Como o esporte consegue nos cegar?

José Eduardo

Em época de competições esportivas internacionais, o Brasil para e acompanha os atletas canarinhos com tamanha intensidade, como se fossem nossos conhecidos. Ignoramos ou desconhecemos o passado do atleta, suas atitudes políticas, financeiras e vibramos com suas vitórias.

Este texto não é uma crítica, mas uma reflexão de como podemos ficar cegos quando vemos nossa bandeira – a mais bonita, diga-se de passagem – e nos emocionamos ao ouvir nosso hino – o mais bonito, diga-se de passagem.

O exemplo que posso descrever mais claramente, é o da CBF. Uma instituição corrupta, cheia de falcatruas conhecidas por todos e que, mesmo assim, é capaz de gerar uma união no país como nenhum outro evento, esportivo ou político, consegue. Até os mais profundos entendendores de futebol, mesmo com suas críticas ferrenhas à Instituição, se rendem à camisa amarela.

Mas escrevo este texto pensando no Pan e, consequentemente, na Olimpíada que se avizinha. Dispondo de um arsenal de atletas militares, o exército aconselhou alguns atletas a prestar continência no pódio, como disse a judoca Mayra Aguiar em entrevista ao portal Terra. A continência é um ato político, disso não há dúvidas. Em época de instabilidade política no país, com a volta da ideia de extrema-direita da retomada da ditadura militar, a continência dos atletas em seu momento de glória, no topo do pódio, referencia a ideia de superioridade do Exército.

Mas, como havia dito, este texto não é uma crítica. Porque mesmo sabendo que aqueles atletas iriam totalmente contra meus ideais neste aspecto, torci para eles. E imagino que quase a totalidade dos brasileiros nem buscaram saber quais eram os ideais dos atletas. Porque isso pouco importa.

Imagino se Bolsonaro ou Eduardo Cunha estivessem disputando uma competição. Com certeza, estaria torcendo para eles. Estariam representando esta nação. E, na verdade, são completamente imbecis. Mas brasileiros.

E reflito: quero ver nossa nação bem representada no esporte. Mesmo que os governos não tenham feito investimento, dado apoio, ajudado a desenvolver o esporte. Mesmo que os patrocinadores só apoiem o atleta na vitória e o abandone na derrota. Mesmo que o esportista seja um corrupto, sonegador de impostos, apoiador da ditadura. Queremos nos emocionar. Coisas que só o esporte podem nos proporcionar.

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