Enojados

Vinicius Prado Januzzi

Há pouco menos de uma semana, Jamil Chade, correspondente do Estadão assinou uma reportagem impactante. O título antecipa um pouco daquilo que já sabíamos ou, pelo menos, desconfiávamos: Documentos mostram como a CBF ‘vendeu’ a Seleção Brasileira.

Fruto de uma investigação jornalística minuciosa, o principal mote da matéria é a relação entre a Confederação Brasileira de Futebol e a International Sport Events (ISE), uma empresa de fachada com sede nas ilhas Cayman. Como se pode imaginar, o buraco onde se encontra o futebol brasileiro é muito profundo.

Não que isso seja exclusivo de nosso futebol. A Fifa já é figurinha carimbada nos noticiários políticos e pelas constantes denúncias de corrupção envolvendo seus diretores e seus principais aliados. A Conmebol, para ficar um pouco mais perto, não é flor que se cheire. A UEFA, vez ou outra, surge como personagem central de enredos dos mais macabros possíveis.

Os documentos aos quais o Estadão teve acesso mostram os termos basilares pelos quais se conduz hoje em dia nosso futebol. Não interessa aproximar torcedores e torcedoras da seleção, oferecer ingressos mais acessíveis, promover categorias de base e criar uma estrutura sólida ao futebol feminino no país. O que a CBF quer, e aí seus dirigentes, as federações, a elite decisória do futebol profissional no país, enfim, é dinheiro. Muito dinheiro. E com o mínimo esforço. Façamos um exercício imaginativo. Dos últimos 30 amistosos da seleção brasileira, quantos foram disputados no Brasil? Quantos na Inglaterra? Quantos nos Estados Unidos? E esse não é um ponto irrelevante. Jogar nos campos nacionais é fundamental para estimular a identidade entre torcida e time. Alguém aí fica ansioso para ver um jogo da seleção?

Agora me pergunto: se soubéssemos todas as falcatruas nas quais a CBF está envolvida, deveríamos ficar enojados? A princípio, sim. Indo mais a fundo, no entanto, temos que nos dar conta de que com a CBF não é possível o futebol que desejamos: mais popular, mais justo, mais pedagógico e mais vencedor. Não há solução a curto e médio prazo que envolva a Confederação que rege nosso futebol. Infelizmente.

José Maria Marin não vai de uma hora para outra virar um defensor de estádios mais cheios e mais baratos. Tampouco Del Nero. De Miami, Ricardo Teixeira está pouco se lixando. Entre os dirigentes dos clubes e, sobretudo, entre aqueles que têm mais entrada nos círculos sombrios da CBF, não há muita esperança. Ou será que Andrés Sanchéz, Carlos Miguel Aidar e Eurico Miranda vão se unir em prol de um futebol dos sonhos? Se há uma boa notícia, é que não vão; antes as máfias em disputa entre si do que unidas em torno de seus objetivos comuns.

Está na hora de romper com o status quo capitaneado pela CBF. Não quero dizer com isso que o Brasil tem de rever o modo como organizava o futebol no passado. Não é porque a seleção de 82 e a 70 jogaram maravilhosamente que, por consequência, tínhamos uma boa estrutura futebolística. É preciso olhar para o futuro. Um norte que não tenha a CBF e as Federações como eixos de apoio. Como fazer? É isso que é mais do que urgente discutir.

Há um alento: ontem, passei em frente à quadra próxima de casa. Pelada clássica, camisa versus sem camisa. Um magrelinho, depois de driblar dois, chutou de canhota para o gol. Fez. Com o tampão do dedão arrancado pelo chute não tão bem dado, comemorou com alegria. E eu também.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logotipo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Google

Você está comentando utilizando sua conta Google. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

%d blogueiros gostam disto: