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Utilidade Pública

Vinicius Prado Januzzi

Muleque, vem cá, para de ficar gastando tempo na internet e vem me ajudar com esse troço. Você já deve ter ouvido isso incontáveis vezes e descontando aquelas em que fazia coisas indizíveis nesse horário, aposto que ficava vendo vídeos no Youtube com lances geniais do futebol. Músicas de fundo animadas, repetições em slow-motion, efeitos duvidosos. Lances mágicos.

Esse post nada mais é do que um serviço de utilidade pública. Reuni aqui um pouco desse material, tomando como critério o título de melhor jogador do mundo pela FIFA. No futebol masculino, o prêmio é concedido desde 1991. No feminino, desde 2001. Fica uma observação. Infelizmente, é muito difícil encontrar bons vídeos que ressaltem as virtudes das jogadoras vencedoras. Certamente, assunto para um texto futuro.

De antemão, peço desculpas aos procrastinadores que diante desse material ficarão horas e horas à frente de monitores. Segue o jogo.

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Futebol Masculino

1991

Lothar Matthaüs (Alemanha)

1992

Marco Van Basten (Holanda)

1993

Roberto Baggio (Itália)

1994

Romário (Brasil)

1995

George Weah (Libéria)

1996-1997-2002

Ronaldo (Brasil)

1998-2000-2003

Zinédine Zidane (França)

1999

Rivaldo (Brasil)

2001

Luís Figo (Portugal)

2004-2005

Ronaldinho Gaúcho (Brasil)

2006

Fábio Cannavaro (Itália)

2007

Kaká (Brasil)

2008-2013-2014

Cristiano Ronaldo (Portugal)

2009-2010-2011-2012

Lionel Messi (Argentina)

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Futebol Feminino

2001-2002

Mia Hamm (Estados Unidos)

2003-2004-2005

Birgit Prinz (Alemanha)

2006-2007-2008-2009-2010

Marta (Brasil)

2011

Homare Sawa (Japão)

2012

Abby Wambach (Estados Unidos)

2013

Nadine Angerer (Alemanha)

2014

Nadine Kessler (Alemanha)

Intoleráveis da vida cotidiana

Vinicius Prado Januzzi

Você está lá, numa boa, assistindo ao seu jogo de domingo. Seu goleirão vai cobrar o tiro de meta na casa adversária e, então, ouve-se: Biiiicha!

Macaaaaaco!

Judeeeeu!

Bruuuuxa!

Cristãããão!

Traveeeeco!

Puuuuta!

Aí você olha de novo para a TV e não entende. Por que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa? Fica sem entender, interrogando-se o dia todo. A torcida gritou “Bicha”, enfatizando o “i”, ´ninguém fez nada, ninguém disse nada, o narrador nada comentou, o comentarista disse bulhufas, os times ficaram na deles, os jogadores nada disseram. A partida continuou. Terminou num empate modorrento, numa derrota ou numa vitória de seu time, quem sabe. Todos ouviram. Biiiicha. Alto e em bom som. Para todo mundo ouvir. Ninguém fez nada. E a vida prosseguiu, de forma intolerável, essa vida cotidiana prosseguiu.

No esporte mais conservador, eu sou Maria, com certeza!

José Eduardo

Nesta data tão importante, em que o casamento gay foi aprovado em todos os Estados Unidos da América, não podia deixar de lado toda a homofobia intrínseca a esse futebol retrógrado, conservador e pouco evoluído.

Enquanto em um país dito conservador, como são os EUA, a luta contra a homofobia ganha força, no futebol, ainda vivemos com uma cultura ridícula, para não dizer alguns palavrões.

A começar por nenhum jogador de futebol ser assumidamente homossexual. Richarlyson, ex-jogador do São Paulo e Atlético-MG, é constantemente insultado por uma orientação sexual que ele mesmo nega. Por ter “jeito” de “bicha”, Ricky – tricampeão brasileiro, campeão da Libertadores e do Mundial e com passagens pela Seleção Brasileira – é enquadrado em uma condição abaixo da sua qualidade.

A TV adora. O programa Pânico já fez diversos quadros com o jogador para fazê-lo beijar mulheres. Ter de provar sua heterossexualidade. Outros programas também abordam o tema de forma até sensacionalista.

E a torcida também rejeita o jogador. Quando Richarlyson saiu do São Paulo para ir para o Galo, a rejeição foi imensa, justamente por essa aparente orientação sexual, mesmo que não procedente.

Enquanto isso, nas arquibancadas, o que interessa é ser mais homem, heteronormativo. O São Paulino, soberano nos anos 2000 no estado, virou Bambi. Por falta de argumentos dentro de campo, o tricolor foi “atacado” com “insultos homossexuais”. Como se ser gay fosse rebaixamento. Mas a torcida do São Paulo comprou o pseudoinsulto e não aceita ser chamada de Bambi. Não quer ser tachada de gay.

O mesmo acontece em Minas. O Cruzeiro dominava o estado, enquanto o Atlético-MG vivia seu maior período de seca de títulos. A saída: chamar os cruzeirenses de Maria. Uma dupla “ofensa”: ser mulher e homossexual. Afeminado. E, obviamente, a torcida conservadora celeste comprou a briga. E revidou chamando os atleticanos de Frangas. Não bastasse a supremacia em títulos, o cruzeirense queria se mostrar superior, mostrando sua masculinidade.

Esta é a realidade do futebol brasileiro. Retrógrado. Onde ninguém assiste a futebol feminino, onde o gay não é aceito, onde o objetivo é ser másculo.

E, infelizmente, as provocações se tornaram comuns em torno da homossexualidade. Fui instruído desde pequeno a gritar em alto e bom som “CACHORRADA FILHA DA PUTA, CHUPA ROLA E DÁ O CU”, como se isso fosse o maior insulto do mundo. Como se, em boníssimo português, chupar uma rola fosse demérito a alguém. E se lambuzar de vagina fosse um troféu.

Hoje, com 22 anos, reflito sobre a minha posição no futebol. E a condição de Maria me parece confortável. Sou Maria. Maria mãe de família, trabalhadora e guerreira. Maria, transexual, estudante e que apanha no metrô. Maria, homossexual que não pode se assumir por medo de perder o emprego. Sou Maria, quero ser Maria, e apoio todas as Marias.

*Este texto foi produzido em alusão à página do Facebook Bambi Tricolor, que assumiu o lado positivo de ser conhecido como Bambi. De batalhar contra o preconceito no futebol.