A nova face do (anti)jornalismo esportivo – FOX Sports

Após nossa série de reportagens sobre a ESPN Brasil (partes I, II, III, IV e V), iniciamos a série de análises sobre outra emissora concorrente, a FOX Sports.

A FOX Sports, filial da emissora norte-americana de mesmo nome, iniciou as atividades no Brasil em 2012. À época, houve grande expectativa por parte dos espectadores, uma vez que o canal adquirira os direitos de transmissão da Libertadores.

A Rede Globo, em represália, dificultava o acesso do canal às redes de televisão a cabo, como NET e SKY. A expectativa sobre o canal aumentava à medida que jornalistas de outras emissoras eram contratados, especialmente os renegados. Era o caso de Renato Maurício Prado, José Ilan, Flávio Gomes, Mauro Beting, Marco De Vargas, João Guilherme, Victorino Chermont, PVC, entre outros.

A promessa de um canal semelhante à ESPN, trazendo programas de debate e direitos de transmissão de diversos torneios internacionais parecia agradar o espectador. Com o tempo, entretanto, os mesmos problemas mencionados acerca da ESPN tomaram conta do canal.

FOX Sports Rádio

Comecemos com o canal concorrente do Bate-Bola Debate, da ESPN, o FOX Sports Rádio é transmitido na hora do almoço e conta com uma linha editorial tão problemática quanto o Bate-Bola – ou talvez mais.

Com apresentação de Benjamin Back e quatro jornalistas na bancada, o programa promete debater os principais temas do futebol com descontração e seriedade. Na prática, o programa é um show de horrores. Gritaria, discussões pessoais, piadas preconceituosas, exageradas, pouca informação e muita opinião rasa.

Não raro ocorrem espetáculos grotescos de discursos preconceituosos. Recentemente, há dois casos que ficaram marcados no imaginário esportivo. O primeiro ocorreu com protagonismo do convidado Edilson Capetinha.

Na ocasião (confira o vídeo), o ex-jogador dizia não confiar no goleiro do Palmeiras, Jaílson, pelo fato de ser negro. De acordo com ele, goleiros negros são “frangueiros” e, quando perguntado sobre Dida, ele amenizava a cor do ex-arqueiro da Seleção.

A bancada de jornalistas se dividiu. Maurício Borges, o Mano, e Osvaldo Pascoal defendem o goleiro com argumentos futebolísticos. O restante da mesa se acaba em gargalhadas. Não há discussão sobre o racismo proliferado pelo jogador.

Outro caso recente ocorreu com Felippe Fracincani. Na discussão acerca de Júlio César, goleiro do Flamengo por ele ter saído do Benfica, de Portugal, e se mudado para o Rio de Janeiro para defender o Rubro-Negro, sem aviso à família.

Na ocasião, sua esposa Susana Werner expôs a situação em sua rede social e foi duramente criticada pelo jornalista da FOX Sports. A discussão que girava em torno da decisão de Júlio Cesar subitamente se votou a de Susana de expor a vida do casal.

Flávio Gomes, nesse caso, não ouviu as críticas sem que discutisse com o jornalista, uma vez que ele sentenciou a decisão de Werner como mais grave que de Júlio César. Gomes entendeu como atitude machista de Fracincani de absolver o erro do homem para criticar a esposa.

Este tipo de comportamento é corriqueiro no programa. Homofobia, machismo, falta de jornalismo e excesso de brincadeiras e “zoações”. Veja este vídeo, transmitido no programa e no próprio site da emissora, e perceba os xingamentos “rosinha”, “ela”, em clara manifestação depreciativa do universo feminino.

O preconceito não é exclusivo dos integrantes do FOX Sports Rádio. José Ilan, por duas vezes, se mostrou partidário do desrespeito. Em 2015, no programa Central FOX, Ilan foi flagrado xingando a equipe ao vivo após uma matéria chamada pela âncora Marina Ferrari não ir ao ar.

No final de 2017, Ilan novamente atacou, desta vez em sua rede social, com preconceito. À época, foi encontrada uma lata de Coca-Cola com um rato em seu interior. No período, havia uma campanha do refrigerante estampando Pabllo Vittar em sua marca. Ilan postou, então, uma foto de uma lata com a imagem da cantora e os dizeres “saudades Coca com rato”.

A atitude repugnante vai além do aspecto musical de Vittar. Entra no espectro homo/transfóbico uma vez que Pabllo é homossexual e se apresenta como drag queen e vem recebendo críticas tão somente por sua orientação sexual e forma de se caracterizar.

Caça-cliques

Outro aspecto criticável da emissora é referente a suas mídias sociais. Principalmente no Twitter, a conta da FOX Sports veicula manchetes sensacionalistas, exageradas e incompletas a fim de que o internauta acesse o site da emissora. Muitas das vezes, o jogo de palavras engana o  espectador que, ao entrar na matéria, percebe que foi enganado. Veja o caso abaixo:

Talisca

Página O Anti-Clique, especialista em buscar chamadas caça-clique, ironiza chamada de FOX Sports.

A chamada é típica caça-cliques. Ao ler o título, imagina-se que Talisca mudará de equipe, uma vez que determinado clube europeu “gastará bolada” para comprá-lo. Ao entrarmos na matéria, percebemos que o clube em que joga – Besiktas – exerceu poder de compra do jogador, que permanecerá na Turquia.

É bem verdade que em momento algum houve mentira e falta de informação na chamada. Entretanto, a forma como é escrita dá a entender que o fato é outro. O Anti-Clique, inclusive, foi bloqueado da conta oficial do FOX Sports a fim de este tentar impedir o trabalho da equipe dO Anti-Clique.

Pontos Positivos

Apesar da falta de jornalismo e excesso de mercantilismo, há pontos positivos no canal. A equipe de setoristas é extensa e cobre com precisão e afinco clubes pelo Brasil, principalmente aqueles que disputam competições sul-americanas, cuja emissora detém os direitos de transmissão.

Outro ponto positivo é a cobertura dos esportes automotores. Os programas Nitro e a equipe de transmissão da Nascar, Weathertech e Fórmula E é muito bem preparada e entende bastante do esporte.

A transmissão de jogos brasileiros na Libertadores também merece destaque. A parcialidade declarada para as equipes brasileiras frente aos estrangeiros é moderada, bem feita e respeitosa, de forma que o torcedor nacional se sente acolhido pela transmissão.

Por fim, destaco Flávio Gomes. Apesar de ser mais um personagem no Fox Sports Rádio, Flávio faz trabalho de combate a discriminações no programa, por mais que falte efetivo jornalismo em seu programa. Em sua conta de Twitter e no Grande Prêmio, sua luta contra a discriminação é mais forte, bem como seu trabalho jornalístico, o que dá a entender que a linha editorial do programa o impede de ser mais profissional.

José Eduardo

Uma resposta para “A nova face do (anti)jornalismo esportivo – FOX Sports”

  1. Tonho diz :

    Ótimo texto!

    Curtir

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logotipo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Google

Você está comentando utilizando sua conta Google. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

%d blogueiros gostam disto: