A nova face do (anti)jornalismo esportivo – ESPN Brasil III

Seguimos com a série de análises sobre o jornalismo esportivo nacional e, hoje, abordamos aspectos sobre a programação ao vivo da ESPN Brasil. Para este tópico, dividimos em duas partes, a ser complementada na próxima matéria da série. Iniciamos com os principais programas da grade horária.

Veja também as outras partes da análise I, II, III, IV e V

Programação ao vivo

Com a chegada da Fox Sports e o alto investimento da empresa americana Turner no grupo Esporte Interativo, a ESPN deixou de exercer o direito de transmissão de várias competições de futebol internacional. Campeonato alemão, espanhol e italiano foram divididos entre ESPN e Fox Sports enquanto a principal competição, Champions League, ficou exclusivamente com o Esporte Interativo.

As perdas de transmissões, principal combustível para manter a engrenagem da ESPN, motivaram a emissora a preencher sua grade com programas ao vivo. Ao todo, são três edições diárias do Bate-Bola, três edições do SportsCenter, duas do ESPN AGORA e uma do Futebol no Mundo.

Quanto aos programas semanais, são duas edições do Linha de Passe, podendo haver mais edições em condições especiais, como partidas da Seleção Brasileira, uma do Resenha e uma do Bola da Vez.

Cada edição dos programas conta com uma equipe fixa de jornalistas mais convidados. Portanto, mesmo sendo três edições do Bate-Bola, elas diferem de uma para outra, tanto pela linha editorial como por opiniões e trabalho dos jornalistas.

Com o excesso de programação ao vivo, seria inevitável não haver monotonia na grade horária. Aquele que acompanha o Bate-Bola pela manhã dificilmente assistirá às outras edições. Entretanto, a estratégia funciona para alcançar diferentes públicos em diferentes horários. Portanto, aquele que trabalha de manhã e à tarde pode acompanhar a edição noturna, e vice-versa.

Linha de Passe

A princípio, o excesso de programação ao vivo em nada influencia na qualidade dos programas. É possível fazer excelentes debates, matérias jornalísticas, documentários e investigações durante todo o dia sem perder a seriedade, correndo o risco apenas de repetir os tópicos.

É o caso do Linha de Passe. Com duas edições semanais, o programa repete o que fora abordado pelo canal durante a semana. O diferencial do Linha de Passe costumava ser a excepcionalidade dos jornalistas ali presentes.

Juca Kfouri, José Trajano e Mauro Cezar Pereira exerciam papel fundamental na manutenção do programa. Traziam denúncias, opiniões políticas, vivências no esporte. Criticavam aspectos do esporte pouco abordados ou ignorados por outras emissoras.

Hoje, fala-se muito do futebol dentro das quatro linhas, da vaidade de determinado jogador, da vida pessoal de outro, e pouco se fala dos aspectos político-sociais que o esporte proporciona. Juca Kfouri e Mauro Cezar permanecem em apenas uma das edições do programa. De resto, o Linha de Passe se tornou mais do mesmo, opiniões mundanas ao futebol que podem ser observadas aos montes nas outras emissoras.

Atualmente, cabe apenas a Juca questionar, mencionar e criticar o modelo político-social do país imerso em um caos moral. Sem Trajano, entretanto, suas críticas passam batido. A dupla Juca-Trajano debatia profundamente aspectos fundamentais tanto no esporte como fora dele, o que tornava o Linha de Passe único.

Bate-Bola Debate – Edição das 13h

Quanto à monotonia da grade horária da emissora, fosse este o maior problema, as críticas seriam mais brandas. Entretanto, o que ocorre especificamente no Bate-Bola no horário do almoço (BB Debate) é uma aberração jornalística; reduz a ESPN a algo que seus jornalistas sempre criticaram.

É nesta edição, outrora sério, com o comando de João Carlos Albuquerque e participações de PVC, Mauro Cezar Pereira e Lúcio de Castro, que podemos perceber as maiores mudanças na linha editorial da emissora.

Com corpo fixo de Bruno Vicari, Leonardo Bertozzi, Jorge Nicola e Alexandre Oliveira, o novo formato do Bate-Bola estreou em 2015. À época, Bertozzi participava de transmissões ao vivo, do Futebol no Mundo e do SportsCenter como substituto eventual de Amigão e Antero Greco.

Fluente em italiano, Bertozzi fazia um trabalho fenomenal de análises de partidas e bastidores do futebol da Bota, além de desempenhar bom trabalho de âncora dos telejornais. Bem-humorado, o mineiro trazia sua imparcialidade e domínio sobre o futebol de seu estado, agregando ao canal opiniões sobre dois grandes mercados: Itália e Minas Gerais. No BB Debate, virou só mais um.

O programa se voltou ao excesso de humor, com Alexandre Oliveira, Bruno Vicari, o “Ken Humano”, como Oliveira o apelidou, e nos conhecimentos de Jorge Nicola sobre os bastidores do futebol paulista.

À primeira vista, o programa poderia vingar. Oliveira estava no auge de seu reconhecimento, participando de transmissões bem-humoradas, e com bom conhecimento sobre categorias de base e fundamentos do futebol de salão. Nicola trazia seus contatos sobre bastidores enquanto Bertozzi opinava com propriedade sobre assuntos variados.

Entretanto, ao longo do tempo, o programa caiu na monotonia. Como mencionado, as diversas edições ao vivo e a falta de transmissões fizeram com que faltasse assunto relevante ao programa. Desta forma, o Bate-Bola abdicou do jornalismo investigativo e focou no humor de Oliveira.

“Decreto”, “Dona Encreca”, “Lei Gil” são algumas das contribuições diárias ao programa. O humor, antes inofensivo e pontual, rumou à insistência em piadas banais e ofensivas. A fala de Oliveira se direcionava exclusivamente ao tele-espectador homem, fugindo vertiginosamente do esporte.

Corriqueiramente, Oliveira mencionava sua ex-mulher como “Dona Encrenca”, esteriótipo de mulher louca e chata que importunou sua vida, estigma pelo qual as mulheres diariamente sofrem. Quando havia participação de um “Fã do Esporte” com foto de casal, ridicularizava o homem se submeter a mulher àquela forma.

A lei Gil também tinha o viés preconceituoso. Como disse o ex-jogador do Cruzeiro, comemorando título mineiro de 2006 em uma entrevista pós-jogo, ” (vale tudo) só não vale dar o cu”. E nessa insistência, Oliveira citava a “lei” quase diariamente. A mensagem era clara: “tele-espectador homem, não é permitido ser homossexual”.

Ambas as anedotas depreciativas podem passar batidas. Na primeira, na segunda vez, a piada talvez fosse relevada. Quando tornou-se diário o insulto, além de perder a graça, foi possível observar o quanto o esporte estava coadjuvante em um programa esportivo.

O humor, tão presente com Lúcio de Castro e Mauro Cezar, já não era inocente nem tinha ligação com o esporte. Ofendia e não contribuía para o senso crítico. Não havia jornalismo.

Concomitantemente, as informações de bastidores de Nicola também caíam por terra. Falsas especulações, contratações nunca efetivadas e brigas que jamais aconteceram. Hoje, Nicola é, inclusive, ridicularizado durante o programa por tantas informações desencontradas.

Alexandre Oliveira não teve seu contrato renovado e rumou ao Esporte Interativo, onde mantém seu humor. Há quem goste de seu personagem, mas é inegável a perda que o jornalismo esportivo sofre em sua esquete, uma vez que Oliveira ficou conhecido mais por suas piadas que pelas suas reportagens e opiniões.

Bertozzi, Vicari e Nicola permanecem no Bate-Bola, que mantém o formato, agora com presença de Celso Unzelte e Rômulo Mendonça. Apesar de bons jornalistas, não mudaram a linha editorial do programa.

É necessário perceber que mesmo com tais mudanças no quadro de jornalistas do Bate-Bola Debate, a linha seguiu-se a mesma: humor, especulações, comparações absurdas, lives no Instagram e poucas reportagens. A competência profissional dos participantes do programa não interferem na qualidade deste, uma vez que não há espaço para jornalismo ali.

Nas próximas edições da série, finalizamos a análise sobre a ESPN, falando sobre assuntos delicados como predileção quase exclusiva pelo eixo Rio-São Paulo, jornalistas competentes, mas sem espaço e comparações com a cobertura do futebol com a de outros esportes dentro da própria emissora. Também vamos analisar os pontos positivos que a ESPN ainda guarda e como eles podem ser utilizados com mais propriedade.

José Eduardo

A nova face do (anti)jornalismo esportivo – ESPN Brasil II

Continuamos nossa série analisando as novas formas de jornalismo esportivo no Brasil, e, hoje, aprofundamos um pouco mais na ESPN. Demissões, mudanças na grade, linha editorial, humor e pouca investigação.

Veja também as outras partes da análise I, II, III, IV e V

Demissões e saídas

A grande tônica da nova faceta da ESPN foi a troca de apresentadores e jornalistas, que representam a mudança na linha editorial. A primeira delas ocorreu em 2013, não sem justa causa.

Naquele ano, o jornalista Flávio Gomes, abertamente torcedor da Lusa, indignado com uma marcação de pênalti contra seu clube, a favor do Grêmio, reclamou em seu Twitter. Em tom ácido, como de costume, fez provocações fortes.

Entretanto, neste caso, Flávio proferiu insultos homofóbicos, comportamento inaceitável ao veículo: “Juiz vagabundo, timinho escroto desde 1903. São muito machos no Sul. Mas adoram dar a bunda”.

Flávio Gomes, hoje na Fox Sports, certamente se arrepende de suas palavras. Ele exerce papel fundamental na luta contra homofobia, racismo, transfobia e outros males tão presentes no futebol e atua como equilíbrio e bom senso no Fox Sports Rádio (a ser abordado no capítulo sobre a emissora).

Em 2014, uma mudança radical iniciou o processo de reformulação do canal até a chegada da linha editorial atual. Neste ano, a sucursal carioca focou exclusivamente em reportagens, principalmente de campo, excluindo de seu quadro as participações nos estúdios do Rio de Janeiro.

Foi assim que Márcio Guedes e Fernando Calazans, atuantes no Linha de Passe, e Lúcio de Castro, presente no Bate-Bola (BB) no horário do almoço, se despediram da programação. A princípio, não foram demitidos. Como disse Lúcio de Castro: “fui para a ESPN, teve umas mudanças e, um belo dia, me avisam, sem nenhuma explicação, que eu sairia do ar”.

A perda dos profissionais mudou bastante a cara do canal. Márcio Guedes e Calazans apresentavam um contra-ponto ao lado paulista da emissora. No Linha de Passe, programa à época semanal, contribuíam para aprofundar sobre os clubes cariocas com propriedade e vivência cotidiana sobre o Rio de Janeiro.

De fato, a emissora nunca foi exemplo de abrangência de temas. Como cruzeirense que sou, sempre senti muita falta de abordarem sobre os times de Minas, quanto mais do Nordeste, Norte, Centro-Oeste e Sul do país. Mesmo assim, Guedes e Calazans faziam com que o Linha de Passe saísse da monotonia paulista – mais precisamente sobre o trio paulistano (Corinthians, Palmeiras e São Paulo, nesta ordem).

Lúcio exercia papel fundamental no Bate-Bola. Programa diário, o BB, abordava temas mais abrangentes que o Linha de Passe. Não por coincidência, Mauro Cezar Pereira, niteroiense vivendo em São Paulo, ajudava na diversidade do programa.

O programa conseguia harmonizar investigação de denúncia com humor. Conhecido como “jornalismo mal-humorado e pessimista”, o programa incluía severas críticas à escolha do Brasil como sede da Copa do Mundo 2014 e Jogos Olímpicos 2016.

Apresentando denúncias, superfaturamentos, oba-oba nas concentrações dos atletas, corrupção por parte de CBF, COB e governos estaduais e federal, os jornalistas do Bate-Bola abordavam o que outras emissoras não o faziam com propriedade. Exemplo disso foram as matérias sobre corrupção envolvendo o ex-presidente da Confederação Brasileira de Vôlei, Ary Graça.

Ademais, notável era a qualidade do programa, que contava com PVC nas estatísticas e curiosidades, e o bom-humor da dupla carioca e o apresentador João “Canalha” Albuquerque. Como não se lembrar da apresentação de Waldemar Lemos, como treinador do Flamengo?

Em seguida, foi a vez de PVC dizer adeus à ESPN. Com a inauguração da Fox Sports, o gênio das estatísticas se foi da emissora, em busca de novos desafios. Deixando órfãos os fãs do Bate-Bola clássico, Lúcio e PVC seguiram sua carreira enquanto o programa mudou de equipe e horários.

O BB passou por várias reformulações até a chegada do formato atual: três edições, uma de manhã tratando de temas nacionais, de norte a sul; um noturno, com os principais jornalistas da casa, com apresentação de Canalha e participações de Mauro Cezar; e o tradicional no horário do almoço, que preza pelo humor, a ser destrinchado na próxima matéria da série.

Por fim, chegamos ao biênio 2016-17. Foi neste período que a ESPN finalizou seu processo de mudança editorial, com demissões dos principais jornalistas, com mais tempo de casa, e que mostraram o rompimento entre política e futebol, principal ferramenta da emissora.

O primeiro a se despedir foi José Trajano. Fundador do canal no Brasil, Trajano estava há 17 anos na ESPN e participava semanalmente do Linha de Passe. Com os acontecimentos políticos no Brasil, não se sentia à vontade em se manter calado em rede nacional sobre o cenário nacional político e social. Desta forma, fora demitido.

Sem explicações, como afirmou Trajano, fora mandado embora de sua emissora acreditando ter sofrido por abordar política em seu programa. Após sua demissão, também se foram Helvídio Mattos e Roberto Salim, brilhantes jornalistas por trás de Histórias do Esporte e Caravana do Esporte, que apresentavam o lado social e não profissional do esporte.

Por fim, foi-se embora o último suspiro de mudança na ESPN. Idealizador do Resenha, vencedor de melhor programa esportivo em 2016 e 2017, pelos próprios jogadores, Juan Pablo Sorín deixou o canal sem ter seu contrato renovado. Apesar de haver aqueles que não se cativavam pelo argentino, é inegável sua importância no canal. Seria possível retirá-lo do comando do programa e enquadrá-lo como convidado, ou mesmo deixá-lo nos bastidores e produção, mas a emissora preferiu demiti-lo.

Sem espaço crítico, sem conteúdo fora das quatro linhas, sem denúncias e investigação, restou à ESPN mais do mesmo. Humor, jornalismo raso, discussão apenas sobre o que ocorre nas quatro linhas e entrevistas pontuais. Como disse Trajano, “O que plantamos (na ESPN) está sendo destruído”. Quem perde é o “Fã de Esportes”.

Na próxima reportagem, encerramos a análise sobre a ESPN e começamos a focar em outras emissoras. Fique ligado!

José Eduardo

A nova face do (anti)jornalismo esportivo – ESPN Brasil

Começamos uma série de reportagens que buscam analisar os grandes veículos de comunicação esportiva no país e como as grandes mídias estão se reinventando para manter a audiência em detrimento da qualidade da informação. Nesta edição, iniciamos a primeira parte da análise sobre a ESPN Brasil.

Veja também as outras partes da análise I, II, III, IV e V

Com a chegada da internet, a era da informação e do jornalismo vive uma crise, especialmente nos meios mais tradicionais. Jornais impressos e telejornais perderam espaço para a dinamicidade dos meios digitais e precisaram se reinventar. Mas a que ponto o jornalismo se torna um espetáculo de anti-informação?

O caso mais notável da mudança pela qual passa o jornalismo é a ESPN Brasil. Anteriormente ligada às grandes denúncias e investigações que levaram o veículo a conquistar a fama de “mal-humorado” por tocar em assuntos sensíveis, a ESPN mudou sua linha editorial e um de seus principais programas, o Bate-Bola, transmitido à hora do almoço, tornou-se um verdadeiro circo.

A primeira ação que demonstra a mudança de linha editorial da empresa foi o afastamento de um dos mais competentes jornalistas investigativos, Lúcio de Castro, e o cancelamento das participações do Rio de Janeiro, tanto nos Bate-Bola, também contando com Fábio Azevedo, como no Linha de Passe, com Fernando Calazans e Márcio Guedes.

As mudanças, à primeira vista, não surtiram muito efeito. Perderam-se os jornalistas, mas manteve-se o caráter bem humorado, porém sério do canal. Entretanto, as mudanças a seguir transformaram o respeitado canal em apenas mais um. Com programas que prezavam mais pelo humor e menos por investigação e denúncia.

Foi assim que um dos mais consagrados jornalistas, pai do canal, José Trajano, se foi, claramente por expor suas opiniões políticas. O canal se afastava do diferencial perante as outras emissoras: poder ter opiniões além do esporte.

Com essas mudanças, o canal iniciou uma reformulação na grade horária e o Bate-Bola no horário do almoço passou a contar com Bruno Viccari, Jorge Nicola e Alexandre Oliveira. O que se viu foi um mar de piadas, informações desencontradas e o fim das denúncias e investigações, como podemos ver a seguir.

Sóbis

Na imagem, Jorge Nicola apresenta mais uma de suas “informações de bastidores” que se provam falsas, puro “achismo”. O próprio jogador desconhece a especulação. A publicação, de duas semanas atrás, até hoje não surtiu efeito e Sóbis continua firme no Cruzeiro, entrando de titular em duas das três partidas posteriores à publicação.

A própria imagem de capa mostra o novo programa: fantasias, piadas e falta de seriedade. Lives no Instagram, broncas da direção por excesso de piadas, matérias sem pé nem cabeça, como comparar Flamengo, Corinthians a Real Madrid, tudo pela audiência.

Hoje, Trajano iniciou um canal no youtube com um programa de verdadeiro jornalismo esportivo, o Ultrajano, enquanto Lúcio de Castro mantém sua Agência Sportlight que continua trazendo excelentes reportagens investigativas, enquanto a ESPN prefere humor.

No próximo texto, continuamos destrinchando as mudanças da ESPN Brasil, aprofundando em cada tema aqui citado.

José Eduardo

A Semana do Preconceito

Semana de clássicos estaduais se aproximando, ingresso na mão, expectativa alta e… BICHA! PUTA! Assim podemos resumir o que foram os dias 8/03, Dia Internacional da Mulher, e 11/03 de 2018 no futebol.

Primeiramente, no clássico paulista, Palmeiras e São Paulo se enfrentavam no Allianz Parque. Nada de novo, bicha pra cá, Bambi pra lá. O que surpreendeu foi a atitude de William de Lucca e, principalmente, a repercussão dela.

William, homossexual e palmeirense, não necessariamente nesta ordem, estava na arquibancada palestrina quando, novamente, se depara com xingamentos homofóbicos ao rival. Indignado, provoca no Twitter, dizendo que também há viados palmeirenses, como ele.

O que se viu após isto foi uma enxurrada de matérias nos principais veículos nacionais e tão logo iniciou-se o ritual odioso da internet. William foi atacado de diversas formas, inclusive em uma matéria deplorável de Cosme Rímoli, da Record, que em uma tentativa de confrontar material jornalístico da Globo, “desmascarou” William com xingamentos homofóbicos por parte deste em sua conta no Twitter.

Só esqueceu de um detalhe, as publicações de William foram em 2010. 8 anos se passaram, o palestrino amadureceu e entrou na causa LGBT, lutando exatamente contra o que pronunciara.

Por fim, no domingo, Grenal no Beira-Rio. Primeiro, uma repórter é chamada de puta por um colorado por aparentemente ser gremista. A repórter saca seu celular e filma o agressor, pedindo para ele repetir o xingamento. Eis que o troglodita a agride fisicamente.

Ainda neste jogo, um grupo de mulheres, gremistas, que assistiam ao clássico em camarote no estádio são surpreendidas por um homem que, por mais de um minuto, as provoca com simulações de sexo oral.

Na semana do Dia Internacional da Mulher, casos de violência, abuso, desrespeito ocorrem contra elas. A internet busca defender os homens e os clubes ao passo que as discussões se tornam coadjuvantes do clubismo.

Os comportamentos se repetem torcida a torcida. Não se trata de clube, se trata de cidadãos. Seguimos imbecis.

José Eduardo

Grita, torcedora : MANIFESTO Não! Hoje, nós não aceitamos seu “Feliz Dia da Mulher”.

Não acreditamos que suas felicitações em um dia do ano sejam suficientes para que esqueçamos todos os outros dias em que foram propagados seu machismo. 
Compartilhar imagens de homenagens, dar flores, dizer palavras bonitas e, é claro, o mais simples “Feliz Dia da Mulher”. Nós não aceitamos. Nós queremos ser respeitadas, vistas como iguais e competentes.

Não aceitamos seu “Feliz Dia da Mulher’, se no resto do ano você diz barbaridades como “Lugar de mulher é na cozinha”, “Mulher dirigindo? Perigoso, ein” e, é claro, “Com esse shortinho, tava pedindo…”.
Nós não queremos que você não fale, queremos que você nem pense.

Somos iguais a vocês.

Temos sonhos, vontades, angústias.

Então, porque não podemos almejar um cargo incrível de Direção de Arte numa agência mega conceituada? Sabia que esse cargo provavelmente vai ser preenchido por um de vocês? Em 2016, uma pesquisa mostrou que as mulheres são apenas 20% da criação dentro das agências publicitárias.
Por acaso, você já viu quantas meninas entram por semestre na Comunicação?
Nós não somos menos capazes, nem menos inteligentes.

Nosso maior “erro”? Ser mulher.

Do que adiantam suas palavras no dia de hoje se nos outros você assobia para mulheres na rua? Se você fala pro seu amigo sobre a roupa que a coleguinha está usando na aula e a transforma em objeto ali mesmo, só pelo que ela está vestindo?

Não aceitamos sua rosa se você pensa que uma mulher não pode jogar futebol melhor que você. De maneira alguma, queremos que você diga essas 4 palavras se no jogo online você xinga ao ver que o usuário tem nome de mulher.

Hoje, 8 de março de 2018, nós não queremos seu “Feliz Dia da Mulher”. Hoje, queremos ter mais espaço no ambiente acadêmico (Quantas autoras têm na sua bibliografia?), mais espaço no mercado de trabalho, principalmente nos cargos tão sonhados, e, com certeza, queremos o que vocês, homens, têm: RESPEITO.

Autoras e subscreventes : Mulheres da Atlética de Comunicação Hermética da Universidade de Brasília

 

Agressividade recompensada

Neste mesmo blog, escrevi sobre os gastos elevados, irresponsáveis e ousados da nova gestão do Cruzeiro Esporte Clube. Hoje, venho falar dos acertos imensos e inéditos na história do clube por parte desta mesma gestão.

Ainda que os gastos estejam elevados o suficiente para endividar o Clube a curto prazo, a ousadia e agressividade do financeiro e do marketing do clube deram resultado. A torcida comprou a briga, vem lotando o estádio jogo após jogo e promete não abandonar a equipe tão cedo.

O primeiro acerto da nova gestão foi abaixar o preço do ingresso no campeonato mineiro. O torneio, esquecido e deixado de lado pelos maiores clubes do estado, dificilmente gerava bons públicos e grandes lucros quando não havia clássico. Neste ano, tanto Cruzeiro quanto Atlético diminuíram lucro e as médias de público aumentaram.

Apenas nos dois primeiros jogos do ano, frente a Tupi e Uberlândia, o Cruzeiro superou todo o público do clube no mineiro do ano passado contra clubes de fora de BH. Ao todo, foram 5 jogos como mandante nesta temporada, com média de 22.372 pagantes e quase 2 milhões de renda acumulada.

Apesar de a média de renda ainda estar abaixo daquela do ano passado, ainda falta a fase final, com quartas, semi e final neste ano e quando o público e renda tendem a aumentar ainda mais. Até o momento, a renda media é de R$397 mil frente a R$534 mil no ano passado.

É importante perceber que, diferentemente do ano passado, estamos na Libertadores e o reflexo do estádio cheio no Mineiro fez com que o público se interessasse ainda mais a ir aos jogos do torneio continental.

Em mais um acerto da direção, os ingressos para a primeira fase da Libertadores já estão sendo comercializados por pacote das 3 partidas o que elevou o número de sócios em mais de dez mil nos dois primeiros meses deste ano. Até agora, mais de 12 mil pacotes, com preços entre 120 e 486 reais, foram comercializados, garantido entre 1,4 a 5,8 milhões de reais aos cofres celestes.

Por fim, o marketing criou as novas identidades visuais de La Bestia Negra e promete vender os produtos com a marca que ilustra a força do Cruzeiro na América.

De fato, a agressividade econômica foi irresponsável. Os gastos não necessitavam ser tão altos. Entretanto, o clube soube trazer a torcida para o seu lado e parece que a economia celeste se ajustará conforme o crescimento da marca do Clube.

Em que mundo estamos?

O clássico entre Corinthians e Palmeiras, válido pelo campeonato paulista, no Itaquerão no dia 24/02 contou mais uma vez com algumas polêmicas. Apesar de dois pênaltis marcados para o Timão e a expulsão de Jaílson no primeiro deles, o maior debate pós-clássico foi sobre Jaílson e sua família. Maria Antônia e Laura, mãe e irmã de Jaílson, respectivamente, foram ao estádio apoiar seu time do coração. O debate se deu por causa do fato de elas torcerem para um grande rival do alviverde paulista.

Tudo começou com uma excelente reportagem feita pelo repórter da Globo Marco Aurélio de Souza sobre a reação da mãe do goleiro ao clássico. Quando começou a semana após o jogo, conselheiros palmeirenses insistiram em alguma punição ao goleiro, assim como alguns torcedores.

Fica aqui minha congratulação a Maurício Galiotte, atual presidente do Verdão, que garantiu não haver punição ao jogador e ainda defendeu o excelente atleta que ele é. Sobre os famosos conselheiros, resta-me apenas tristeza por acharem que o atleta deve ser punido por uma ação de sua mãe, percebendo ainda que, mesmo que sua mãe tivesse que ser julgada, não teria como avaliar a atitude como certa ou errada, pois o mundo não é feito de certos e errados. Parece, ás vezes, que a função dos conselheiros de time de futebol é causar polêmica e intriga dentro dos clubes.

Sobre a divulgação midiática do fato, é um grande exemplo de como é possível viver em paz no futebol. Pessoas que convivem diariamente se respeitando, apesar de torcerem para times rivais, é algo raro no cotidiano brasileiro. Cenas de violência são muito mais comuns nos estádios e na sociedade brasileira do que essas maravilhosas cenas de respeito. Mesmo assim, é triste ver esse tipo de discussão causada pelo ato dos conselheiros no cenário midiático. A situação deveria não ser comentada por ser algo completamente comum e rotineiro, o que não acontece no Brasil atualmente. Não é uma crítica à imprensa, mas sim a algo maior, que é a comunidade brasileira.

Fica a esperança de que, um dia, o que acontece dentro do campo tenha mais importância e visibilidade do que acontece fora dele. Sendo assim, aquela famosa frase “o futebol tá ficando chato” vai fazendo algum sentido, apesar de seus diversos usos errôneos.

 

Lucas de Moraes