Aqui é sofrido sim

Lucas de Moraes

Era o dia 24 de julho de 2015. Comemorei meu aniversário no dia 16 desse mesmo mês, mas faltava um presente: um titulo da Libertadores. Mas essa história começou muito antes. O ano de 2012 foi inesquecível. Depois de cair e continuar brigando para não cair nos campeonatos seguintes, o Galo montou um bom time e terminou com o vice-campeonato do Brasileirão. Já foi um êxtase, pois era a primeira vez que eu iria acompanhar meu amado time na maior competição da América do Sul, visto que, infelizmente, só me apaixonei pelo futebol em 2007. E mais ainda por aquele time chamado Atlético Mineiro. Ele voltava pro lugar do qual nunca deveria ter saído: a primeira divisão.

Naquela minha primeira Libertadores, existia um entusiasmo imenso. Não queria perder um jogo sequer. Vi o time jogar muito bem e se classificar facilmente num grupo com o São Paulo, Arsenal de Sarandí e The Strongest. Mesmo assim, fiquei um pouco decepcionado com a derrota para o time paulista no último jogo da primeira fase. Já não dava pra terminar a competição invicto.  Um momento para lembrar foi o gol que começou com a esperteza de Marcos Rocha na batida de lateral  ao lançar para o R10, que bebeu um pouco da agua de Ceni e ficou por lá desmarcado. Quando recebeu a bola, correu para linha de fundo e jogou para o Jô fazer o gol.

Antes de começar o mata-mata, achava que seria fácil, pois o time se saiu muito bem no grupo. Classificou-se na primeira colocação geral com aproveitamento de 83%. E o pior segundo colocado geral foi o tricolor paulista. Foi o confronto mais tranquilo dessa fase final, já que o Galo conseguiu vencer dentro da casa do adversário. Não desmereço o tricampeão mundial, mas aquele ano era do galo mesmo. Foi um show do Ronaldinho Gaúcho com participação especial de Jô. Nesse confronto das oitavas, o que me marcou nesse jogo de volta foi o drible espetacular do craque do alvinegro mineiro em cima do Douglas, que acabou trombando com seu companheiro Wellington.

Chegamos às quartas. Eu não conhecia o Tijuana e esperava que fosse fácil passar por eles. Lá no México, a maior dificuldade do time foi jogar em um campo sintético. Jogo muito difícil com o Luan (sim, ele mesmo, o menino maluquinho, um dos personagens principais da Copa do Brasil de 2014) empatando o jogo no finzinho. Dois a dois no placar e o jogo seria desempatado no Independência, mais conhecido como Horto. Animado com o jogo, falei com meu pai para irmos de carro para Belo Horizonte, pois eu precisava presenciar esse jogo na arquibancada. Era um sonho meu. Eu tinha ido ao velho Indepa quando era pequeno e nem lembrava como era. Guardo o ingresso desse jogo como se fosse uma barra de ouro. Os valores se equivalem, apesar da barra de ouro ter imenso valor material e esse ingresso, gigantesco valor sentimental pelo menos para mim. Victor salvou o time no pênalti batido por Riascos aos 47 minutos do segundo tempo.

Acho necessário fazer uma breve pausa para contar um causo que eu acho, no mínimo, interessante. Quando o lançamento de Arce foi feito e Marquez resvalou de cabeça, eu já senti um desconforto. Leonardo Silva estava muito atrasado no lance e a bola chegaria na área para Aguilar finalizar. Cenário perfeito para um gol que derrubaria o alvinegro mineiro naquela competição em que o time estava jogando muito bem. Sorte (achava que era azar, mas depois que acabou o jogo, percebi que estava enganado) que o zagueiro do Atlético Mineiro com a camisa número três derrubou o zagueiro do Tijuana. Todos olharam para o árbitro que apenas apitou marcando a penalidade. Na hora, eu fiquei em silêncio. O desespero da torcida foi geral. E eu pensei: “por que eu vim para BH ver esse jogo? Logo quando venho ver, meu time perde e é eliminado”. Enquanto eu xingava o mundo inteiro, um baiano que estava com uma camisa rosa e estava sentado atrás de mim e de minha família (meu pai e minha irmã) calmamente falou que o melhor jogador do time deles bateria no meio do gol e nosso goleiro pegaria. Eu pensei que não era possível. A penalidade é um modo muito fácil de fazer gol e o goleiro tem muita desvantagem nessas horas. Riascos correu para bater e o final todo mundo já sabe.

Agora era a semifinal contra o Newells Old Boys. Fora de casa mais uma vez, o alvinegro mineiro sofreu e acabou perdendo de 2 a 0. Era muito difícil reverter, mas eu não queria acreditar que o sofrimento que tinha passado nas quartas não serviria para nada. O jogo de volta foi muito sofrido, mas conseguimos fazer os dois gols. Lembro que foi difícil acompanhar o jogo, pois tive um aniversário e naquele estabelecimento tinha uma pequena televisão. Consegui que colocassem no jogo, pois, além de mim, havia mais três atleticanos. Vimos as cobranças de pênaltis sofrendo com as zoações de amigos que torciam para outros times. Os erros de Richarlyson e Jô fizeram parecer que o time cairia ali. Mas o time argentino também errou para nossa alegria. O último a bater foi aquele que fica muito nervoso quando está numa batida seja ela de falta, escanteio ou pênalti: Ronaldinho Gaúcho. Ele eu sabia que não erraria. A bola entrou e foi a vez do último jogador do time adversário: Maxi Rodríguez, melhor jogador daquele time. Victor apareceu mais uma vez e lá estava eu abraçando três atleticanos comemorando muito a vaga na final.

Agora era a final. Primeiro jogo e, novamente, derrota de 2 a 0. Não me preocupei tanto, pois já percebi que era um placar reversível. Além do mais, eu já tinha percebido que tava escrito que aquele título era nosso. O dia do jogo de volta parecia interminável. O tempo não passava e a hora do jogo não chegava. Quando chegou, foi uma descarga de emoções. O momento mais marcante do jogo foi quando El Tanque passou por Victor e preparou-se para bater. Quando ajeitou o corpo, escorregou. Não era algo que eu pudesse compreender. Era o atacante e o gol e ele não conseguiu chutar para botar a bola na rede. Acho que concordo com Alexandre Kalil. Devia ser o pai dele, Elias Kalil, puxando o pé do jogador para que a taça ficasse no Mineirão mesmo. Depois da cabeçada de Leo Silva para fazer o segundo gol, do sufoco nos pênaltis e do Victor nos salvando mais uma vez, veio a tão esperada conquista.

Meu pai fica indignado quando pensa que demorou 62 anos para ver seu time conquistar um campeonato tão importante assim, pois, seu filho, com apenas 18 anos, ganhou de presente de aniversário a Copa Libertadores da América de 2013.

Obs.: o baiano que foi citado no meu texto nem era torcedor do Atlético Mineiro mesmo. Naquele dia, contou que estava na capital de Minas Gerais apenas há umas três semanas e torcia para o Bahia. Mas ele decidiu apoiar um time daquela cidade e escolheu o meu time de coração.

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