Por um futebol com mais estádios lotados

A elitização dos estádios brasileiros é inegável. Os grandes estádios, principalmente após a Copa do Mundo de 2014, se modernizaram e o preço dos ingressos subiu consideravelmente. Junto a isso, os times brasileiros passaram a apostar de vez nos sócios-torcedores.

Mas ser sócio não significa que os preços dos ingressos passam a ser exatamente acessíveis. Muitas categorias são de pagar uma mensalidade e ainda precisar comprar um ingresso, ainda que com desconto. No final, o dinheiro acaba pesando, sim.

Precisamos de medidas que tragam as camadas populares para os estádios de novo, mas o futuro parece não se caminhar para isso. Não é raro vermos torcedores comemorando mais uma renda alta do que um estádio lotado e debochando de times que fazem promoções de ingresso para ter mais público. E daí se fazem promoções? Não é demérito nenhum colocar à venda ingressos a preços mais baratos.

Não me leve a mal: o futebol, apesar de toda a sua história e tudo o que o cerca, é um negócio e os clubes precisam de dinheiro para se sustentar. Mas é melhor ter uma renda X com 50.000 torcedores no estádio do que arrecadar a mesma quantia com 15.000, certo?

O Cruzeiro está fazendo, desde o início da temporada, promoções para os jogos do Campeonato Mineiro. Na estreia do clube na temporada, mais de 42 mil torcedores foram prestigiar a partida contra o Tupi. Diante do América, foram mais de 50 mil no Mineirão. O sócio que comprasse ingresso poderia levar convidados de graça para assistir às partidas. É uma medida que privilegia apenas quem é sócio, mas já é um começo.

O São Paulo, na luta contra o rebaixamento em 2017, também lotou o Morumbi em várias partidas com ingressos a preços populares. O Atlético Mineiro também já fez ações interessantes no sentido. O Grêmio tirou as cadeiras que ficariam atrás dos gols na Arena para caber mais gente e manter a cultura da Geral. Exemplos não faltam.

Em meio a essa elitização dos estádios e com o fim das gerais, o preço do pay-per-view diminuiu e a tendência é o rico ir aos estádios e o pobre assistir aos jogos sentado no sofá de casa ou na cadeira de um bar. O documentário “Geraldinos”, de 2015, ilustra bem essa nova realidade.

Mas essa realidade é o que devemos combater. Acredito que não faltem mecanismos ou possibilidades para os clubes oferecerem ingressos mais baratos. O que acontece é que o lucro acaba falando mais alto, mas há de se encontrar um equilíbrio.

O futebol no Brasil se desenvolveu como um espaço democrático que unia todas as classes, cores e credos. Não eram baratos todos os ingressos, mas eles ainda estavam lá. Quem apoiou os clubes desde o início foi a classe trabalhadora. E o estádio de futebol deve ser ocupado pelos torcedores – de todos os tipos – pois sem eles, um time não é nada.

 

João Miguel

Um dia para ser lembrado

O dia 19 de fevereiro de 2018 certamente entrou para a história do futebol brasileiro. Não por dribles, gols ou jogadas. Mas por atitudes de jogadores e comissão técnica que nos fazem entender nosso futebol e refletir sobre o país.

Defino o dia de ontem em três atos. O primeiro, ocorreu no Barradão, em Salvador. Clássico BaVi, torcida dupla nas arquibancadas, 90% de rubro-negros e 10% de tricolores. Era a chance de provar ao Ministério Público como é possível jogar os clássicos baianos com ambas as torcidas, após seguidos BaVis de torcida única.

Fora de campo, muita violência. No centro de Salvador, longe do estádio, torcidas organizadas dos clubes se enfrentaram, resultando em 13 detenções. Dentro da cancha, pancadaria generalizada e 7 expulsões após comemoração desrespeitosa por parte de Vinícius, jogador tricolor.

Se observarmos somente estas brigas, não há nada de novo. Prisões, violência, dentro e fora de campo, não são novidade no Brasil e no mundo do futebol. Porém, a partida não termina ali e entra em cena o ato 2.

O Vitória, com 9 jogadores em campo, perde Uillian Correia expulso por parar um contra-ataque e receber o segundo amarelo. 7 em campo contra 9 do Bahia – que havia tido dois jogadores do banco de reservas expulsos na confusão. A partir daquele momento, ocorre uma das cenas mais bizarras, indignas e estranhas do nosso bizarro, indigno e estranho futebol.

As câmeras de transmissão flagram uma conversa entre a comissão técnica, o treinador Vagner Mancini e Ramon, jogador, do Vitória. Mancini diz, “fala para o Bruno, pode tomar o segundo amarelo”. Antes que o jogo recomeçasse, Bruno chuta a bola para longe, forçando um cartão amarelo, que, somado ao um cartão previamente recebido, consagra sua expulsão. Fim de jogo por falta de jogadores.

A atitude do Vitória chama atenção porque, sabidamente, quando há 5 jogadores em campo expulsos por uma equipe, automaticamente, esta está eliminada da partida e o triunfo é transferido ao adversário. Mesmo assim, a equipe presou pelo antijogo em um dos maiores clássicos do Brasil, talvez do mundo.

Não fosse bizarrice suficiente, ainda havia espaço para mais um incidente absurdo, indignante e triste. O ato 3 ocorreu em Campo Grande, onde Comercial e Operário faziam o clássico sul-mato-grossense.

Nos minutos finais, com a vitória garantida ao Comercial, o gandula, contratado por esta equipe, provoca o jogador do Operário Jeferson Reis que, em um ato que mais parecia luta de gangue, UFC sem regras, algo selvagem, desfere socos na face do gandula, que cai. Jeferson, então, monta em cima do gandula e o espanca até seu rosto ficar ensanguentado.

3 atos que mostra a violência, falta de educação, falta de ética e moral e atrasos sociais típicos do nosso país. Jogadores sem educação básica, que vivem marginalizados, como no caso de Jeferson Reis, falta de respeito e violência, no Bavi, dentro e fora de campo, e anti-jogo, covardia premeditada por parte da diretoria rubro-negra. Diferentemente do que pode-se imaginar, não é um dia a ser esquecido; é um dia para ser lembrado todos os dias, para que tomemos estes exemplos e não o seguirmos.

José Eduardo

A conta vai chegar

Fred: R$10 milhões. David: R$10 mi. Mancuello: R$6 mi. Bruno Silva: R$4 mi. 30 milhões de reais apenas em contratações, fora os salários, como o de Fred, que girava em torno de 800 mil no Atlético-MG e não deverá sofrer reduções. O Cruzeiro investe o que não tem e a conta, um dia, chega.

As contas do clube celeste já andam mal desde os astronômicos investimentos para formar a equipe bicampeã brasileira 2013-14. À época, a medida mercantil do Clube não era vista como loucura, uma vez que as finanças eram saudáveis e as contratações visavam manter-se competitivo no mercado, uma vez que seu grande rival acabara de contratar Ronaldinho, Jô e, assim, formaria o grande plantel campeão da Libertadores 2013.

De lá para cá, o Cruzeiro conquistou os dois brasileiros e vendeu grande parte de sua equipe. Entretanto, o dinheiro recebido não foi capaz de cobrir o rombo nos cofres do clube. Júlio Baptista, que ganhava R$1 mi/mês, Willian, Tinga, Ceará e Borges foram algumas das contratações que saíram por menos do que o investido.

Nos anos seguintes, o Cruzeiro continuou agressivo, apesar das dificuldades em conseguir parceiros econômicos. A situação dentro de campo fez com que medidas drásticas fossem tomadas para evitar os rebaixamentos de 2015 e 2016. Enquanto isso, o rival brigava pelos títulos da Libertadores e do Campeonato Brasileiro.

Foi nesse período que vieram Rafael Sóbis, Ábila, Arrascaeta, La Torre, Caicedo, Riascos, Pisano e Denílson. Todos eles sem pagamento. O Cruzeiro, em bom português, deu calote nas outras equipes e, de acordo com matéria publicada no UOL, deve R$ 49,52 milhões.

Para completar a sinfonia, as eleições presidenciais do clube, no final do ano passado, colocaram a presidência anterior, de Gilvan de Pinho Tavares, em conflito com a nova, de Wagner Pires de Sá. Ou seja, os parceiros econômicos de Gilvan não são os mesmos de Wagner, ao mesmo tempo em que condições de contratos são revistos e a dívida só cresce.

É bem verdade que dever não é o problema. O problema, financeiramente, é não pagar por falta de fundos ou não haver margem para renegociação de dívida. Como disse o novo vice de futebol do Clube, Itair Machado, em mencionada reportagem, o pagamento não é prioridade.

Presidentes entram e saem dos clubes. Gilvan, por exemplo, será eternamente lembrado como o presidente que alcançou dois títulos brasileiros e um da Copa do Brasil pelo Cruzeiro, conquistas que jamais serão esquecidas e nunca, na história do Cruzeiro, foram obtidas por um mesmo presidente.

Entretanto, a irresponsabilidade financeira e a não continuidade dele no clube faz com que a dívida que ele acumulou passe para as presidências seguintes. Wagner está mantendo esta política. A conta, um dia chega. Provavelmente, não chegará enquanto Wagner estiver no governo. Mas o futuro, em 5, 6 anos, será difícil para o Cruzeiro. É o que acontece no Fluminense, hoje. É o que aconteceu no Flamengo no início da década passada. É o que acontece com Vasco e Botafogo.

José Eduardo

Tradição Sulamericana

Cruzeiro, Universidad de Chile, Racing e, possivelmente, Vasco. O grupo da morte é composto apenas por campeões continentais. Cruzeiro e Vasco disputaram final de campeonato brasileiro. Cruzeiro e Racing disputaram duas finais de Supercopa. La U e Vasco a semi da Sul-americana. O grupo dá a tônica da nova Libertadores.

Durante os últimos dois anos, a Libertadores da América vem tentando mudar sua cara. Apesar do amadorismo característico dos dirigentes da Conmebol, que resistem no poder após escândalos de corrupção, incontáveis casos de racismo nas partidas e violência exacerbada, parece que a Libertadores tomou um caminho acertado.

À primeira vista, desgostei e critiquei o novo formato: competição ao longo de todo o ano, com, pelo menos, sete vagas a times brasileiros (este número podendo crescer a nove), mesmo número de vagas a equipes argentinas.

Agora, com tantas equipes tradicionais, me vejo obrigado a concordar com a Conmebol. Palmeiras e Boca, Flamengo e River,, Santos e Estudiantes, Corinthians, Independiente e Atlético Nacional e Colo-Colo. Todos confrontos de campeões da Libertadores e tudo isso na primeira fase.

Se compararmos com o grupo do atual campeão, Grêmio, podemos ver que este sim é um grupo que ilustra a antiga Libertadores: um time venezuelano, um uruguaio, um paraguaio e um brasileiro. Entretanto, não por coincidência, foi este o considerado mais fácil grupo para os brasileiros.

A Libertadores ganha muito com confrontos entre grandes equipes. O inchaço de pequenos clubes venezuelanos, mexicanos, bolivianos e peruanos acabou por quase garantir os times brasileiros na segunda fase. Exceções feitas às campanhas do Flamengo e um ou outro desvio, como do Internacional, campeão em 2010, em 2011.

A intenção da Conmebol em deixar o calendário cheio durante todo o ano era se assemelhar com a Champions League. Entretanto, com a adesão de mais clubes argentinos e brasileiros, posso dizer que a primeira fase sul-americana é mais atrativa que a europeia.

Enquanto na Champions, há confrontos como Qarabag e Chelsea, Maribor e Spartak de Moscou, Real Madrid e Legia Varsóvia, na Libertadores, os clássicos dão a tônica. Esperemos que continue assim.

Que comece a Libertadores 2018!

Nova velha diretoria

Seis anos depois de sua saída da presidência do Cruzeiro, Zezé Perrella está de volta. Agora, como chefe máximo do Conselho Deliberativo do Clube. O Senador condenado por improbidade administrativa e acusado de diversas fraudes e crimes novamente dita as regras no futebol da equipe mineira.

A fotografia de posse é sintomática: Perrella ao centro enquanto o novo Presidente do Clube, Wagner Pires de Sá, se posta ao seu lado. As atenções são para ele. Zezé além de condenação por improbidade administrativa em 2013, responde por ter recebido R$1,3 milhões da Assembleia de Minas. Também em 2013, um helicóptero do filho de Zezé, Gustavo, foi encontrado com 445 kg de cocaína.

Ainda assim, o sobrenome Perrella dita as regras no Clube. As forças de oposição se desgastam por si só, com acusações e brigas entre o ex-Presidente, Gilvan de Pinho Tavares e o novo, Wagner de Sá. O que chama atenção é o fato de Wagner ter sido indicado por Gilvan e ter composto a chapa de situação. Ainda assim, grande parte da diretoria anterior não concordou com os rumos da nova diretoria, principalmente após indicação do Vice-Presidente de futebol, Itair Machado.

Itair, inclusive, também possui ficha corrida extensa. Fundador e ex-presidente do Ipatinga, ele responde por mais de 40 processos registrados na Justiça, dentre eles, tentativa de suborno para que atletas do Villa Nova entregassem uma partida ao clube do Vale do Aço, em 2008. Após vitória nas eleições, o ex-Vice-Presidente de Futebol, Bruno Vicintin, acusou Itair de tê-lo ameaçado de morte, registrando Boletim de Ocorrência.

Itair, não por coincidência, é muito próximo de Perrella. Durante a década passada, o Ipatinga se tornou uma verdadeira filial do Cruzeiro, com diversos jogadores emprestados pelo clube celeste, resultando em um campeonato mineiro ao Tigre e acesso à Série A de 2008.

Apesar de a chapa vencedora ter sido adversária da de Perrella na presidência do clube, na prática, Zezé saiu vencedor. O Conselho é seu. A presidência também. Os holofotes, principalmente. Derrota do Clube.

José Eduardo

Gama assina com pentacampeão Lúcio

Lúcio está de volta aos gramados brasilienses. Nascido em Planaltina, o zagueiro pentacampeão mundial com a Seleção Brasileira em 2002 jogará o Campeonato Brasiliense 2018 pelo Gama.

O anúncio da contratação foi feito pelo perfil oficial do clube alviverde e marca a volta aos gramados do zagueiro após quase dois anos de inatividade, após passagem pelo Goa FC, da Índa. Lúcio está com 39 anos e já passou por grandes clubes como Internacional, São Paulo, Palmeiras, Bayern de Munique, Bayer Leverkusen, além da Seleção.

O primeiro jogo do Gama no Campeonato Brasiliense será no dia 20 de janeiro, contra o recém-promovido Bolamense e o torneio contará com novidades. O Brasiliense adotou o Mané Garrincha como nova casa, as vagas para a Copa Verde serão distribuídas para terceiro e quarto colocados enquanto as vagas para a Série D e Copa do Brasil continuam destinadas ao campeão e ao vice.

 

Cadê o MBL no caso Robinho?

Após uma série de escândalos envolvendo o Movimento Brasil Livre (MBL) e seus políticos apadrinhados, o grupo mudou de foco, em 2017, e partiu para a moralidade civil. Entretanto, quando o assunto se torna sério demais, a ponto de um jogador ser  condenado por estupro, os jovens militantes dos bons costumes se calam.

A fim de desviar o foco da política, das tomadas de decisão absurdas de João Dória e casos de corrupção do seu principal apadrinhado, o Ilegítimo Temer, museus, teatros e palestras se tornaram os principais alvos do MBL.

Pensadoras feministas, artistas vítimas de abuso e performances nuas se tornaram apologia ao estupro, à indecência, à pedofilia, à imoralidade e um atentado ao pudor. Palavras vagas, carregadas de ódio contra quem usa a arte como expressão.

As medidas do MBL se mostram hipócritas quando traduzimos para a vida real o ódio que eles destilam. A omissão em casos concretos de violência contra a mulher contrastam com suas palavras.

Robinho, ex-jogador da Seleção, e atualmente no Atlético-MG foi condenado pela Justiça Italiana por estupro coletivo contra uma jovem albanesa. A moral deturpada dos militantes do MBL e seus seguidores condenam a mulher pelo ato, mesmo que não explicitamente.

A omissão de atitudes do grupo, bem como da direção do Clube Atlético Mineiro, revelam como a violência contra a mulher está tão intrínseca na sociedade a ponto de não haver revolta contra o jogador. Pelo contrário, ele é defendido ou mesmo o tema não é abordado. Não é mencionado por estes que agora se mostram defensores dos bons costumes.

A farsa envolvendo a militância da moralidade chega ao ponto de torcedoras do Galo serem criticadas por cobrarem atitude da diretoria do seu clube contra o jogador. Não é pelos bons costumes. É contra o pensamento. É contra a mulher.

A guerra que o MBL proclama se configura, como neste caso, não pela moral, mas a favor de que quem está no poder. A castração do pensamento livre, da arte, é mais uma faceta do fascismo, que está mais próximo a cada ato ou omissão de grupos influentes como este.