Walter, a alegria do povo

Rafael Montenegro

Texto potencialmente herege logo no primeiro parágrafo.

Lembro de alguém – mas não lembro quem – diferenciar o Pelé do Garrincha: o Pelé enchia os estádios e fazia o povo aplaudir; o Garrincha enchia os estádios e fazia a multidão dar gargalhadas. Segundo Armando Nogueira, “Pelé era um atleta e Garrincha era um artista”. Mais que isso, Garrincha era a Alegria do Povo.

Isso mesmo. Vou usar a alcunha do maior jogador do Botafogo para caracterizar, guardando as devidas proporções, o maior atacante do Brasil. A verdade é que Walter alegra o torcedor.

Ontem o Atlético-PR vencia o São Paulo quando ele cavou um lindo chapéu pra cima de Centurión. Pelo formato da Arena da Baixada, toda e qualquer câmera de transmissão que registrou o lance registrou também a reação dos torcedores ao fundo: um frenesi misturando espanto, regozijo e gargalhadas.

Contra o mesmo São Paulo, pelo Fluminense, Walter deitou e rolou. Literalmente. Jogou uma barbaridade, fez gol, fez golaço, deu assistência e tirou onda. Caiu no chão, rolou e levou à loucura os torcedores. Mais que o espetáculo digno de aplauso, a genialidade provocadora de risos.

Walter teve a infância traumática que assola tantos jogadores – e jogadores em potencial que nunca recebem a devida oportunidade: realidade de periferia, pessoas próximas no crime, pessoas próximas assassinadas… Mas diferente de jogadores que se viciam em dinheiro, status ou drogas – sendo a mais comum o álcool – o Waltão da massa é viciado em… refrigerante e biscoito recheado!

Estamos falando de um atacante de 100kg campeão da Libertadores e da Liga Europa, com passagens em clubes tradicionais (Internacional, Fluminense, Goiás, Atlético-PR), campeão sul-americano sub-20 e desde 2010 vinculado ao Porto. Estamos falando de um embasbacador de esnobes e de um regozijador de gordinhos mundo afora.

Estamos falando de um cara que vai dar a entrevista e fala que “tá foda jogar nesse time do Fluminense. Tem Wagner, tem Sóbis, tem Conca. Ainda vai voltar o Diguinho! Caaaarai, ainda tem o Diguin”.

Estamos falando, acima de tudo, de um cara que joga MUITA bola. Pivô exemplar, passes e finalizações de exímia categoria e excelente noção tática.

O que eu enumerei nos quatro parágrafos são pra dizer: quem gosta de pessoas e de futebol, provavelmente gosta do Walter. O cabra gera empatia

Eu reclamei bastante da convocação de Felipão pra Copa: Lucas no lugar de Bernard, Philippe Coutinho no lugar de William e Miranda no lugar de Henrique, no mínimo. Mas o meu maior sonho era que o Walter tivesse sido convocado no lugar do Jô. Não que ele fosse ser a solução de todos os problemas, mas ali é muita categoria, meu amigo. Com ele em campo, David Luiz não precisa chorar que “só queria dar alegria ao povo”.

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