecadação tanto que a equipe rubro negra ainda traria mais quatro jogos para a capital naquele ano(contra São Paulo , Portuguesa , Grêmio e Vasco mais uma vez) .

Botafogo e Vasco , também se arriscaram e trouxeram alguns jogos para a cidade , a estrela solitária trouxe o empate por 1×1 com o Goiás , enquanto o gigante da colina empatou pelo mesmo placar com o Corinthians , além de jogar duas vezes com o Flamengo , todos esses jogos somam um total de 10 partidas da série A do campeonato brasileiro disputadas na capital em 2013 , número de partidas que representa metade de um turno que uma equipe disputa no campeonato .

O ano de 2014 foi mais fraco para Brasília , tendo apenas seis jogos realizados . Os times cariocas perceberam que possuem grande torcida na cidade e continuaram a trazer jogos para a cidade , Botafogo foi quem mais trouxe , 3 no total , contra São Paulo (derrota por 4×2) , Alético Mg ( empate 0x0 ) e o clássico contra o Fluminense ( vitória por 2×0 ) , o tricolor carioca por sua vez também mandou um jogo na capital , empate por 1×1 com o Bahia . O Vasco , na série B naquele ano , não mandou nenhum jogo na cidade , e o Flamengo trouxe um empate sem gols contra o Goiás para o DF . Além disso , o então campeão brasileiro , Cruzeiro , veio jogar na cidade em um jogo com mando do Atlético Paranaense , com vitória de 3×2 para os mineiros .

Por vários motivos a capital recebeu menos jogos em 2014 . Um ano de copa por ter um calendário mais enxuto , para conseguir acomodar a parada para o evento , faz com que os times evitem viagens desnecessárias para não se desgastar demais , logo a cidade já receberia menos partidas naturalmente , a perda do interesse em conhecer o novo estádio (visto que no ano anterior o Mané recebeu 10 jogos de série A , um jogo do Brasil na Copa das Confederações e a final do candangão) , somado a falta de interesse por futebol pós 7×1 , além da enorme diferença de qualidade entre jogos do campeonato brasileiro com os da Copa do Mundo , muitos vistos pelos moradores “in loco“ ( Brasilía foi junto com o Rio a sede que recebeu mais jogos da copa , sete , sendo dois do Brasil , além de receber craques como Messi , Cristiano Ronaldo , Robben , James Rodriguez e Neymar ) , fizeram com que o público da cidade desanimasse em ir ao estádio para ver jogos da série A , o que fêz com que os públicos no pós copa fossem menores , fazendo com que o desejo dos times em trazer jogos diminuísse .

Até agora em 2015 , Brasília recebeu duas partidas da série A , o galo trouxe o jogo contra o Fluminense para a capital e amassou o time carioca por 4×1 , e o Vasco trouxe a partida contra o São Paulo e foi goleado por 4×0 . Além disso a capital recebeu um jogo da série B , Botafogo contra Atlético Goianiense , empate sem gols , e duas partidas de pré temporada de Flamengo e Cruzeiro contra a equipe ucraniana do Shakhtar Donetsk , empate sem gols dos cariocas e empate por 1×1 dos mineiros . A vinda de jogos de pré temporada contando com um time estrangeiro , mostra que ainda há interesse em trazer jogos para a cidade , além disso os jogos da série A renderam melhor que os do período pós copa.

Entre os anos de 2006 (ano em que o Brasiliense voltou a série B , deixando a capital sem representate na série A) e 2012 (ano que antecede a reabertura do Mané Garrincha), Brasilía recebeu apenas 3 jogos de primeira divisão , uma vitória do Botafogo por 2×0 sobre o Atlético Paranaense , um empate por 1×1 entre Fluminense e Figueirense , ambas as partidas realizadas em 2007 , e a “decisão”do campeonato brasileiro de 2008 vencida pelo São Paulo por 1×0 sobre o Goiás disputada no Bezerrão .

O Número é irrisório se comparado com os números pós reforma , porém é um retrato de como os clubes tratavam a capital quanto a receber suas partidas , não havia interesse em trazer jogos para a cidade . As partidas vinham por acaso , por motivos aleatórios e não porquê os times tinham interesse em explorar suas torcidas na cidade (*o jogo entre São Paulo e Goiás , teve mando do time goiano , que por sua vez , soube explorar o potencial do jogo e da grande torcida do time paulista na cidade ao fixar o preço do ingresso em R$ 400,00 ) .

O fato novo é que com a reinauguração do Mané Garrincha , os times perceberam o potencial de Brasília em receber jogos , perceberam que a capital é capaz de gerar uma boa renda e um bom público com frequência , mesmo quando o jogo não é muito atrativo e mesmo com ingressos caros . Ao contrário dos cariocas , dos paulistas e dos mineiros , os brasilienses não estão acostumados a ver seus times do coração e vão ao estádio quando seus times vem a cidade por mais caro que seja o ingresso e por pior que seja o jogo , tendo um estádio de Copa do Mundo o interesse só aumenta . Além disso , os clubes visando aproveitar ao máximo o potencial da cidade costumam trazer partidas interessantes à ela , como jogos envolvendo times que estão na parte de cima da tabela , clássicos regionais , grandes jogadores e grandes times , gerando um evento mais rentável do que se mandassem os jogos em seus estádios (onde os grandes jogos são mais comuns) , visto que podem cobrar um ingresso mais caro , explorar a paixão do torcedor que mora longe do time , além de despertar a curiosidade em amantes de futebol para ver um jogo da série A .

É importante que os torcedores compareçam ao estádio quando seus times vierem jogar em Brasília , pois dessa forma os times continuarão com o interesse em trazer jogos para a cidade e trarão jogos cada vez mais interessantes para ela .
Um dos grandes problemas dos jogos são os altos preços das entradas , pois além de assustar o torcedor com mais condições , claramente renega o mais humilde. Para as partidas na capital , além dos usuais camarotes , são vendidos ingressos com preços fixos para ambas as torcidas nas cadeiras inferiores e se há demanda a venda da cadeira superior é aberta . Resolver o problema do preço dos ingressos é bastante simples : venda de ingressos para os dois setores com diferença de preço , o preço das cadeiras inferiores pode ser o mesmo que já seria cobrado e o das cadeiras superiores seria um pouco mais barato , dessa forma mais ingressos seriam vendidos , maior seriam público e renda . Porém , como a prática não dá sinais de que irá parar e como é comum em todo o país , é melhor ir se prevenindo . Poupar dinheiro quando der e ir juntando para quando aparecer um jogo do seu time é a melhor opção .

Esse inclusive é o outro problema dos jogos na capital , eles sempre são anunciados em cima da hora , deixando o torcedor na mão . Resolver esse problema também não é difícil , basta que antes do começo das competições os times olhem a tabela e marquem os jogos na cidade com antecedência , claro que dessa maneira jogos contra os times da parte de cima da tabela tendem a ser mais difíceis de acontecer , porém o torcedor poderia se programar e gerar um grande público mesmo que o jogo venha a ser fraco , além do mais jogos contra adversários tradicionais sempre gerarão bom público , independente das posições dos times envolvidos , alguns desses jogos poderiam vir para a capital . Mas como isso também não deve acontecer , ir sempre poupando dinheiro onde der é a melhor saída para não perder o jogo .

O fato é que mesmo com todos os problemas , ir a um jogo do seu time , é uma experiência incrível para amantes de futebol de todas as idades . Os jogos em Brasília costumam ser partidas interessantes e que poucas vezes acabam sem gols , além disso , ocorrem de uma forma tão esporádica que desperdiçar a chance de ir em um é bobagem , pois além de perder um bom jogo , é contribuir para que os times percam o interesse em jogar na cidade . De fato os torcedores da cidade não podem ficar reféns dos altos preços e nem aprender a lidar com isso , porém os ingressos tendem a diminuir quando a cidade se firmar como uma casa alternativa para os times e for capaz de gerar uma receita padrão, pagar os altos preços agora seria uma forma de investimento a longo prazo .
O que ninguém quer que aconteça é o que aconteceu entre 2006 e 2012 , onde a capital só recebeu 3 míseras partidas da primeira divisão do brasileirão . Só há duas maneiras para evitar que isso aconteça , a primeira é frequentar os estádios mesmo com os preços altos e com a falta de programação dos jogos , a segunda é torcer para que Gama , Brasiliense , Legião , Brasília e os demais times da cidade se reabilitem e cheguem a série A , porém como o time em melhor situação é o Gama , que esta na série D , ir aos jogos da série A é a melhor opção á curto , médio e longo prazo para firmar Brasília na rota dos grandes jogos do Brasil.

A pior torcida do Brasil

José Eduardo

Não. Este post não é para falar sobre as torcidas dos famosos “Grêmio Itinerantes”, como diz Mauro Cézar Pereira. A pior torcida do Brasil é de um time médio-grande, finalista de Copa Sulamericana, o tradicional Goiás Esporte Clube.

A princípio, o leitor pode se perguntar: porque o Goiás e não o Duque de Caxias, por exemplo? O Duque teve uma média de 262 torcedores na série B 2009 (salvo o mando de campo vendido ao Vasco), com o auge de 5 torcedores contra a Ponte Preta. E respondo que a questão é mais profunda.

A começar pela grandeza dos Clubes. O Goiás figura quase todos os anos na primeira divisão. Bicampeão da série B, o Esmeraldino é considerado o maior time do Centro-Oeste. E sua torcida pequena no estádio diverge da grandeza da nação esmeraldina, estimada em mais de 400 mil torcedores, capaz de lotar o Serra Dourada mais de 8 vezes.

Mas, para entender o que acontece com o Goiás, temos que analisar o futebol de Goiânia. A cidade possui 3 grandes Clubes (Goiás, Vila Nova e Atlético). A maior torcida e os maiores títulos estão com o Verdão. O Vila vem em uma decrescente. No último ano foi rebaixado para a série C do Brasileiro e para a segundona estadual. O Atlético, conhecido, por gozação, por ter uma pequena e idosa torcida, está na série B do Brasileiro e não conseguiu, sequer, a classificação para o mata-mata no estadual 2015. Enquanto o Goiás papa os títulos regionais e se mantém na elite nacional.

Outro passo para analisarmos o papel do torcedor esmeraldino é observar a média de público. O Vila, na terceira divisão, tem média de 6.525 torcedores. O Atlético de 1.381 no Serra Dourada (salvo o jogo com o Botafogo em Brasília) e o Goiás, a duras penas, consegue ter a pior média da série A, com 2.458 torcedores.

A princípio, portanto, a torcida do Atlético é pior que a do Goiás. Mas os números não podem ser analisados friamente. O Goiás tem a maior torcida de Goiânia. De acordo com o Instituto Fortiori, aproximadamente 27,3% dos goianienses torcem para o Goiás, enquanto apenas 4% são atleticanos. E o Dragão ainda está na série B.

Mas mesmo que a torcida do Goiás fosse minúscula no estádio, mas apoiasse, não estaria aqui discutindo. O problema é que a torcida não apoia. Terminando o campeonato brasileiro 2013 em 6º lugar, a torcida ia ao estádio cobrar vitórias. A irritação dos jogadores foi tanta que o ídolo Walter perdeu a cabeça após uma vitória.

Ainda assim, não seria motivo para ser a pior torcida de todas. Torcida chata e plateia, existe aos montes. Como a dos grandes times europeus. Torcida inexistente então, é a regra no interior do país.

O diferencial negativo para a torcida esmeraldina é a violência. Dia de jogo, em Goiânia, é guerra. Vila Nova x Goiás, melhor ficar bem longe do estádio.

Todo jogo do Goiás são ocorrências e mais ocorrências. Aqui vai meu relato, que saí de Brasília para ver meu time jogar contra o esmeraldino.

“Saí de casa por volta de 16 horas. A partida era às 20h30. Cheguei a Goiânia 19:45 e fui direto para o estádio. Estava acompanhado do meu irmão. Paramos na frente do portão de acesso à torcida visitante. Saí com duas camisas e uma bandeira para rumar cerca de 500 metros. Um percurso curtíssimo.

Neste meio tempo, aproximadamente 15 jovens, não mais que 16 anos, me abordaram. Gritaram de longe e saíram correndo atrás de mim. Me agrediram, me bateram, me furtaram as roupas, me jogaram no chão e arrancaram minha camisa a força. Rasgaram aquela camiseta de 1982 que temia em ficar em meu corpo. Ela não queria sair. Até que foi, fio-a-fio, tomada de mim.

A polícia não estava a 200 metros de mim. Falei para eles o ocorrido (que provavelmente eles viram) e ouvi a resposta: “Aqui em Goiânia é assim mesmo, quem manda são eles”

E quem manda são eles mesmo. Nenhum dos agressores eram de torcida organizada, não vestiam camisas nem adornos. Tampouco eu. Mas os vi, dentro do estádio, entregando as camisas para os marmanjos da Força Jovem do Goiás para que eles queimassem, na minha frente, as camisas.

Ao entrar no estádio, encontrei uma família inteira também sem camisa, entre elas um idoso. Todos furtados.”

A torcida do Goiás é ódio. Melhor seria uma pequena torcida, inexistente, que uma hostil facção criminosa.

Por isso, a torcida do Goiás é a pior. Ela consegue tirar os predicados mais nojentos das torcidas e aglutinar. A violência, a pouca existência e a falta de apoio.

Veja alguns vídeos da imbecilidade desta torcida:

Anjos e demônios

Vinicius Prado Januzzi

Uma das primeiras palavras que ouvimos quando o tema de debate é torcida organizada é violência. Você liga o rádio, a TV ou acessa a internet após o jogo e é bombardeado: “Vândalos entram em confronto”, “Torcidas do próprio time entram em conflito durante a partida”, “Violência e barbaridade no clássico de domingo”.

Há uma premissa óbvia aqui: ser torcedor organizado é ser violento, logo, é ser bandido, marginal, criminoso, bárbaro, selvagem, vândalo, desocupado, vagabundo, pilantra. Fazer parte de uma torcida organizada é integrar uma facção, um bando, uma quadrilha criminosa, uma matilha. Os adjetivos são muitos e monotemáticos: torcida organizada é o mal.

E como fazer para eliminar o mal? Nada mais simples. São duas propostas básicas que se discutem hoje em dia: uma que propõe jogos de torcida única e outra que debate a extinção das torcidas organizadas. Ambas, a bem da verdade, fazem parte do mesmo viés de políticas: excluir. Não é preciso pensar muito para ver que a solução é frouxa, além de errônea e perversa.

E isso por quê? Sejamos uma autoridade nesse momento. Você vê que há um problema que você precisa corrigir. Ou não torcemos mais ou fingimos que vamos excluir certos grupos de pessoas. Alguém aí imagina que por decisão legal, formal, burocrática, jurídica, sumirão os torcedores organizados? De uma hora para outra, concordarão todas e todos das agremiações que “realmente, o que fizemos foi feio, os caras estão certos.”?

Não. Óbvio que não.

Excluir torcidas organizadas é jogar a poeira por baixo do tapete. Imaginem agora que aconteça uma briga fora dos estádios e não há ninguém que esteja identificado com nenhum grupo específico. Você, promotor, olha e pensa: olha, não há mais torcidas, o problema acabou. Seria cômico, se não fosse trágico.

Outra hipótese. Trata-se de uma analogia estúpida, mas é por ela que pensam mais ou menos nossa intelligentsia: vamos partir do pressuposto absurdo de que as torcidas organizadas são facções criminosas; são como o PCC ou o Comando Vermelho, no modo como entendemos grupos criminosos. Eis que por um decreto: “Pelos poderes a mim concedidos, declaro extinto o Comando Vermelho”. Pronto, hora de ir tomar minha Stella na Arena.

Há muitas discussões claras que não queremos travar aqui. E digo no plural, porque boa parte da mídia, dos clubes e de nós torcedores não quer entrar nesse vespeiro. Se a trama é complicada, vamos esperar para ver no que ela vai dar, eu é que não boto minha mão no fogo por isso. Não discutimos os porquês das violências, as deficiências no policiamento e, sobretudo, não entendemos quem são as torcidas organizadas. Quem. Só nos damos conta que elas existem quando vemos algumas brigas. Só olhamos para elas quando queremos enxergar o mal que vemos nelas. É o olho punitivo que só vê o que quer, para fazer o que quer que venha à telha.

Há brigas? Há massacres? Há espancamentos? Há mortes? Sim. Ninguém deveria ser tolo em negar isso para também afugentar o problema. Agora: são esses fenômenos exclusivos das torcidas? Quase como que uma característica intrínseca a elas? São esses torcedores lobos famintos contra os quais nada se pode fazer e nós as ovelhas samaritanas pelas quais é preciso orquestrar algo para nos defender? Bem ou mal, faça sua escolha?

Bobo demais. É claro que não há só santos nas organizadas. Agora, onde há? Que tipo de violência que topamos como legítima? É mais violento o torcedor que bate ou o policial que espanca? É mais violento o sistema que trancafia e joga pessoas aos ratos ou um pequeno grupo que se estraçalha entre si? Nenhum, nem outro. Uns aceitamos, outros não. A uns batemos palmas, nos outros mijamos em cima.

Pois bem, entramos no vespeiro. Porque é preciso entrar; é preciso debater, por a cara a tapa, lutar pelo futebol que queremos. Sair de soluções imediatistas e aparentes. Encarar a violência não como própria de um grupo e ver mais como ela nos atravessa. Não são os pobres os violentos, não são os torcedores corinthianos, os da Gaviões, os da Mancha, os da Urubuzada os que precisamos crucificar. Excluir não é palavra-chave aqui. Porque ou se esconde algo e se vive às custas disso ou se enfrenta e daí vêm as cicatrizes. Por um futebol antielitista, eu prefiro as marcas da luta.

Torcida Turista de Brasília

1 bilhão de reais. Este foi o custo para reformar, demolir e reconstruir o novo Estádio Nacional de Brasília (Mané Garrincha não merece ter seu nome nesta construção). A Copa do Mundo chegou e, com ela, a elitização do futebol.

Flamengo, São Paulo, Corinthians, Vasco, Fluminense, Botafogo, Santos, Cruzeiro, Atlético-MG, Grêmio foram os principais times a jogar no “ex-tádio”. Perdão para o neologismo, mas estádio me parece não ser a definição correta.

O primeiro jogo grande já daria a pinta de como seria o turismo pelo Estádio Nacional. Santos e Flamengo jogaram para 63.501 torcedores. Perdão. Para uma plateia de 63.501 espectadores. A saudade dos brasilienses em ver seus times jogarem fez com que eles fizessem loucuras. 80, 100, 200 reais o ingresso. Renda recorde de vergonhosos R$6.948.710. Ingresso médio de R$109,43. CENTO E NOVE REAIS Isso mesmo, a maior renda do futebol brasileiro à época é uma vergonha.

Vergonhosa a exploração do pobre turista. Como fazem os tupiniquins com o “jeitinho brasileiro” quando veem gringos nas ruas. O preço se eleva, sobe até que atinge um pico absurdo. E o forasteiro, que escolha tem?

O turista paga caro, leva um produto horrível e não sabe se comportar. É o alemão que vai para o Rio de Janeiro, paga 30 reais numa caipirinha feita com a pior cachaça e se lambuza, feliz e contente, sem saber o que está fazendo.

E foi o que aconteceu naquele Santos e Flamengo. Nas arquibancadas, as imagens que causam orgasmos na Globo. A famosa torcida mista, que de torcida não tem nada. Torcida mista é a que observamos no Grenal, no antigo Maracanã ou no antigo Mineirão. Agora é plateia mista. Naquele dia, flamenguistas e santistas sentavam lado a lado. Calavam-se lado a lado. Quando muito, ouvia-se o puxar do hino de um dos clubes, que se esgotava logo no refrão. A plateia não sabia o restante da composição. O que podem fazer se não sabem torcer? Pagaram caro, receberam o futebol brasileiro, uma prévia do 7 a 1

Como havia dito, aquele jogo era só uma prévia. Com a brecha do Santos, era a vez dos outros clubes virem enganar e se aproveitar do turista. O Flamengo, só naquele ano de 2013 jogou contra Vasco, Portuguesa, Coritiba, São Paulo, além do próprio Santos, no Estádio Nacional. Mas cada time teve sua chance de colocar os ingressos a 80 reais e ver o torcedor ficar bem longe do lugar. Quem ia? O rico, a família, que nada mais é do que o espectador que abunda na cadeira por 70 minutos (35 de jogo, vai para o bar, compra um salgado e um refrigerante por 20 reais, volta, assiste mais 35 minutos de jogo e vai embora antes que comece o trânsito). É aquele que não tem paixão. Não tem amor pelo clube. Que vê na partida, um divertimento, um passatempo numa cidade cada vez mais monótona.

Seria injustiça falar que não há torcedor de verdade no ex-tádio. Existe, mas ele não tem companhia. Ele não consegue organizar todos os torcedores e se aglomerar em um lado do estádio, cantar as músicas e apoiar. A ordem é a torcida mista. Você é obrigado sentar ao lado do rival. E ouse levantar. Assistir ao jogo em pé é mito. Não existe.

Veja que não incito a violência. Só não quero, de forma alguma, no meu absoluto momento de tristeza, ter de conviver com a felicidade a um palmo de mim. Quero estar triste com minha torcida triste. Quero chorar e ver todos ao meu lado chorando. Assi como quero ser feliz com meus companheiros felizes. Eu quero ser torcedor.

Não ao futebol moderno.
Não ao futebol turista.

Receba!

Rafael Montenegro

Nesta quinta-feira, Boca e River fazem, em La Bombonera, o jogo de volta das oitavas de final da Libertadores. O River tem o 1×0 da ida e o Boca tem a seu favor o melhor time e o fato de jogar em casa. Como em qualquer bom clássico, previsões são meros chutes e tudo pode acontecer. Certeza mesmo, só temos uma.

O recibimiento. Os Millonários fizeram no Monumental semana passada, os Xeneizes farão amanhã. Uma das mais lindas tradições do futebol, cunhada no íntimo de cada torcedor sulamericano. Um espetáculo que nos põe de frente para as modernas arenas brasileiras e nos questiona que caralhos estamos fazendo com nosso futebol.
No entrar dos times em campo, as arquibancadas, apinhadas de gente, transcendem em fumaça, poeira, sinalizadores, toneladas de fogos de artifício, guarda-chuvas, bandeiras, faixas, trapos, serpentinas, confetes, cores, barulhos, mãos para o alto, cabeças para trás, gargantas roucas e alma.

A entrada em campo é o ritual de concentração para os 22 que vão jogar bola. Há quem use esse momento para recibir o espírito do estádio, para pintar o escudo do time no céu. Por aqui, a digníssima* CBF põe os times para entrarem juntos em campo, constrangidos, melancólicos, buscando um protocolo como o da Champions League e conseguindo algo parecido com uma gincana de colégio.

Claro que as torcidas gritam e dão o apoio em diferentes intensidades. Mas as mãos dos torcedores estão atadas sem uma bandeira de bambu e com um pau de selfie. Sem o sinalizador e com o celular com flash. Com as cadeiras e sem a arquibancada.

Por isso, passatempo de quinta-feira é ver a loca hinchada de Boca inflamar a arquibancada e engolir a seco lembrando do Maracanã, do Morumbi, do Mineirão, do Olímpico, do Beira-Rio, da Fonte Nova (…) de outrora.

*Doravante, digníssima é a alcunha que usarei para me referir à CBF.

Grandes recibimientos:
Peñarol em 2011

River 96

Boca 2012

Racing (y el trapo más grande del mundo)