Obrigado, Sheik!

Vinicius Prado Januzzi

Márcio de Passos Albuquerque, 36 anos, não é dos jogadores mais disciplinados. Chega atrasado a treinos, dá declarações polêmicas, vai pra balada, toma cartões a rodo, enfrenta processos judiciais, estapeia-se com seguidores na internet. Sheik também não é dos jogadores mais habilidosos nem dos melhores finalizadores. Aliás, se há um fundamento no qual o jogador se destaca negativamente é no chute ao gol, seja de curta, média ou longa distância (não custa lembrar, a seu favor, os gols marcados contra o Santos na Libertadores de 2012 e contra o Once Caldas pela edição de 2014).

Deixemos de lado essas marcas atribuídas a ele e nos concentremos no que vale. Agora, fecho os olhos e volto ao dia 4 de julho de 2012. Corinthians e Boca Junior no Pacaembu, pela disputa da última partida da final do torneio intercontinental daquele ano. Uma semana antes, resultado precioso na Argentina, um 1×1 suado, conquistado no gol de Romarinho (pq faz iso?) e com um passe de Sheik. Festa absurda, com gente enlouquecida.

Primeiro tempo: 0x0. Sem vantagem para o gol fora de casa, o resultado não garantia o título. Aos 8 minutos, uma jogada meio sem nexo termina em passe genial de Danilo. De calcanhar, o meia joga para Sheik, que domina e fuzila. Gol. Gol. Gol. Para desentalar a garganta e pôr abaixo o estádio. Aos 27, Schiavi dá um passe fraco e Sheik consegue interceptá-lo. Estavam próximos a linha de meio campo. O atacante, então, começa a correr, enquanto corriam com eles todos os corinthianos nascidos, não-nascidos, vivos ou mortos. Já próximo ao gol, Sheik chuta rasteiro, no canto. A bola entra devagar, muito debagar, devagarinho, ou pelo menos foi essa a impressão de quem torcia naquele momento. Acabou por beijar a bochecha da rede. Gol. Gol. Gol. Obrigado, Sheik!

Sheik vai-se embora do Corinthians. Não tem a mesma forma física de antes, que o permitia acompanhar laterais e os atacantes adversários. Não tem mais o fôlego de outrora, que o permitir roubar bolas no meio de campo e avançar até o gol. Talvez merecesse ficar no time, por tudo que representa ao clube. Talvez. Não fosse o salário exorbitante, impagável para uma organização que queira se manter sadia financeiramente e, sobretudo, queira continuar brigando por títulos no futuro.

A dívida do Corinthians é das maiores do Brasil. No momento, ultrapassa os 300 milhões, como informa Rodrigo Mattos, em seu blog do UOL (http://rodrigomattos.blogosfera.uol.com.br/2015/05/23/corinthians-tem-situacao-financeira-pior-do-que-na-gestao-dualib/). O saldo é pior do que o apresentado pela gestão

Dualib no momento crítico vivido em 2007. Necessário dizer: não é porque é pior este saldo que a gestão atual apresenta (digo atual porque Roberto de Andrade, o atual presidente, integra o grupo que comanda o Corinthians desde a eleição de Andrés Sanchez, nos tempos de rebaixamento do time para a série B do Brasileirão) que devemos retronar Alberto Dualib. Como diria minha vó: Vade retro, Satanás!

Corinthians endividado. Um estádio caríssimo para ser pago. Receitas com vendas de jogadores em decréscimo. Que fazer? Do ponto de vista administrativo e esportivo, claro que há muitas, mas uma fundamental é que a foi tomada na última semana: não manter atletas, quem quer que sejam, a todo custo, ampliando o fosso financeiro e jogando os problemas para o futuro. Não é possível ser tolerante com clubes devedores de impostos e outros valores e que negociam almas e recursos públicos para sanar seus problemas. Toleramos que o governo salve bancos em plena bancarrota? Futebol, é claro, é mais do que um patrimônio financeiro; esse é um detalhe, eu diria, o que pode fazer da analogia um pouco ridícula. Agora, até quando salvaremos nossos clubes e os dirigentes irresponsáveis de suas gastanças crescentes e sem lastro?

Por tudo isso e mais um pouco, obrigado Sheik! Os corinthianos não esqueceremos os gols daquela noite nem suas jogadas de raça. Claro que também não esqueceremos seus deslizes e seus chutes de potência duvidosa. Viver é relembrar também, escolher as memórias que nos fazem bem, motivo pelo qual escolhemos os seus gols, o seu show naquela noite de quarta-feira. Naquele dia, você fez um mundo mais alegre e fiel. Você foi Corinthians dos pés à cabeça! Obrigado Sheik!

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