Subindo A Linha

Não somos os melhores

Thomas Mueller of Germany celebrates scoring his team's first goal with teammates during the 2014 FIFA World Cup Brazil Semi Final match between Brazil and Germany at Estadio Mineirao on July 8, 2014 in Belo Horizonte, Brazil.

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Pedro Abelin

7 a 1. Em plena semi-final de Copa do Mundo. Dentro de casa. A maior derrota da história do futebol brasileiro faz um ano hoje. Embora vexatória e extremamente dolorosa, a derrota poderia ter servido de lição para o futebol brasileiro, mas não foi isso que ocorreu. Após uma temporada da goleada histórica, o futebol brasileiro vive seu período de maior questionamento, pautado por perspectivas extremamente pessimistas. Será que ainda somos o país do futebol? A amarelinha ainda faz os adversários tremerem? O jogador brasileiro é diferenciado? A resposta para todas essas perguntas é não.

Embora surpreendente pelo resultado elástico, a derrota em si para a Alemanha foi coerente com o futebol apresentado ao longo da competição por cada seleção. O Brasil possuía um péssimo time, extremamente mal treinado por um técnico completamente obsoleto. Foram raros os momentos daquela Copa em que a Seleção Brasileira conseguiu apresentar um futebol minimamente decente. E vou além, acredito que a única partida convincente realizada pela seleção de Felipão foi na final da Copa das Confederações, em 2013, quando o Brasil passou por cima de uma desinteressada Espanha. Uma seleção brasileira que se apoiava excessivamente em fazer faltas, que possuía um meio de campo nulo, que não trocava passes e parecia um latifúndio improdutivo. Além disso, a equipe abusava do recurso das jogadas aéreas e tinha como principal “arma” a ligação direta da zaga ao ataque, normalmente David Luiz lançando Neymar. Sim, essa era a Seleção Brasileira pentacampeã jogando em casa uma Copa do Mundo.

Além da horrorosa equipe montada por Felipão, outros fatores explicam o desastre. A soberba e o autoritarismo do discurso da “mistica amarelinha” talvez sejam os principais responsáveis. Antes da Copa do Mundo, dirigentes da CBF e membros da comissão técnica brasileira frequentemente declaravam que o Brasil triunfaria na Copa por ser simplesmente o Brasil, o país do futebol. Parreira e jogadores também afirmaram existir uma hierarquia no futebol, em que o Brasil estava no topo e que precisava ser respeitado. O mesmo Parreira declarou que o Brasil estava com a mão na Taça. Marin, Felipão, Rodrigo Paiva (Assessor de Imprensa da CBF), e toda a comissão técnica representavam o autoritarismo e o discurso ufanista que permeava aquela seleção. Não existia espaço para questionamentos antes e durante aquela Copa. Os jornalistas e torcedores que apresentavam críticas – justas – àquele time eram desrespeitosamente repudiados pelo técnico Scolari. O mesmo declarou que entrou com uma formação inesperada contra a Alemanha apenas para contrariar os jornalistas.

Diego Costa, brasileiro que preferiu defender a seleção espanhola foi tratado como traidor da pátria. Esses são apenas alguns dos casos, mas foram inúmeras as declarações de Felipão, Marin e outros amigos da CBF que fomentaram um clima tenso: “Ou você apoia o projeto do hexa, sem questionar muito, ou você não é brasileiro e torce contra”. E grande parte da torcida comprou esse discurso. Futebol era guerra e tudo valia para conseguir o título. Quem não lembra do lamentável episódio em que a torcida brasileira vaiou o hino chileno no Mineirão? O resultado disso foi uma grande desqualificação do debate do futebol brasileiro. E esse discurso autoritário de classificar como inimigos da pátria quem não apoia determinado projeto está muito presente no cenário de determinadas mobilizações políticas da sociedade civil…

Após a eliminação, como era esperado, nenhuma mea culpa por parte da comissão técnica, muito pelo contrário. Felipão e seus asseclas falaram em “apagão”, fomentaram o discurso do “acaso” e até hoje dizem que se o Brasil tivesse aproveitado suas chances de gol, o jogo poderia ter sido outro. O mais grave nesse tipo de pensamento é perceber que eles realmente acreditam nisso. Depois do fiasco, quando a CBF deveria olhar pra frente para pensar em novas soluções para nosso futebol, ela olhou para trás. Anunciaram um aliado político como novo velho técnico da seleção, e nada foi feito para mudar essa situação, como vocês bem sabem. Como dizem os comentaristas, pior do que o 7 a 1, foi saber que nada foi feito depois do 7 a 1. O que fazer agora? Ninguém tem a solução para o futebol nacional, mas sabemos que alguns passos precisam ser dados. E o primeiro deles é reconhecer que não somos melhores que as outras seleções.

Não acredito, contudo, que os clubes, as federações e a CBF estejam se movimentando pela melhoria do futebol nacional. Não adianta trocarmos as peças, precisamos de uma reforma profunda e estrutural de todo o futebol brasileiro. Precisamos de mudanças nas categorias de bases, no poder das federações e na própria concepção de futebol. Precisamos de mudanças nos direitos de transmissão, nos preços dos ingressos e na relação dos clubes com seus torcedores. E não nos esqueçamos da realidade ainda mais precária do futebol feminino nacional, que é deixado completamente de fora das discussões epistemológicas do futebol brasileiro.

No entanto, a CBF finalmente decidiu discutir os rumos do futebol brasileiro e realizou a 1ª reunião do “Conselho de desenvolvimento estratégico do futebol brasileiro”, no Rio de Janeiro. Ótima notícia, não? Até você ver os convidados dessa reunião. Presentes na reunião: Zagallo, Parreira, Dunga, Sebastião Lazaroni, Falcão, Candinho, Carlos Alberto Silva e Ernesto Paulo. Felipão e Luxemburgo também foram convidados, mas não compareceram. E ainda pode piorar, pois na saída da reunião, Dunga chamou de “modismo” a ajuda de técnicos estrangeiros no futebol brasileiro, e afirmou que a solução deve ser interna. E assim caminha o país do futebol…

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