GRITA TORCEDOR – Uma paixão: o futebol

Vinicius Prado Januzzi

Há muitas maneiras de se ver o futebol.

Podemos vê-lo a partir da lógica do mercado, como mais um dos esportes integrados à economia mundial capitalista e predatória. É o futebol de elite, dos milhões e bilhões, dos supercontratos, dos jogadores estrelares, galácticos; futebol pomposo, por assim dizer. Ainda nesse viés, podemos ver o outro lado da moeda, na qual estão os pequenos clubes, os jogadores amadores, os estádios vazios e calendários um tanto quanto esdrúxulos.

Pode-se ver o futebol do ponto de vista do planejamento. Falamos aí novamente de calendário e também de dívida dos clubes, de gestão, de marketing, de venda de naming rights e camarotes, de programação a longo prazo. Entram aqui a preparação ou não do departamento médico, o time que pode ou não se pagar, o estágio que não se financia sozinho e a sonegação de impostos.

Futebol também pode ser coisa de elite. “Futebol coxinha”, daquele que nos arrepia de medo. “Senta!” é o que se ouve em muitas arenas (nome bonito para estádio que quer ser coxinhoso). Aí já não se podem mais bandeirões, sinalizadores, não se paga menos de 50 reais para ver uma partida, não se compra uma camisa oficial por menos de 150. É o futebol do silêncio e do público comportado, que sabe ser ordeiro e não se comporta como um selvagem. Alguém sabe por que ainda usamos essa palavra?

Há também a imprensa. A velha e malfadada imprensa. Multifacetada, é claro, mas em geral atravessada por comentaristas prontos a nos jogar em transmissões e mesas-redondas o quanto precisamos nos modernizar, que está mais do que na hora de “dar um jeito” nas torcidas organizadas, que talvez não haja muito que fazer a não ser termos torcidas únicas em nossos estádios, ops, arenas. “A Copa passou pelo Brasil e não deixou nada de moderno?” Essa, obviamente, é a face corneteira da mídia, composta que é por muitos e muitas que pouco frequentaram jogos ao vivo, pouco viveram as arquibancadas e, logo, foram bem menos felizes em suas vidas.

Como disse, há muitas maneiras de ver o futebol. As que mencionei acima estão no fim das contas mais ou menos imbricadas. Estão como que conectadas a uma narrativa monótona em torno de padrões FIFA, comportamentos modernos e arenas multifuncionais e confortáveis. Essa é, por assim dizer, a narrativa a qual não quero subscrever. Nem a maioria dos que conheço e que, de fato, amam o futebol.

Pois se há um modo de ver esse esporte mágico em toda sua completude e eternidade é senti-lo. Admirá-lo e contemplá-lo por como é apaixonante. Aqui estamos diante de gols inesquecíveis, jogadas memoráveis, ídolos eternos, times péssimos que ganharam partidas e campeonatos na raça e no sangue. Ficamos, então sem voz, totalmente arrepiados, angustiados, prontos para soltar o grito de nossas torcidas com o máximo de força que pudermos. Lembrem-se de um só momento, entre muitos, em que se emocionaram ao ver uma partida de seus times. Bastam poucos segundos para que aquela jogada, aquele título, aquele passe, aquela defesa se tornem vivos em nossas mentes e daí a nosso corpo ficar todo eletrizado é um pulo.

Esse é o futebol. Em sua essência e no que o torna único. Certamente, outros esportes, outras atividades, outros gostos proporcionam experiências similares. Quem sabe? Talvez o futebol seja algo entre muitas outras coisas; uma paixão em meio de muitas outras. Talvez. Ainda assim, não é dessa forma que o sinto. Que vivo o futebol. Futebol dos sorrisos, choros, pontapés e desesperos. Futebol que emociona, decepciona e contagia, O futebol é mágico, sabe-se lá o porquê, e não há nada melhor do que ouvir sua torcida empurrar o time. Nada melhor do que ouvir o apito inicial e saber que, lá no fundo, vamos lá de novo, porque estou vivo. Vivo de futebol.

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