Torcida Turista de Brasília

1 bilhão de reais. Este foi o custo para reformar, demolir e reconstruir o novo Estádio Nacional de Brasília (Mané Garrincha não merece ter seu nome nesta construção). A Copa do Mundo chegou e, com ela, a elitização do futebol.

Flamengo, São Paulo, Corinthians, Vasco, Fluminense, Botafogo, Santos, Cruzeiro, Atlético-MG, Grêmio foram os principais times a jogar no “ex-tádio”. Perdão para o neologismo, mas estádio me parece não ser a definição correta.

O primeiro jogo grande já daria a pinta de como seria o turismo pelo Estádio Nacional. Santos e Flamengo jogaram para 63.501 torcedores. Perdão. Para uma plateia de 63.501 espectadores. A saudade dos brasilienses em ver seus times jogarem fez com que eles fizessem loucuras. 80, 100, 200 reais o ingresso. Renda recorde de vergonhosos R$6.948.710. Ingresso médio de R$109,43. CENTO E NOVE REAIS Isso mesmo, a maior renda do futebol brasileiro à época é uma vergonha.

Vergonhosa a exploração do pobre turista. Como fazem os tupiniquins com o “jeitinho brasileiro” quando veem gringos nas ruas. O preço se eleva, sobe até que atinge um pico absurdo. E o forasteiro, que escolha tem?

O turista paga caro, leva um produto horrível e não sabe se comportar. É o alemão que vai para o Rio de Janeiro, paga 30 reais numa caipirinha feita com a pior cachaça e se lambuza, feliz e contente, sem saber o que está fazendo.

E foi o que aconteceu naquele Santos e Flamengo. Nas arquibancadas, as imagens que causam orgasmos na Globo. A famosa torcida mista, que de torcida não tem nada. Torcida mista é a que observamos no Grenal, no antigo Maracanã ou no antigo Mineirão. Agora é plateia mista. Naquele dia, flamenguistas e santistas sentavam lado a lado. Calavam-se lado a lado. Quando muito, ouvia-se o puxar do hino de um dos clubes, que se esgotava logo no refrão. A plateia não sabia o restante da composição. O que podem fazer se não sabem torcer? Pagaram caro, receberam o futebol brasileiro, uma prévia do 7 a 1

Como havia dito, aquele jogo era só uma prévia. Com a brecha do Santos, era a vez dos outros clubes virem enganar e se aproveitar do turista. O Flamengo, só naquele ano de 2013 jogou contra Vasco, Portuguesa, Coritiba, São Paulo, além do próprio Santos, no Estádio Nacional. Mas cada time teve sua chance de colocar os ingressos a 80 reais e ver o torcedor ficar bem longe do lugar. Quem ia? O rico, a família, que nada mais é do que o espectador que abunda na cadeira por 70 minutos (35 de jogo, vai para o bar, compra um salgado e um refrigerante por 20 reais, volta, assiste mais 35 minutos de jogo e vai embora antes que comece o trânsito). É aquele que não tem paixão. Não tem amor pelo clube. Que vê na partida, um divertimento, um passatempo numa cidade cada vez mais monótona.

Seria injustiça falar que não há torcedor de verdade no ex-tádio. Existe, mas ele não tem companhia. Ele não consegue organizar todos os torcedores e se aglomerar em um lado do estádio, cantar as músicas e apoiar. A ordem é a torcida mista. Você é obrigado sentar ao lado do rival. E ouse levantar. Assistir ao jogo em pé é mito. Não existe.

Veja que não incito a violência. Só não quero, de forma alguma, no meu absoluto momento de tristeza, ter de conviver com a felicidade a um palmo de mim. Quero estar triste com minha torcida triste. Quero chorar e ver todos ao meu lado chorando. Assi como quero ser feliz com meus companheiros felizes. Eu quero ser torcedor.

Não ao futebol moderno.
Não ao futebol turista.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logotipo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Google

Você está comentando utilizando sua conta Google. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

%d blogueiros gostam disto: