Por que torcer para o Brasil?

Revisitando este texto, escrito por mim em 2015, época dos jogos Pan-Americanos,  onde escrevi: “Imagino se Bolsonaro ou Eduardo Cunha estivessem disputando uma competição. Com certeza, estaria torcendo para eles. Estariam representando esta nação. E, na verdade, são completamente imbecis. Mas brasileiros”.

Hoje, o cenário nacional é outro. Golpe constitucional em 2016, ascensão maciça do fascismo, Bolsonaro presidente. Escrevia em 2015 que, por ser um atleta nacional, representando o Brasil, torceria para todos os brasileiros. Hoje, minha visão está muito diferente.

Digo isso, não para motivar o leitor a fazer como eu. Este texto é uma crítica-desabafo de alguém que perdeu o encanto pela camisa amarela, usurpada pelo Brasil Fascista. Alguém que é fanático por esportes mas mal consegue torcer por seu clube.

Por esses dias, me peguei buscando Instagram e redes sociais de jogador por jogador do meu time (Cruzeiro) para ver se conseguia torcer por eles. No vôlei, meus ídolos esportivos William e Wallace, do vôlei, que nos renderam tantos títulos, incluindo dois mundiais, hoje estão no fundo do meu desprezo.

É difícil enxergar e acreditar que aquela pessoa por quem você doou suor, lágrimas, nervos e emoção quer, no fundo, sua derrocada, seu choro e seu sofrimento. Acima de atletas, eles são pessoas, cabíveis de manipulação, ódio e amor.

Quando olho a bandeira do Brasil no pódio ou em uma competição, automaticamente me vem à mente a imagem de um povo batalhador, pobre, que diante de tantas adversidades, dota de talento e gana para se fazer notório. Desde o nordestino do agreste ao metropolitano paulistano que lutou, pegou lotações e transportes, conseguiu por meio de bolsas-atletas a sua glória.

Entretanto, hoje, quando vejo a bandeira do Brasil, me pergunto se este a quem estou sendo devoto, torcendo com tanto afinco, me quer bem. Ademais, o sucesso esportivo, tal como o tri em 1970, alavancaria o governo vigente.

Por isso, mais do que nunca, devemos ser humanos. Não responder o ódio com mais ódio. É amar o esporte e moldar o esportista para que ele também seja humano e veja nosso lado. Devemos buscar mais Joannas Maranhão, mais Rafaelas Silva, mais Jackies Silva e menos Felipes Melo e Ana Paulas.

Não sei como torcerei nos próximos eventos esportivos. Mas, de fato, por alguns atletas não conseguirei ser o mesmo fanático de antes. Sem Ministério do Esporte, o excelentíssimo presidente está tornando meu trabalho mais fácil: não haverá atletas para torcer contra ou favor. Uma tristeza irreparável.

José Eduardo

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