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Felipão e a decadência do futebol brasileiro

felipão lamentando

Pedro Abelin

3 copas do Brasil, 1 campeonato brasileiro, 2 Copas Libertadores e 1 copa do Mundo. Um técnico com esse currículo seria desejo de todo torcedor brasileiro, certo? Não se esse técnico é o Felipão. Confesso que podem existir alguns torcedores que queiram o gaúcho como técnico dos seus times, afinal, tem gente que até hoje exime a culpa do treinador no famigerado 7 a 1. Mas o futebol vive da diversidade de opiniões e da relação do torcedor com seus ídolos, sendo assim, mesmo que eu deseje o treinador bem longe do meu time, respeito quem possui simpatia por ele. O seu péssimo trabalho no Grêmio, contudo, que resultou em mais uma demissão em seu histórico, não me surpreende.
O local mais recente em que Felipão conseguiu ter sucesso foi na seleção de Portugal. Apesar de ter sido derrotado em casa pela Grécia na final da Eurocopa de 2004, o serviço com a seleção portuguesa pode ser considerado seu último bom trabalho como treinador, onde Felipão alcançou uma digna quarta colocação de Copa do Mundo. O problema é que o técnico brasileiro largou a seleção portuguesa em 2008, e desde lá, Felipão comandou o Chelsea, Palmeiras, seleção brasileira e Grêmio, e obteve péssimos resultados em todos os locais. Mas por que motivo um técnico tão consagrado e competente não consegue realizar um trabalho satisfatório há tanto tempo? A resposta é mais simples do que parece: o futebol passou por grandes transformações nos últimos anos, e assim como as pessoas que comandam o nosso futebol brasileiro, Felipão parece não ter acompanhado essas mudanças. Sendo assim, é possível relacionar a decadência de Luiz Felipe Scolari com o própria declínio do futebol nacional.
Entre os diversos fatores que mais me incomodam no futebol brasileiro é a recusa de treinadores e dirigentes em lidarem com críticas e questionamentos, e creio que Felipão simboliza muito bem essa soberba dos que administram o nosso futebol. Muitas vezes é colocado pela imprensa que Felipão é uma pessoa engraçada e divertida, e talvez isso seja verdade, porém, esse comportamento só é percebido nos momentos de vitória, e isso denuncia uma questão mais profunda: os treinadores só sabem conviver com o elogio. Quem não se lembra da Copa de 2014, quando diversas críticas que indicavam os defeitos explícitos daquela seleção brasileira – extremamente mal treinada – eram recebidos com grande arrogância e desrespeito pelo técnico brasileiro? Em algumas ocasiões, Felipão afirmava que faria o oposto de tudo que fosse pedido por torcedores e imprensa. Era muito evidente que aquela equipe contava com profundos problemas – que serão explorados em textos futuros – mas o técnico brasileiro não aceitava que isso fosse apontado. O resultado todos já sabem: a seleção brasileira proporcionou ao mundo um dos maiores vexame esportivos da história dos Mundiais, com Felipão sendo protagonista.
A vergonhosa atuação da seleção brasileira na Copa de 2014 apenas comprovou que Felipão é um técnico bastante ultrapassado. Equipes que se apoiam excessivamente em jogadas aéreas e bolas paradas, praticam muitas faltas e apresentam dificuldades ofensivas são características recorrentes nos últimos trabalhos do técnico gaúcho. Os sucessivos fracassos do outrora melhor treinador do Brasil combinados a decadência do futebol brasileiro não são coincidência. A ruína de Felipão está intimamente ligada ao fracasso recente do futebol nacional. Ou acreditamos que os últimos resultados foram apenas trágicas casualidades ou repensamos toda a nossa concepção de futebol e a forma como estamos o gerenciando. Insistir na noção de que ainda somos os melhores do mundo e recusar a urgência de reinventarmos o nosso futebol parece ter sido a opção dos que comandam o esporte no Brasil. Pelo visto, ainda viveremos algumas inesperadas e surpreendentes derrotas dentro e fora das quatro linhas.