Subindo A Linha

Por mais Pelés e menos Edsons Arantes

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Zito domina a bola. Passa para Pepe. Ele dribla dois, manda para Pelé, que corta a marcação e faz mais um para o Santos. Enquanto isso, Valdemar Carabina, Zequinha e Chinesinho articulam para tentar virar a partida para o Palmeiras. Santos 2. Palmeiras 0.

Na minha infância, não tão distante, me lembro de olhar a escalação do Cruzeiro e querer um dia ser igual ao Dida. Mas com a habilidade do Palhinha ou Alex e a raça do Cris. Apelidos comuns, que passam batido hoje, se não percebermos que fazem parte somente da cultura brasileira.

Internacionalmente, o sobrenome é coisa séria. Messi, Rooney, Suárez, Beckham. Todos conhecidos pelo nome de sua família. Há aqueles, inclusive, homônimos e ninguém sabe quem é quem. Só com muito estudo, consegui diferenciar quem eram os equatorianos Caicedo, atacante, do Caicedo, meia, e o Caicedo, zagueiro. Ou os colombianos Valencia. E os franco-africanos Diarra.

Mas no Brasil, a cultura é diferente. Leve, lúdica, despojada e brincalhona. Cada pessoa é una, e carrega consigo sua própria história. Ricardo Izecson Leite é o Kaká, nome carinhoso, de família. Para nós, representa muito mais quem ele é que “Leite”.

E os apelidos são a maior prova dessa nossa familiaridade com o futebol. É ver na tevê um jogo do campeonato turco e dar de cara com Bobô ou Vágner Love e saber que são brasileiros. São como nós, próximos de nós.

Hoje, o futebol é mais próximo do mundo empresarial. Cifras de dinheiro, etiqueta e bons modos nas arquibancadas, agradecimentos aos céus e jogadores ricos e desumanizados. Aquele Santos de Pelé, hoje conta com Lucas Lima, Victor Ferraz, Gustavo Henrique, Jean Mota e Ricardo Oliveira. Nome e sobrenome. Quase executivos.

Os nomes, no final das contas, pouco importam. Se é Dentinho ou Bruno Bonfim ou Dida ou Nelson Silva, tanto faz. Mas o que estes novos nomes compostos, pomposos, internacionais representam é a distância entre o torcedor e o jogador, mero trabalhador cuja profissão é jogar bola. O futebol não é mais do povo.

Por isso, clamo: mais Pelés, menos Edson Arantes.

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