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A impunidade da Conmebol: desta vez, tem que ser diferente

José Eduardo

Buenos Aires (ARG), 14/05/2015

Boca Juniors e River Plate protagonizavam o maior clássico das Américas (para mim, do mundo). Até que, na volta para o segundo tempo, hinchas do Boca atearam gás de pimenta dentro do túnel dos vestiários dos Millonarios. Alguns jogadores foram, inclusive, levados a hospitais com queimaduras pelo corpo. Além disso, um drone, pilotado por torcedores de dentro do estádio, sobrevoou tranquilamente La Bombonera com provocações ao River.

É a chance da Conmebol agir.

O julgamento é simples. O artigo 23 do regulamento diz: “Sem prejuízo a outras sanções que podem ser impostas, qualquer equipe cuja responsabilidade determine o resultado de uma partida, este será considerado perdedor do encontro por 3-0. Se o resultado real fosse menos favorável para o clube ou associação responsável, este resultado se manterá”. Siga o regulamento, Conmebol.

Julgamentos conhecidamente falhos que esta instituição falida costuma fazer. Lembremos os dois mais recentes.

Huancayo (PER), 12/02/2014

O Real Garcilaso, minúscula equipe do Peru, enfrentava o Cruzeiro. Na ocasião, o jogo fluia sem maiores problemas até que o jogador Tinga, negro e de cabelo rastafári, entra em campo. Foram 15 minutos de ininterrupta vergonha. O que se viu ali foram descendentes indígenas, como é a magnífica e miscigenada sociedade peruana, imitando macacos toda vez que tinha tocava a bola. Racismo em plena América do Sul.

A Conmebol julgou o caso. Pasme: a decisão foi de que os insultos não eram direcionados ao jogador. Por isso, não se caracterizou racismo. Obviamente, imitar macacos é um cântico comum no Peru, segundo a Conmebol (ironicamente, sempre comandada pela elite paraguaia da família do senhor Nicolás Leoz. Branco, rico).

Oruro (BOL), 20/02/2013

O San Jose recebeu o Corinthians. A partida foi marcada por uma das maiores vergonhas do futebol contemporâneo. Torcedores (bandidos) do Timão lançaram um sinalizador em direção à torcida local e mataram Kevin Espada, torcedor de 14 anos. Primeiramente, dona Conmebol, como conseguiram os torcedores entrar com sinalizadores? Segundo, M-O-R-T-E. MORTE NO ESTÁDIO. E então, vamos à decisão da Vergonha*. Ela decidiu que o Corinthians fosse punido com um mando de campo. Até aí, realmente tudo bem, porque a diretoria do Timão fez de tudo para buscar os responsáveis pelo assassinato, bem como outros “torcedores” que deveriam ser banidos de estádios de futebol.

Prosseguindo o julgamento: Primeiramente, nenhuma senteça para o San Jose, que não fez a segurança do estádio. Deixou a torcida visitante entrar com sinalizadores, proibido no regulamento. Depois: NENHUMA SENTENÇA AOS ASSASSINOS. Eles foram presos pela polícia boliviana. Mas, agora soltos e deportados ao Brasil, continuam fazendo seus crimes pelos estádios da América do Sul. A Deprimente* poderia exigir que o Corinthians certificasse que estes delinquentes nunca mais fosse a jogos do time, ou que ela mesma o fizesse, exigir das autoridades brasileiras uma ação, poderia punir o Corinthians desportivamente, mas ela preferiu tirar um mando de campo. Suficiente.

Portanto, dona Gagá*, cumpra o regulamento escrito por ti, melhore este campeonato. Elimine o Boca Juniors. Elimine os assassinos, os bandidos.

O espírito de raça da Libertadores se limita à paixão dos jogadores e das torcidas. Não tem nada a ver com violência.

*Por exaustiva repetição do nome da Instituição Falida, o nojo me tomou conta e introduzi adjetivos/sinônimos no lugar do verdadeiro nome da Conmebost#*

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Rafael Montenegro

Nesta quinta-feira, Boca e River fazem, em La Bombonera, o jogo de volta das oitavas de final da Libertadores. O River tem o 1×0 da ida e o Boca tem a seu favor o melhor time e o fato de jogar em casa. Como em qualquer bom clássico, previsões são meros chutes e tudo pode acontecer. Certeza mesmo, só temos uma.

O recibimiento. Os Millonários fizeram no Monumental semana passada, os Xeneizes farão amanhã. Uma das mais lindas tradições do futebol, cunhada no íntimo de cada torcedor sulamericano. Um espetáculo que nos põe de frente para as modernas arenas brasileiras e nos questiona que caralhos estamos fazendo com nosso futebol.
No entrar dos times em campo, as arquibancadas, apinhadas de gente, transcendem em fumaça, poeira, sinalizadores, toneladas de fogos de artifício, guarda-chuvas, bandeiras, faixas, trapos, serpentinas, confetes, cores, barulhos, mãos para o alto, cabeças para trás, gargantas roucas e alma.

A entrada em campo é o ritual de concentração para os 22 que vão jogar bola. Há quem use esse momento para recibir o espírito do estádio, para pintar o escudo do time no céu. Por aqui, a digníssima* CBF põe os times para entrarem juntos em campo, constrangidos, melancólicos, buscando um protocolo como o da Champions League e conseguindo algo parecido com uma gincana de colégio.

Claro que as torcidas gritam e dão o apoio em diferentes intensidades. Mas as mãos dos torcedores estão atadas sem uma bandeira de bambu e com um pau de selfie. Sem o sinalizador e com o celular com flash. Com as cadeiras e sem a arquibancada.

Por isso, passatempo de quinta-feira é ver a loca hinchada de Boca inflamar a arquibancada e engolir a seco lembrando do Maracanã, do Morumbi, do Mineirão, do Olímpico, do Beira-Rio, da Fonte Nova (…) de outrora.

*Doravante, digníssima é a alcunha que usarei para me referir à CBF.

Grandes recibimientos:
Peñarol em 2011

River 96

Boca 2012

Racing (y el trapo más grande del mundo)