Não somos os melhores

Pedro Abelin

7 a 1. Em plena semi-final de Copa do Mundo. Dentro de casa. A maior derrota da história do futebol brasileiro faz um ano hoje. Embora vexatória e extremamente dolorosa, a derrota poderia ter servido de lição para o futebol brasileiro, mas não foi isso que ocorreu. Após uma temporada da goleada histórica, o futebol brasileiro vive seu período de maior questionamento, pautado por perspectivas extremamente pessimistas. Será que ainda somos o país do futebol? A amarelinha ainda faz os adversários tremerem? O jogador brasileiro é diferenciado? A resposta para todas essas perguntas é não.

Embora surpreendente pelo resultado elástico, a derrota em si para a Alemanha foi coerente com o futebol apresentado ao longo da competição por cada seleção. O Brasil possuía um péssimo time, extremamente mal treinado por um técnico completamente obsoleto. Foram raros os momentos daquela Copa em que a Seleção Brasileira conseguiu apresentar um futebol minimamente decente. E vou além, acredito que a única partida convincente realizada pela seleção de Felipão foi na final da Copa das Confederações, em 2013, quando o Brasil passou por cima de uma desinteressada Espanha. Uma seleção brasileira que se apoiava excessivamente em fazer faltas, que possuía um meio de campo nulo, que não trocava passes e parecia um latifúndio improdutivo. Além disso, a equipe abusava do recurso das jogadas aéreas e tinha como principal “arma” a ligação direta da zaga ao ataque, normalmente David Luiz lançando Neymar. Sim, essa era a Seleção Brasileira pentacampeã jogando em casa uma Copa do Mundo.

Além da horrorosa equipe montada por Felipão, outros fatores explicam o desastre. A soberba e o autoritarismo do discurso da “mistica amarelinha” talvez sejam os principais responsáveis. Antes da Copa do Mundo, dirigentes da CBF e membros da comissão técnica brasileira frequentemente declaravam que o Brasil triunfaria na Copa por ser simplesmente o Brasil, o país do futebol. Parreira e jogadores também afirmaram existir uma hierarquia no futebol, em que o Brasil estava no topo e que precisava ser respeitado. O mesmo Parreira declarou que o Brasil estava com a mão na Taça. Marin, Felipão, Rodrigo Paiva (Assessor de Imprensa da CBF), e toda a comissão técnica representavam o autoritarismo e o discurso ufanista que permeava aquela seleção. Não existia espaço para questionamentos antes e durante aquela Copa. Os jornalistas e torcedores que apresentavam críticas – justas – àquele time eram desrespeitosamente repudiados pelo técnico Scolari. O mesmo declarou que entrou com uma formação inesperada contra a Alemanha apenas para contrariar os jornalistas.

Diego Costa, brasileiro que preferiu defender a seleção espanhola foi tratado como traidor da pátria. Esses são apenas alguns dos casos, mas foram inúmeras as declarações de Felipão, Marin e outros amigos da CBF que fomentaram um clima tenso: “Ou você apoia o projeto do hexa, sem questionar muito, ou você não é brasileiro e torce contra”. E grande parte da torcida comprou esse discurso. Futebol era guerra e tudo valia para conseguir o título. Quem não lembra do lamentável episódio em que a torcida brasileira vaiou o hino chileno no Mineirão? O resultado disso foi uma grande desqualificação do debate do futebol brasileiro. E esse discurso autoritário de classificar como inimigos da pátria quem não apoia determinado projeto está muito presente no cenário de determinadas mobilizações políticas da sociedade civil…

Após a eliminação, como era esperado, nenhuma mea culpa por parte da comissão técnica, muito pelo contrário. Felipão e seus asseclas falaram em “apagão”, fomentaram o discurso do “acaso” e até hoje dizem que se o Brasil tivesse aproveitado suas chances de gol, o jogo poderia ter sido outro. O mais grave nesse tipo de pensamento é perceber que eles realmente acreditam nisso. Depois do fiasco, quando a CBF deveria olhar pra frente para pensar em novas soluções para nosso futebol, ela olhou para trás. Anunciaram um aliado político como novo velho técnico da seleção, e nada foi feito para mudar essa situação, como vocês bem sabem. Como dizem os comentaristas, pior do que o 7 a 1, foi saber que nada foi feito depois do 7 a 1. O que fazer agora? Ninguém tem a solução para o futebol nacional, mas sabemos que alguns passos precisam ser dados. E o primeiro deles é reconhecer que não somos melhores que as outras seleções.

Não acredito, contudo, que os clubes, as federações e a CBF estejam se movimentando pela melhoria do futebol nacional. Não adianta trocarmos as peças, precisamos de uma reforma profunda e estrutural de todo o futebol brasileiro. Precisamos de mudanças nas categorias de bases, no poder das federações e na própria concepção de futebol. Precisamos de mudanças nos direitos de transmissão, nos preços dos ingressos e na relação dos clubes com seus torcedores. E não nos esqueçamos da realidade ainda mais precária do futebol feminino nacional, que é deixado completamente de fora das discussões epistemológicas do futebol brasileiro.

No entanto, a CBF finalmente decidiu discutir os rumos do futebol brasileiro e realizou a 1ª reunião do “Conselho de desenvolvimento estratégico do futebol brasileiro”, no Rio de Janeiro. Ótima notícia, não? Até você ver os convidados dessa reunião. Presentes na reunião: Zagallo, Parreira, Dunga, Sebastião Lazaroni, Falcão, Candinho, Carlos Alberto Silva e Ernesto Paulo. Felipão e Luxemburgo também foram convidados, mas não compareceram. E ainda pode piorar, pois na saída da reunião, Dunga chamou de “modismo” a ajuda de técnicos estrangeiros no futebol brasileiro, e afirmou que a solução deve ser interna. E assim caminha o país do futebol…

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