Gente diferenciada

Por Vinicius Prado Januzzi

Dois tipos de rankings me causam ojeriza no recente futebol brasileiro. Ambos conferem veracidade à máxima já incontestável de que todo dia, gostemos ou não, é dia de um 7×1 diferente.

Perambulando noite afora por sites de notícias esportivas, os leitores já devem ter visto listas com os clubes que mais arrecadam em seus estádios e também aqueles que possuem mais sócios torcedores. Semana após semana, os pódios são atualizados, com os vencedores da vez, os Dicks Vigaristas do dia, os perdedores de sempre. Como diria a camiseta: Seven-One was little.

Nada contra tais informações. Nem a favor. Mostradas como são, não acrescentam absolutamente nada ao futebol. Aos dados estatísticos, pouco é comentado ou acrescentado. Os números são quase que jogados aos leões, usados para alimentar rivalidades antigas e atualizadas bisonhamente nas expressões: “minha arena arrecada mais que a sua”; “meu clube tem mais sócios que o seu”; “olha lá, que estádio/clube de merreca o seu, que nem arrecada”.

Que quer dizer um estádio que acumula milhões? Que afirmar de torcidas que pagam mais e lotam os confortáveis bancos de suas arenas à espera do cachorro quente no intervalo? Que fazer diante de clubes que aumentam aos milhares seu número de sócios ao longo de uma só semana, sem oferecer benefícios concretos ou coisas que realmente valham a pena? Quando falo que os rankings nada acrescentam é em relação a essas questões que me debruço. Afinal de contas, se os estádios estão cheios e ricos, quem é essa torcida que os ocupam? Se os sócios vêm aos montes, vêm pelo quê? Para pagar menos nos ingressos, para ter descontos em produtos oficiais ou para poder participar mais ativamente dos rumos do clube?

De nada interessam, portanto, números inflacionados. O retrato que eles pintam é infeliz. Estamos frequentando mais os estádios? Estamos. O outro lado da moeda é que pagamos mais, bem mais, eliminando das arquibancadas torcedores e torcedoras que não podem pagar por esses valores e mesmo não podem integrar planos de associação aos clubes. Por muitos motivos, o futebol das torcidas brasileiras está se transformando no das torcidas inglesas: lotado, gourmetizado, sentado e caro. Um público respeitável, de gente diferenciada.

Sobre vpjanuzzi

Escrevo como meio de vida. Escrevo como meio de diversão. Escrevo também como um fim em si mesmo.

Uma resposta para “Gente diferenciada”

  1. Pezão diz :

    Estamos gourmetizando, estamos não!, estão gourmetizando a vida.

    Curtir

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